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O erário da black music brasileira

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Hyldon: “Quero fazer homenagem aos meus amigos, como Cassiano”

A black music com uma pegada mais intimista é o tom maior da edição de hoje do projeto Seis & Meia. Pela primeira vez em Natal, o cantor e compositor Hyldon se apresenta a partir das 18h30 no Teatro Alberto Maranhão. Autor do clássico “Na Rua, na Chuva e na Fazenda – casinha de sapê” e da não menos famosa “As Dores do Mundo”, Hyldon traz a voz, o violão e uma infinidade de histórias da convivência com Cassiano e Tim Maia e outros expoentes da música negra brasileira que fincou raiz no país nos anos 70. Antes, quem aparece é o saxofonista potiguar radicado em Minas Gerais Urbano Medeiros, cultuado hoje, aqui e no exterior, como um dos maiores instrumentistas do Brasil.         
Nesta entrevista, Hyldon fala da atual fase da carreira, das lembranças da black music e do fato de ter virado refém dos próprios sucessos.

TRIBUNA DO NORTE – É a primeira vez que você se apresenta em Natal? 
Hyldon – Nunca estive aí… conheço de passeio, mas só dormi uma noite. Sei que é uma cidade linda. Você sabe como é o lugar onde eu vou tocar?

Vai ser no Teatro Alberto Maranhão, tem mais de cem anos…
Ah, então vai ser bom. É melhor a gente chegar mais cedo para conversar com os fantasmas. Tocar em teatro é bom.

Como anda sua carreira hoje. Está preparando algum trabalho novo?
Estou tocando, fazendo bastante show com a banda. E também estou preparando um DVD. Tinha até agendado o lançamento para outubro agora no Canecão, mas perdemos um patrocinador e voltamos à fase de captação para, então, negociar com as gravadoras.

O mercado independente não te atrai?
Fiz um disco pelo meu selo, o “Vendedor de sonhos”, coloquei duas músicas nos fonogramas originais da Universal, que liberou. Tinha entrado “Na rua, na chuva, na fazenda” e “Dores do mundo”, tem uns remixes, é uma edição comemorativa que ainda está nas lojas. Já me ligaram daí perguntando se eu ia vender os discos aí…

E não vai?
Não dá. Fico muito concentrado no show para fazer esse contato com o público. Fica inviável viajar com a banda, por isso vou fazer um show mais intimista, vou procurar cantar para que as pessoas possam cantar junto também. E quero fazer homenagens aos meus amigos também. Cassiano, por exemplo, é um que vai estar com certeza.

O Cassiano é uma referência tão próxima sua como era o Tim Maia?
Eu e o Cassiano começamos juntos nesse circuito, sempre fui amigo do Cassiano e uma outra época fui muito amigo do Tim também, dele aparecer nos meus shows. Tenho uma gravação no teatro opinião em que ele foi num show meu só para tocar. Eu também ia nos shows dele. Fizemos juntos uma música chamada “I don’t know what to myself”, que está no disco Velhos Camaradas. Lembro que quando viajava, ele me dizia: “Ei, Hyldon, me falaram que ‘I don’t know what to myself’ está estourada lá no Nordeste”… E caía  na risada.

Você está escrevendo uma autobiografia?
Estou. Mas você que escreve todo dia sabe como é. Eu fiz assim: ‘vou escrever meia-hora todo dia’. Mas aí você cumpre no primeiro dia, no segundo dia, mas aí perde o ritmo, pula o terceiro… de vez em quando eu pego. Já tenho 100 páginas escritas. Quero fazer um livro grosso, falar principalmente da década de 70, a fase da Black Music. Você acredita que um dia me chamaram para fazer um show junto com o pessoal da Jovem Guarda!? Porra! Não sou tão velho assim, não. Eu era moleque na época da Jovem Guarda! (risos).    
 
O Nelson Motta também está escrevendo uma biografia sobre Tim Maia. Levando em consideração as duas biografias, onde é que sua história e a do Tim se juntam e se separam?
Fiz uma viagem para o norte, fiz shows pelo interior com o Cassiano e um cantor de bolero. O Tim tinha gravado com o Roberto e estava preparando o disco “Primavera”. Me falaram muito do Tim e, tanto eu como ele e o Cassiano gostávamos muito de música negra americana, isso nos anos 70. No Rio conheci o Tim quando ele gravou pela primeira vez com a Elis Regina. Aí mostrei algumas músicas para ele, foi engraçado porque uma dessas músicas era Giocconda. Ele gostou mas me disse para mudar o nome para Cristina. Dizia que ninguém ia comprar um disco chamado Giocconda (risos). Sei que a partir daí fui tocar com ele, tínhamos afinidade, compusemos muita coisa, perdemos muitas também, outras ele gravou. Já o final, não da nossa amizade, mas da convivência, foi quando casei, em 1983. Ele ainda estava acostumado à vida de solteiro e, na época, minha mulher virou para mim e disse: “ou eu ou ele”. E aí paramos de nos freqüentar.

Você não se arrependeu, não é?
De jeito nenhum! Sou casado há 25 anos, e é ela quem me dá equilíbrio…

Alguns artistas ficam marcados por hits e às vezes têm dificuldade de fazer o público entender um trabalho novo. Você se sente refém, de “Na rua, na Chuva, na Fazenda…”, por exemplo?
Meu primeiro disco emplacou  cinco ou seis músicas logo de cara nas rádios. Aí como era novo fiquei meio rebelde e fiz meu segundo disco para não tocar na rádio. E ainda teve uma que tocou, que foi “Estrada errada”. Mas esse disco “Deus, a natureza e a música” foi feito para não tocar mesmo, tinha música experimental, rock ópera, música de oito minutos… Recentemente fui para o estúdio ensaiar e vi que os ensaios com a banda ficaram bons. E como eu estava devendo um disco para a trama, resolvi dar esse disco. Aí o jornalista Pedro Sanches, que era da Folha de São Paulo e, hoje, é editor da Carta Capital, escreveu que eu estava virando um clone de mim mesmo porque só tinha regravação, que era o “Vendedor de Sonhos”. Aí eu parti para fazer um disco só com inéditas, que devo lançar em breve. Vai sair bem brasileiro, com várias participações.

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