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O escândalo da vez

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Villas-Bôas Corrêa – repórter político do JB 

A um mês do horário de propaganda eleitoral, reta de chegada  das urnas do primeiro turno para as eleições majoritárias de  presidente, 27 governadores, um terço dos senadores, 513 deputados  federais e deputados estaduais o maior  dos escândalos da temporada,  envolvendo quase uma centena de parlamentares na compra  superfaturada de ambulâncias para prefeituras, desabou como a  violência de um furacão, quebrando telhas e vidraças do Congresso e  do governo e espalhando o pânico na caça ao voto.

Definida a polarização com o presidente-candidato aparentado  tranqüilidade com o favoritismo confirmado pelas pesquisas e o  candidato oposicionista Geraldo Alckmin de alma nova com o salto de  seis pontos e o espinho da segunda onda de violência em São Paulo,  chegou a hora da verdade no novo formato mais enxuto e decoroso do  horário eleitoral e da avaliação a sério do quadro, até aqui  reduzido ao desempenho de Lula.

O pedregulho no sapato dos dois pretendentes com chances de  liquidar a fatura no primeiro turno ou no mais provável mano a mano  de uma segunda rodada de urna é o desdobramento, a toque de bumbo,  das investigações da CPI dos Sanguessugas sobre as escabrosas  denúncias da compra de ambulâncias superfaturadas e que, embora com  o prazo prorrogado até outubro, não podem ser empurradas em pacote  fechado até as eleições,.

Evidências saltam no picadeiro: o Congresso com a autoridade em  farrapos, crivado de suspeitas e acusações, não reúne as condições  mínimas para tocar as apurações com a velocidade e a energia que a  situação impõe.

Do governo nem se fala. Resta o Judiciário, como a última e  dramática salvação das instituições em sério risco de colapso  institucional, como só não enxerga quem se recusa a ver.

O falante candidato Lula anunciou em vários pronunciamentos  que, reeleito, sua primeira iniciativa será encaminhar ao Congresso  o projeto de reforma política, amplo balaio em que cabe tudo, a  começar com o fim da praga da reeleição e esticando os mandatos  executivos para cinco anos. Curiosa e marota a postura do  presidente: é contra, sempre foi contra a reeleição para os outros;  a favor em benefício próprio.

Ora, a reforma política dos compromissos de campanha do novo  salvador da pátria foi atropelada pela avalanche da corrupção e  abandonada desde a posse. No Senado, tramita nos atos finais,  veneranda emenda constitucional que sepulta a reeleição e que  poderia ser aprovada na  correria do salve-se-quem-puder de um  ataque de  histeria coletiva com o risco de uma reação do eleitor  indignado que estimule o protesto do voto em branco. E o reforço da  ameaça da renovação em massa dos emporcalhados pela lama do  mensalão, do caixa dois, das ambulâncias, dos salvos pela absolvição  do acordo entre petistas e aliados do bloco silencioso e de goela  insaciável do baixo clero e da bancada evangélica dos dizimistas,  fanático cultores de propinas.

É pouco, pois a orgia parlamentar, no clima de tolerância e  impunidade que é a regra na decadência galopante da última  experiência democrática, depois da ditadura militar de quase 21  anos, não pode ser resolvida com paliativos e remendos. Só o milagre  reverterá a desmoralização do Legislativo e o esvaziamento da sua  autoridade.

E é mais uma vã esperança para se desmanchar em nova  frustração, apostar que a instituição viciada em mordomias,  vantagens, espertezas como a verba indenizatória de R$ 15 mil  mensais para ressarcir as despesas de suas excelências nos fins de  semana; verbas indecorosas para a contratação de assessores para os  gabinetes individuais, nichos de nepotismo; verbas para gasolina que  dá para uma volta ao mundo; para selo, jornais e revistas, e outros  badulaques que compõem o buquê miliardário de um dos melhores  empregos do mundo em conversão miraculosa, corte as gorduras  tentadoras para a dieta do decoro da semana de cinco dias úteis, do  fim da passeata com passagens pagas. As mordomias sempre apodrecem  em desvios e rapinagens.

A opção política para a próxima legislatura aperta-se na  convocação de uma Assembléia Constituinte com pauta enxuta e tempo  limitado ou a insanidade do vôo cego em meio à turbulência.

Ou o apelo à toga, o que é outra conversa.

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