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O erro

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Vicente Serejo
O leitor desta coluna, e se o faz de clara boa-fé, sabe que aqui se defende o grande papel da classe política não como a melhor, mas como a única força capaz de legitimar a democracia. Não há como abrir mão do seu papel, sob pena de levar a sociedade a autoritarismos. De direita ou de esquerda. Mas, é indispensável pontuar que hoje, na sociedade conectada e aparelhada para vigiar e punir, como diria Michel Foucault, um erro pode dilacerar profundamente sua imagem.
É bem o caso, neste momento, do debate que se trava em todos os canais, principalmente nas redes sociais, sobre o que ficou timbrado como ‘o orçamento secreto’. De repente, deputados federais e senadores vestem a capa da impunidade na defesa da distribuição de recursos públicos da ordem de R$ 16 bilhões e na forma de emendas parlamentares, como se não devessem prestar contas do que vão fazer com todo esse monte de dinheiro numa hora de grave crise econômica. 
Ora, se o discurso é no sentido de que as emendas parlamentares servem às necessidade e até urgências de cidades, vilas e povoados, chãos das bases políticas de cada parlamentar, como então escondê-las sob o manto suspeito de ‘orçamento secreto’, uma forma matreira de retomada do ‘Mensalão’, de triste memória? Como ser secreto o que se declara como certo e útil, diante de uma sociedade hoje de aguçada visão crítica, e se o bem feito é a razão maior da ação política?
Não é preciso provar o viés que, há pouco menos de três anos, galvanizou uma grande parcela de brasileiros-eleitores quando um deputado de inexpressiva atuação política ergueu uma bandeira, ainda que rota, simbolizando a moralização. Fez a leitura, naquela hora ainda quente, dos efeitos da Lava Jato, um conjunto de fatos e circunstâncias que, bem ou mal, materializou a corrupção, e construiu-se mártir com uma facada que não tirou sua vida, mas o fez um justiceiro.
Claro que a Lava Jato não tem mais o fulgor de antes, dilacerada pelo legalismo excessivo e desregrado, e o herói de araque, fecundado nas urnas do falso moralismo, fenece nos braços do Centrão. O grande erro é da classe política que, vilipendiada duramente por um combate abrasivo e desleal, não conteve a ambição. Caiu no colo de um ‘orçamento secreto’ e hoje não encontra como justificar ter tentado esconder ‘o quanto’, o ‘para quem’ e o ‘para quê’ de R$ 16 bilhões. 
O episódio, na avaliação dos seus efeitos, não desautoriza a importância da classe política. Seria abrir mão do grande esteio de sustentação do regime democrático, feito de pluralidades e contradições, consonâncias e dissonâncias. Mas, nem por isso, é possível conceder o perdão diante de um erro que é grosseiro, muito antes de ser primário. Como se bastassem as palavras para diferenciá-lo do condenável Mensalão. Quando o Legislativo erra fere a própria democracia. 
ELEIÇÃO – As previsões, inclusive as não reveladas pelos próprios adversários, dão conta da reeleição, hoje, do advogado Aldo Medeiros, considerada como a proposta mais conservadora.
SERA? – Nos escaninhos, há quem informe existir no estômago das eleições de hoje um filhote bem nutrido para ser conhecido quando for aberta uma vaga no Tribunal Superior do Trabalho. 
PALCO – Titina e César Ferrário encenam neste final de semana “Sinapse Darwin – a Odisseia de um Pensamento”. A estreia será no Tecesol que fica na Governador Valadares, em Neópolis.
ÍCONE – O livro ‘O Pequeno Príncipe’, tradução de Ivo Barroso e belas ilustrações de Raquel Matsushita, será lançado dia 15 próximo, à sombra do Baobá do poeta Diógenes da Cunha Lima.
MEMÓRIA – Sai o terceiro volume da Coleção Memória Viva com a reunião de mais dez nomes do mundo jurídico, um trabalho cuidadoso dos advogados Armando Holanda e Joventina Simões.
LIÇÕES – O editor Abimael Silva prepara a segunda edição de “Como Fazer Boa Política”, um pequeno manual de Waldson Pinheiro e Hélio Vasconcelos. Foi lançado originalmente em 1996.
POESIA – Do poeta macauense Tião Maia no seu ‘Solidez do Âmbar’, sobre as matilhas de cães vadios nas ruas: “Cachorros da noite / que ladram vadios, / que matam, / e / que andam no cio…” 
PERFIL – De Nino, tirando o gosto de uma boa cachaça com cajá verdadeiro, doce e perfumado: “O intelectual do tipo clássico coleciona telefones e endereços para se sentir íntimo da glória”.
LUPA – A CPI, pelo que já foi dito e comprovado pela Controladoria, não vai encontrar desvio na aplicação de recursos originalmente destinados ao combate contra o Coronavírus. Se for este o caminho da comissão, o fim será o mesmo de até agora: não encontrará nada para a reprovação.
MAIS – Os recursos transferidos ao Consórcio Nordeste e por este geridos, são da competência do próprio Consórcio justificar, gestão que não esteve sob o controle do governo do Rio Grande do Norte. Nem a decisão de pagar os respiradores antes de recebê-los, como seria indispensável. 
FIM – Uma fonte ligada ao Legislativo comentava, ainda ontem, que o depoimento do médico Cipriano Maia, secretário da saúde, deverá ser o epílogo da CPI: “Não há mais nada relevante, a essa altura, a ser revelado pela CPI”. E arrematou: “Não impactou em nada, além do barulho”.  
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