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O dono da palavra

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Diógenes da Cunha Lima
Escritor e Presidente da ANL
O escritor Manoel Onofre Júnior é um observador das harmonias populares e um pesquisador. Percebe nuances dos costumes nordestinos e da permanência neles do humano universal. Em Martins, sua cidade do coração, e nas seis outras cidades em que exerceu a função de juiz de Direito, incorporou muito de pessoas singulares e da sabedoria popular.

A sua curiosidade intelectual levou-o a renunciar à nobre função de desembargador para dedicar-se, exclusivamente,à literatura. A renúncia possibilitou escrever e publicar dezenas de livros, sobre variados temas, de contos a antologias. O seu estilo é leve, agradável, claro como o dia, descontraído. Sinto-me bem e relaxado lendo um trabalho seu.

Berilo Wanderley testemunhou: “De pequenos fatos cria o flagrante do cotidiano perdido no tempo”. Seguindo a esteira de Câmara Cascudo, constrói expressivos perfis de pessoas conhecidas e de outras que vão de sua morte libertando. É assim que revisitamos a vivência de pessoas especiais, de hábitos esquecidos, da essencialidade das miudezas gloriosas.

Dono da palavra,não se limita a gênero literário. Escreve o que vê, aprende, apreende no seu dia a dia. E vai construindo um saber de experiência feito.

O pesquisador descobre e dá nova função ao nosso vocabulário ancestral. Seleciono, no “Chão dos Simples”, expressões gostosas de lembrar: “Quando deu fé; à boca da noite; o cão em figura de gente”. E logo mais: “Avie com isso; vivia socado em casa; não sabe a fogueira que pulou; engraçou-se de uma moça; se abanque…”

Diretor da Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, faz trabalho admirável juntamente com outro escritor e pesquisador, Thiago Gonzaga. É a única revista dasAcademias do Brasil com rigorosa circulação trimestral. Sempre aprimorada em qualidade substancial e gráfica.

Manoel Onofre vive a fazer surpresas. Recentemente, publicou, no jornal “De Fato” de Mossoró, curiosidades da vida literária. São muitas. Uma delas absolutamente desconhecida dos estudiosos cascudianos. Foi entrevistar Câmara Cascudo que lhe disse ter acabado de escrever um livro – Motivo de Espanha – sobre a presença espanhola na vida cultural do Brasil. O então repórter constata: “Este livro não foi publicado, que fim levou?”

Lembro apenas que o Mestre mandou-me estudar o domínio legislativo da Espanha no Brasil, das Ordenações até o Código Civil de 1916.

Anotou que o poema de Zila,“O Galo do Convento Santo Antônio”, sofreu censura do regime militar porque era dedicado ao prefeito Djalma Maranhão. Zila recusou a publicação mutilada. Registro importante é o do símbolo adotado,pelo referido prefeito, para a cidade do Natal, por sugestão de Câmara Cascudo: o galo de bronze do convento.

Manoel Onofre não perde o seu lirismo sentimental, mesmo quando faz crítica. Porém a exaltação dos seus sentimentos dá-se, sobretudo, quando exerce a função memorialista.

O dono da palavra exerce o seu ofício de escritor vigente, ágil, preciso, indispensável.

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