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O dono da bola

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Alex Medeiros 
A seleção brasileira só repetiria o fiasco da Copa de 1966, na Inglaterra, quarenta anos depois, 2016, na Alemanha. Em outubro de 1967, o cartola Paulo Machado de Carvalho, chamado de “marechal da vitória” em 1958, elegeu um culpado na pífia campanha em gramados britânicos: Gérson. Meia esquerda do Botafogo, oriundo do Flamengo, o jogador quanto mais tratava bem a bola, mais era maltratado por dirigentes, imprensa e até os árbitros. Nos anos 1960, apesar de já ser um dos nossos gênios, Gérson era considerado um mau-caráter para alguns.
Paulo Machado apelou na mídia para que o craque fosse barrado na copa seguinte, a do México, em 1970. “Ele levará ao escrete nacional os problemas disciplinares que cria no seu clube”, decretou o fundador da Rádio Record e chefão da CBD, atual CBF. Ainda bem que não foi assim. Gérson foi o maestro da mais brilhante conquista do futebol brasileiro, fez uma exibição de gala, comandou as “feras” como um capitão sem braçadeira. Foi o dono da bola na vitória do tricampeonato mundial.
Jamais haverá um líder, uma referência, um meia como ele. O apelido “Canhotinha de Ouro” caiu bem, posto que ao resto ficam a prata ou o bronze. Gérson nasceu com um chip no pé esquerdo, um programa matemático para precisar seus passes.
As imagens da sua participação nos jogos do Brasil em 1970 ou do campeonato carioca colhidas pelo Canal 100, impressionam. Fazia lançamentos de 50 metros no pé de Jairzinho ou no peito de Pelé. Calculados num olhar e no apontar da mão direita.
O segundo gol do Brasil na virada sobre a Tchecoslováquia foi graças à genialidade do maestro. Gérson iniciara a copa ainda se recuperando de uma contusão, a perna direita doía, ao ponto de ser substituído no segundo tempo por Paulo Cezar Caju.
A bola sobrou na intermediária e ele viu Pelé avançar. Ao apoiar o corpo na perna doente, sofreu sozinho a dor lancinante, num tempo necessário para mandar a bola no peito do rei, entre os zagueiros. Na comemoração, ninguém viu a lágrima rolar no seu rosto.
Só quem não conhecia o canhota de perto o imaginava um mau-caráter. Em casa, perto da mulher e filhos era uma profusão de sentimentalismo e chorava por tudo. Quando trocou o Flamengo pelo Botafogo, foi acusado de mercenarismo e amor ao dinheiro.
Foi seu pai quem correu à imprensa e desmascarou os verdadeiros sem caráter. Um cartola do Flamengo, Fadel, armando a venda do craque para o Bolonha, provocou um clima de animosidade entre o jogador e o clube. Dizia que Gérson fazia exigências.
Nunca fez. Sabia administrar a grana que ganhava com a ajuda do pai e tios, e jamais pensou em trocar o futebol brasileiro pelo italiano. Um terrível medo de viajar de avião também contribuiu bastante. Sem clima no Mengo, foi para o Fogão.
Atingiu o auge da sua carreira no time da estrela solitária, onde conquistou liderança e muitos amigos. Sem arrogância, apesar de falastrão, foi sempre um líder no campo ou na concentração e era um exímio piadista e inventor de apelidos para os colegas.
Para muitos torcedores e jornalistas que viveram o futebol nas décadas de 60 e 70, ele foi o mais representativo craque do que se chamou “futebol arte”. Gérson é hoje para aquele ritmo e estilo de jogo o que Tom Jobim foi para a Bossa Nova.
Quando iniciou a carreira, em 1959, tinha uma cabeleira densa sempre tratada com brilhantina Coty, que abandonou depois com o avanço da careca. Ganhou um estigma, por causa de uma propaganda de cigarro, que só alimentou as más línguas.
Os cigarros Vila Rica, que ele jamais experimentou, tinham o slogan “leve vantagem em tudo”, e que logo se transformou na essência do famigerado “jeitinho brasileiro”. Que para piorar, foi adaptado no popular como “A Lei de Gérson”.
Mas a verdadeira lei do craque foi motivo de uma charge de Henfil, o gênio do humor nacional. O personagem Zeferino acusa o técnico Zagallo de não se impor na seleção, onde Pelé (de acordo com boatos) era quem escalava o time.
Zagallo explode. Acha uma calúnia. Chama o Rei e pede para que responda diante do Zeferino: “Quem escala o time é você?”. Pelé grita: “Mentira da imprensa! Não sou eu quem escala. Eu dito apenas a tática. Quem escala mesmo é o Gérson!”.
Ontem, Gerson de Oliveira Nunes fez 82 anos. A crônica para o mestre, com carinho.
Agora, sim?
“A maioria das mortes por covid-19, acima de 75%, aconteceu com pessoas que tinham pelo menos quatro comorbidades”. Aspas de Rochelle Walensky, a maior autoridade da saúde no governo do presidente dos EUA, Joe Biden.
Pânico
O neuromilitante virou sniper do terror em nome dos que querem parar de novo a economia. E já prognosticou um surto de coronavírus depois do carnaval, coisa que não fez em relação ao revéillon e não fará também com a eleição.
Gripe
As autoridades sanitárias da Espanha estão concluindo um planejamento para tratar a pandemia de Covid como uma gripe comum, com plantão permanente igual ao que já existe em relação a todas as doenças de origem respiratória.
Previdência 
Quem diria? O melhor sistema de aposentadoria do mundo, o da Islândia, segue modelo igual ao brasileiro criado na Constituição de 1988. O pequeno país tem hoje nos cofres da previdência recursos da ordem de US$ 50 bilhões.
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A ironia com bom humor fino da advogada e jornalista gaúcha Flávia Ferronato no seu perfil do Twitter e na audiência da Rádio Guaíba: “A Suprema Corte da Espanha decidiu que pagar dívida com sexo oral é legal. Vocês que lutem!”.
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