São Paulo – Antes usado para chocar, o corte moicano, aquele que deixa apenas uma faixa de cabelo arrepiada da nuca ao alto da testa, perdeu o ar de revolta emprestado pelo movimento punk nos anos 70 e ganhou versões light. Ele já fez a cabeça dos adolescentes, mas agora são as crianças que mais pedem o corte nos salões de beleza.
Modelos pós-punk para a garotada não faltam: cantores, atores, jogadores de futebol e personagens de desenhos animados japoneses. Essa versão infantil do moicano lembra o punk, mas não é tão radical. As laterais ficam com cabelo mais rente e o topo da cabeça, mais cheio. Para o cabelo ficar bem arrepiado, é preciso passar gel ou uma pomada modeladora. Victor Hassan de Freitas, de 8 anos, é um dos meninos que aderiram à moda. “Se eu deixar, ele raspa as laterais com máquina zero. Quando vou com ele ao cabeleireiro tenho de ficar vigiando”, disse a mãe, Márcia Cristina Laguna, de 40 anos.
Hoje, nos salões de beleza, é a garotada quem dita as regras. “Muitas vezes, as mães torcem o nariz ou não deixam o filho fazer o corte. Mas vários meninos chegam aqui cheios de personalidade e sabendo o que querem. Aí não tem como impedir”, disse o cabeleireiro Paulo Persil, do MG Hair, nos Jardins, em São Paulo. Para ele, mais do que nunca, os desenhos influenciam os meninos. “Muitos chegam com gibis mostrando os cabelos retalhados dos personagens japoneses. Para não matar a mãe do coração, convenço o menino a fazer algo mais discreto”, disse. “Por mim, ele usaria um cabelo um pouco mais comprido, com mais volume”, confessou Márcia.
Mas o estilo mais comportado passa longe do gosto do garoto. “Uma menina da escola me perguntou o que eu prefiro, um carro ou um pote de gel. Respondi: o gel”, contou Victor. Um dos precursores dessa moda foi o jogador de futebol inglês David Beckham. Mas entre as celebridades atuais que inspiram os meninos está o cantor Leandro Lopes, que venceu o reality show Ídolos, do SBT, e o ator Cauã Raymond, que, na última novela do horário nobre da Globo, “Belíssima”, aderiu ao visual. “Ele não parava de pedir para cortar o cabelo desse jeito. Queria ficar igual ao Leandro”, disse Adriana Santana, de 32 anos, mãe de Matheus Santana de Oliveira, de 8 anos.
Para ficar com o cabelo diferente, não basta ter somente coragem de fazer o moicano. “Não adianta fazer o corte e não ensinar a criança a mexer com gel ou algum outro tipo de modelador”, disse o cabeleireiro Ulisses Cruz, do salão Um, no Itaim-Bibi – ele próprio um adepto do moicano. “Procuro mostrar para as crianças como elas devem fazer”, contou. Babelli Santana Olgada, de 28 anos, é uma mãe que trabalha fora, como a maioria. Raramente tem tempo de cuidar do visual dos dois filhos. Quando isso acontece, diz, o cabelo fica sem graça. “O Thiago é mais velho, tem 8 anos e já consegue se virar. Mas o Matheus tem só 5 anos. Quando não consigo passar os produtos, o cabelo dele não arrepia de jeito nenhum.”
Os dois irmãos são bem diferentes e mostram que o moicano pode ser usado em todo tipo de cabelo. “Eu tenho de ficar levantando, se não cai tudo”, disse Matheus, que tem o cabelo bem lisinho. Thiago, com seus cachos, já não precisa de tanta preparação para exibir seu visual moicano. “Ele fica assim sem eu precisar fazer nada”, disse o menino, que se inspirou em Cauã para o corte.