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“O eleitor está mais pragmático”

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Por Anna Ruth Dantas

Os candidatos devem trabalhar um discurso macro, mas propor projetos segmentados para cada público. A dica é passada pela diretora de Planejamento do Ibope, Sílvia Penteado Cervellini. Ela analisa que a estratégia de enfocar a segmentação de voto não pode ficar restrita apenas a divisão por religião ou idade do eleitor. "O eleitor é um monte de coisa ao mesmo tempo. Ele é mulher, é católico, é negro, de classe baixa", destaca. Para Sílvia Cervellini não há uma influência direta da pesquisa com o eleitor, mas o estudo é mais um item a ser considerado na hora do voto. Aos que acreditam no voto "maria vai com as outras", a diretora do Ibope diz que se isso fosse verdade "nós só faríamos um voto e pronto".  Com a autoridade de quem dirige o principal instituto de pesquisa do país, Sílvia Cellini é a convidada de 3 por 4.

Qual a influência da pesquisa no voto do eleitor?
A pesquisa funciona como mais uma fonte de informação. Na verdade, a influência é difícil de ser medida. A pesquisa aparece no contexto de televisão, a própria campanha de televisão e rádio, fatos políticos, depoimentos de comunicadores que fala de um candidato ou de outro. Ela (a pesquisa) é mais um dado que o eleitor leva em conta na hora de decidir seu voto. Já fizeram vários estudos, mas não dá para você dizer que é só em uma direção. Há quem fale que o eleitor sempre vota em quem está ganhando e também quem fala que ele sempre vota em quem está perdendo. Tem as mais variadas opiniões, inclusive aquelas que votam em quem está perdendo para marcar posição. Na verdade, não existe aquela “Maria vai com as outras”. Se existisse (“maria vai com as outras”) você imagine que teria só uma pesquisa e acabou e você vê que fica aquele sobe e desce e o resultado final é diferente. Não há uma influência direta. Agora há uma influência indireta, principalmente, nesse momento pré-campanha, os candidatos melhores na pesquisa acabam tendo maior facilidade de adesão, aliança política, a própria ajuda de financiamento, espaço na mídia. A pesquisa ajuda a dizer quem está no jogo e quem não está, quem é competitivo e quem não é. Todo contexto da pesquisa acaba se influenciando por isso e o eleitor também, mas não é uma influência direta.

Você percebe mudança no perfil do eleitor nas últimas eleições?
O eleitor está cada vez mais pragmático e observando muito a questão custo benefício. Acho que isso ocorre no mundo inteiro. Com o fim das ideologias (na verdade no Brasil as ideologias sempre entraram de maneira latente não direta, mas tinha uma certa coisa de direita e esquerda) tudo isso acabou. As pessoas estão cada vez mais votando em quem vai trazer melhorias concretas na sua vida.

Esses interesses que levam ao voto seria uma troca de favor?
Não. É algo muito mais racional. Não é algo pontual. É algo de melhoria de vida mesmo, não é clientelismo, é algo de cidadão. Escolher quem vai melhorar a vida no município, bairro, Estado ou país. Acho que as pessoas simplificam um pouco essa questão da influência do programa social falando que é assistencialismo, que seria um novo tipo de voto clientelista. Mas diria que é um serviço público e as pessoas precisam daquilo e aquilo está sendo importante na vida delas, como é qualquer programa social. O que estou falando é totalmente diferente de trocar voto por emprego, é um benefício como parte da estrutura da administração pública.

As pesquisas atuais mostram uma grande vantagem do presidente Lula sobre o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, ainda há espaço para reações ou a reeleição do presidente está garantida?
A gente está usando uma expressão que acho ser a mais correta: a idéia é favorito. O presidente Lula é o franco favorito, mas é como futebol, favorito é favorito, não quer dizer que vai ganhar. Tem situação muito favorável para ele. A campanha só tem um time em campo porque a oposição ainda não conseguiu se articular. Agora que ele estão começando. É como se só tivesse um time em campo. Se a campanha do PSDB começar é que vamos observar a movimentação. Se houver essa movimentação acho que o resultado pode mudar. Aí teríamos um novo cenário.

Qual a relação que há entre o tempo do candidato na mídia e a preferência de votos?
É claro que o tempo influencia. O eleitor está cada vez mais maduro e sabe o que ele quer. Se o candidato que ele quer tem pouco tempo, mas fala o que ele quer, então essa desvantagem de estrutura e tempo acaba sendo minimizada. É claro que quanto mais tempo você tem, mais oportunidade você tem de acertar. Se você tem pouco tempo tem de acertar de primeira. Tem que levar a mensagem que todos possam entender.

Agradou a mini-reforma eleitoral?
A gente está descartando qualquer possibilidade de mudança que possa exigir autorização para se fazer pesquisa. Se isso ocorresse seria uma forma de cercear qualquer informação. A pesquisa é uma informação importante. Acho que é importante para o eleitor. Acho que a legislação tem melhorado. Na verdade, o que precisa é controlar a qualidade da pesquisa eleitoral, a pesquisa aventureira. Abertura, transparência total, abrir totalmente a metodologia, registrar todo material no TRE e TSE. Isso ajuda bastante. Não tenho ouvido mais isso de pesquisa comprada. Com a abertura do processo, isso acabou. Estamos contentes com essas melhoras na legislação.

O voto segmentado ainda é forte ou hoje não é tão a mostra?
A questão de segmentação não é assim o voto da mulher, do homem, do católico, o evangélico. O eleitor é um monte de coisa ao mesmo tempo. Ele é mulher, é católico, é negro, de classe baixa. Essas variáveis se misturam, interagem. A gente precisa começar a ver o eleitor sobre o momento de vida dele.

Mas vale a pena o candidato trabalhar o voto segmentado? É viável?
Cada vez mais precisa. o eleitor está vendo o custo benefício, cada eleitor tem sua necessidade. A mulher que tem filho busca serviço diferente da que não tem filho. O jovem que sai da universidade é totalmente diferente do outro. A segmentação é fundamental no momento político para conseguir descobrir a necessidade segmentada.

Mas trabalhando o voto segmentado, como o candidato pode unificar o discurso para falar a grande massa?
Vai ter que ter uma bandeira que fale ao coração da maioria para eleição majoritária, mas parte dessa grande bandeira tem que ser trabalhada pelo segmento. Propor programas segmentados. Esse tipo de trabalho é buscar grande temas e serviços e projetos para a demanda.

A campanha nas eleições proporcionais seria mais difícil, já que os discursos são muito semelhantes?
Acho que conta a mesma coisa, só que é mais difícil do candidato na eleição proporcional garantir isso para o eleitor, o eleitor não tem muita garantia. É mais difícil para o eleitor pensar nisso. Temos vários tipo de candidatura de deputado, tem a que expõe identificação de grupo, como o que é ligado a aposentado, ele personifica o grupo. Tem o deputado temático, o que entende de economia, alguém que vai defender sobre economia e brigando pela economia do país. Há várias estratégias para o tipo de candidatura. Tem o geográfico, que o eleitor acha que vai lutar pela região dele. O candidato precisa achar a maior força dele e explorar isso.

A senhora identifica uma segmentação mais forte com o eleitor evangélico?
Tem candidatura que se identifica, mas é menos por ser evangélico e mais pelo valor que ele representa. Se ele é um candidato evangélico que não trabalha o valor terá menos voto do que aquele que trabalha melhor.

O Ibope tem uma marca muito ligada a Rede Globo. É um jogo de marketing?
Isso tem sido construído ao longo de décadas com esse cliente, que nos contrata sucessivamente para fazer pesquisa. A marca Globo é boa, a associação é boa como seria para qualquer outro. Mas o Ibope também tem uma credibilidade. Ano passado durante dois meses a quantidade de pesquisa divulgada de interesse social foi grande. O Ibope é referência da sociedade para se ver através do Ibope, ao longo de toda história. Para Rede Globo também é interessante ser associada a marca com essa credibilidade.

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