quinta-feira, 28 de março, 2024
30.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

O exemplo de Portugal

- Publicidade -

Ney Lopes
Advogado, jornalista e ex-deputado federal

Visitei recentemente Portugal, trazendo excelente impressão da recuperação econômica e social do país. Lá estivera há cerca de cinco anos, quando a impressão foi outra. Constatei aquela época, que o país enfrentava profunda recessão, fraco crescimento e acumulação de desequilíbrios internos e externos graves. Desemprego e emigração se destacavam entre as principais consequências sociais. Ouvi depoimentos estarrecedores, de funcionários públicos e aposentados, que não recebiam proventos e salários, sendo obrigados a aceitar reduções de rendimentos e de direitos.

Agora, constatei o contrário. Percebe-se o otimismo, desde o motorista de taxi, até comerciantes e profissionais em geral. O turismo explode.

O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,7 por cento em 2017, o maior crescimento econômico, desde o ano 2000, acima da média da União Europeia e da zona euro. Em termos nominais, o PIB aumentou 4,1% (3,2% em 2016). O emprego aumentou 3,6% no final de 2017 e o desemprego reduziu para 8% (o percentual mais baixo, desde julho de 2004).

Tudo isto com a garantia de acréscimo salarial periódico e redução do emprego informal. O déficit orçamentário de 2017 caiu para 0,9% do PIB. O excedente primário foi de 3%, o segundo mais elevado da União Europeia.

O crescimento do investimento, o aumento das qualificações e a estabilidade social contribuíram para os ganhos de confiança e competitividade. As exportações portuguesas representam mais de 43% do PIB e ganharam três pontos percentuais de quota de mercado em 2017.

As previsões econômicas da Comissão Europeia apontam para um crescimento de 2,2% em 2018 e de 1,9% em 2019.

Portugal realmente virou a página e caminha para o desenvolvimento econômico e social. Depois de uma década de fraco desempenho e de uma grave crise, a economia portuguesa consegue recuperar-se.

O mais importante é que ao contrário dos gregos, que seguiram à risca a cartilha da ortodoxia econômica do FMI, o governo português do primeiro-ministro António Costa, com visão social, conseguiu reduzir o déficit fiscal, ao mesmo tempo em que recuperou salários e aposentadorias, aos níveis anteriores à crise econômica de 2008.

Portugal comprovou a receita de que, mais indicado do que a submissão inflexível às leis do mercado, que concentram renda, sacrificam os assalariados e a baixa renda, o país deveria elevar a demanda interna para impulsionar o crescimento.

Dessa forma, sem aumentos tributários, tornou-se possível reativar a economia e reduzir o déficit orçamentário. Tudo se associou a austeridade na condução da administração pública, sem máculas de desvios, ou práticas criminosas.

Na época de Dilma Rousseff, o Brasil ensaiou esse caminho, sugerido pelo economista inglês John Maynard Keynes, testado em Portugal. Os resultados foram mais de 600 bilhões de desoneração previdenciária, concedida irresponsavelmente a pretexto de reduzir o desemprego, que terminou aumentando.

Além disso, cerca de 500 bilhões de reais de sonegação fiscal e 200 bilhões da corrupção. Esses descalabros são as verdadeiras causas dos nossos atuais déficits fiscal e previdenciário.

Hoje, Portugal gera crescimento, com sinais de economia sólida, inserida num contexto de gestão ética das contas públicas, equilíbrio com o exterior e geração de empregos. Assim aconteceu e dá certo, até agora. Não deixa de ser um bom exemplo para o Brasil analisar criteriosamente, após a eleição de outubro.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas