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O fato novo

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Vicente Serejo
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Na comunicação e na política nada é tão simples, tão maleável, e também tão forte do que o fato novo, essa quebra vertical da normalidade. É arma, artifício e artefato, como queiram. E capaz de mudar uma trajetória – fazê-la cair na derrota ou ascender à vitória. Na economia das trocas simbólicas do mercado da comunicação, tudo é produto. E, se é produto, pode ser vendido, comprado ou rejeitado, segundo a fantasia engenhosamente inventada para vesti-lo.

Cena Urbana

O presidente Jair Bolsonaro, por seu conjunto de atos retóricos, parece viver a grande encruzilhada daquelas duas forças estratégias quando convergem ou em conflito: o fato novo criado para sufocar o fato antigo e para varrê-lo como verdade no imaginário coletivo. Tem sido bom artifício na maior parte das vezes, mas pode falhar. E a falha ser tão desastrosa quanto a intensidade do acerto, disparando um efeito reverso nem sempre fácil para ser contornado. 
Enquanto de um lado o capitão Jair Bolsonaro toca a retórica do seu governo como uma ordem unida, a comandar uma infantaria e a ponto de levar as forças armadas ao risco de uma subalternidade que não lhe cabe constitucionalmente assumir; na outra margem do processo os petistas tentam vestir Lula da Silva com a roupagem da esperança, ainda idealizada, mas capaz de construir no sentimento coletivo a soma dos desejos individuais da volta a uma vida em paz.   

Não significa dizer que as coisas amanhã venham a ser exatamente assim. É possível que o capitão esteja certo e sua retórica acabe por afastar a percepção coletiva do mais perigoso sintoma de desmantelo de um governo que é a crise econômica profunda. Foi justamente a crise, quando aprofundou-se, que derrubou Dilma Rousseff. O impeachment, na Câmara e no Senado, foram apenas encenações circense que vestiram a queda com os ritos que a Constituição exige.

Não é impossível a vitória da retórica de Bolsonaro, mesmo que não pareça tosca aos desafortunados de uma acurada percepção crítica, mas, se falhar, Lula pode cristalizar essa maioria que hoje as pesquisas apontam. A diferença acentuada é o sinal será do cansaço coletivo que seu estilo gerou. O macho tem sempre a chance de acasalar-se com a alma fêmea da multidão se souber conquistá-la. Quem duvida da força da multidão paga o preço da derrota.  

É cedo para projeções sobre o erro ou o acerto da estratégia do capitão no campo de luta que é a política. Avançar no terreno inimigo pode ser possível com a cobertura dos seus obuses e blindados, mas não é com eles que conseguirá conquistar o terreno do sentimento popular. O capital e o trabalho precisam da velha paz republicana para que possam sobreviver. Suas forças materiais não são iguais, mas a inquietação social é, desastrosamente, um veneno para os dois. 

PALCO
AVISO – Aos petistas de todas as espécies, do governo ou não: a ‘Operação Lectus’, da Polícia Federal, legitimou a CPI da Pandemia e instalou no governo a primeira crise nas suas entranhas.

EFEITO – De uma só vez a ‘Lectus’, ainda que amanhã nada prove, tirou das mãos do governo o argumento de que a CPI é uma questão de politização. Legitimou os motivos e as suspeições.

MAIS – Os efeitos políticos da ‘Operação Lectus’ vão mais além: paralisam, na medida em que deslegitimam, qualquer tentativa de esvaziá-la até que a Justiça ateste a inocência dos acusados.  

ALIÁS – Há quem esteja prevendo que a ‘Lectus’ pode não ficar numa única busca e apreensão. A pandemia mostrou ter sido transformada, no Brasil e em Brasília, num enxame de ambições.

FALSO – O presidente Jair Bolsonaro não respeita o direito à liberdade de expressão. Reage a quem exerce esse direito universal com ameaça e desaforo. Omiti-lo da crítica é puxa-saquismo.

GRETA – Não foi erro, J.L.M., a foto de Greta Garbo ilustrando a crônica de ontem. Só ela mesma, tão bela e seu olhar de mormaço, poderiam representar o mistério irresistível da carne.

FALA – A Ubu lança no Brasil a antologia de discursos e falas de Malcolm Little, líder negro que morreu aos 49 anos. O livro chega ao leitor com uma bandeira vermelha e a sua assinatura.   

AVISO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, aos navegantes de todos os mares: “O jornalismo foi feito para ser amado e odiado. O veneno contra o jornalismo é a indiferença”.

CAMARIM

ATENÇÃO – Não pensem os assessores da governadora Fátima Bezerra que é apenas uma insatisfação passageira o que há na tropa da Polícia Militar. O ato público de terça-feira próxima pode deflagrar um movimento fruto de falhas na negociação. Ou policial não é um trabalhador?

AUSÊNCIA – No levantamento realizado pela revista Exame sobre o sinal de reaquecimento criativo do mercado imobiliário o Nordeste está representado por Recife, Fortaleza e Salvador. Já nos preços da gasolina praticados com exorbitância estamos entre os primeiros colocados.

SINAL – Josephine Baker, morta em 1975 e sepultada em Mônaco, será trasladada para o Pantheon, dos grandes nomes franceses – Victor Hugo, Voltaire e Montaigne, entre outros. Foi a primeira mulher negra condecorada por Charles de Gaulle pela resistência contra os Nazistas.

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