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O expressionismo abstrato de Alfredo Neves

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Thiago Gonzaga

O dramaturgo e jornalista gaúcho Pedro Augusto Gomes Cardim, que fundou, em 1925, a Academia de Belas Artes de São Paulo, disse certa vez, referindo-se à liberdade do artista parar voar livre em seu oficio: “há quem julgue as obras de arte produtos sem regras nem preceitos, sob o domínio do imprevisto, sem princípios, manifestados arbitrariamente, consoante a força criadora do gênio que as produz”.

Vivemos em um mundo rodeado de imagens, muitas destas são obras de artistas plásticos, ou seja, objetos artísticos. O artista plástico e escritor pernambucano Francisco Brennand disse, certa vez, em uma entrevista, que “a arte representa valores do espírito”. Em nosso entendimento esse importante artista brasileiro quis dizer, entre outras coisas, que o conhecimento sobre arte amplia a nossa visão do mundo, além de

melhorar a nossa capacidade de reflexão e expressão. Acreditamos que a escola deve aproximar dos seus alunos as artes plásticas, mostrando-lhes a variedade de pinturas e artistas, e os ajudando a fazer uma reflexão sobre os mesmos, ampliando assim o leque de imagens a serem apreciadas.

 Mas, afinal o que seria Arte?

Evidentemente é quase impossível encontrar uma definição exata para o que seja a Arte, achamos até que seria muito mais fácil definir algo que não seja arte como o que temos visto aos montes por ai, sobretudo em tempos de redes sociais. Sabemos que a arte, por exemplo, não pode ser confundida com a moral, com a religião, com a ciência, nem pode também ser reduzida simplesmente a uma ideologia. Arte também não tem nenhuma obrigação de refletir o real ou a verdade. Acreditamos que tentar definir o que é arte é também empobrecê-la, limitar algo tão belo. Assim, entendemos que a missão do artista é simplesmente criar, seja o belo, o feio, e sobretudo não querer fazer propaganda do que quer que seja.

Enfocamos o assunto após presenciarmos a exposição de pinturas abstratas de Alfredo Neves, poeta e artista plástico e cientista social, graduado pela UFRN. Alfredo ocupa a Cadeira 2 da AMLA – Academia Macauense de Letras e Artes. Em parceria com o poeta e artista plástico João Andrade, participou de Exposição Coletiva na Pinacoteca do Estado do RN. Participou ainda da Feira de Arte Potiguar – FEIRART, exposição e palestra sobre Arte Contemporânea no Setor Jurídico da Caixa Econômica Federal do RN e teve duas de suas telas selecionadas para o III Salão Dorian Gray de Arte Potiguar. Além desses, seus trabalhos já estiveram presentes na antiga Livraria Nobel, exposição Cores de Orvalho, em 2016. Alfredo, embora esteja no início da sua carreira como artista plástico, já milita há mais de trinta anos pela cultura, sobretudo na cidade de Macau.

Em 2013, nos concedeu entrevista para o livro “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos, Vol. 1”, onde anunciou de que iria se dedicar as artes plásticas, e no futuro a publicação de um romance, que trata de uma Macau imaginária.

Além disso dedica-se também à publicação de uma revista cultural bimensal, com nome de Kukuaia, e que circula na internet há exatos cincos anos. Os quadros de Alfredo Neves, em boa parte, nos remetem diretamente ao pintor norte-americano Jackson Pollock, referência no movimento do expressionismo abstrato.

Não retratam objetos físicos específicos. Eles são mais difíceis de analisar que os quadros figurativos, por exemplo. A interpretação fica por conta do leitor do quadro, ou seja, meramente subjetiva. Alfredo Neves pinta, desta maneira como uma forma de evocar emoções do inconsciente. Diferente das pessoas comuns é a posição do artista: ao criar suas obras e por mais estranhas que possam parecer, estará normalmente debatendo questões intrínsecas de metalinguagem. Por isso o sentido da pintura, que Alfredo Neves tem em mente, é de outra ordem, um sentido ótico, relativo à própria natureza desse objeto, independente, senão da consciência inserida num contexto humano mais abrangente, pelo menos das formas reconhecidas da nossa realidade.

No Rio Grande do Norte temos alguns exemplos de artistas plásticos que também são poetas: Newton Navarro, Dorian Gray Caldas, Leopoldo Nelson, J. Medeiros, Carlos Humberto Dantas, Anchieta Rolim, João Andrade, Iaperi Araújo, Vicente Vitoriano, inclusive esses dois últimos também são críticos de arte. Merecem destaque igualmente como artistas visuais, os poetas Falves Silva, que compõe a sua obra a partir de um processo de colagem, e Avelino de Araújo, que trabalha também o jogo de palavras e imagens e aqueles que seguem na mesma linha do impressionismo abstrato como Carlos Soares.

Encontramos nos quadros desses artistas características interessantes como na própria composição, ou seja, na organização das imagens, seguindo, algumas vezes, esquemas geométricos, em outras, não; o movimento interno característico da composição dinâmica (às vezes estática); o desenho, nesse caso, as linhas marcantes.

Nos quadros se concentram cores frias e quentes, por vezes fundamentais, outras, complementares. A própria natureza da cor também é peça- chave. A luz uniforme e o seu efeito junto com a dinâmicas das formas visuais; a técnica da pintura pontilhada, linear, modelada e por fim o material de trabalho que varia entre óleo, acrílico, colagem, misto, guache, aquarela, pastel de óleo ou seco.

Evidentemente, sempre vamos ouvir das pessoas que não entendem de arte abstrata que esta não é compreensível, explicável. Mas precisamos ter a consciência do seu sentido, que é de fundamental importância para desfazer equívocos de análise e de opinião. Na cultura ocidental, por exemplo, na pré-história vamos encontrar vários registros de prevalência das formas abstratas, muito mais comuns do que na arte oriental.

Concluímos nossa reflexão lembrando que, depois dos impressionistas, as artes plásticas puderam se voltar para dentro de si e subsistir sem o auxílio de qualquer referência explicativa, e que assim continuaram a ser usufruídas por todos.

As telas de Alfredo Neves estão em exposição no Espaço Cultural da Justiça Federal com o título de “Imaginarium”, entre os dias 01 e 31 de julho de 2019, de segunda a sexta-feira, das 09 às 12h, trazendo ao público uma amostra da arte abstrata e contemporânea.

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