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“O governo faz de conta que ouve”

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Vicente Estevam – Repórter

O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, José Vanildo, que esta semana travou uma espécie de queda de braço com o presidente da Federação Pernambucana, Carlos Alberto, acusou o seu desafeto de querer boicotar o Campeonato do Nordeste, num plano que tem por traz as digitais do diretor de competições da Confederação Brasileira de Futebol, Virgílio Elísio.

Presidente da FNF, José Vanildo acusa presidente da Federação Pernambucana de querer boicotar o Campeonato do NordesteDe acordo com o representante da FNF, ao não incluir a competição regional no calendário oficial do futebol no país, Elísio infringiu uma determinação judicial e a entidade pode ser cobrada judicialmente pelo ato. Além de atacar as tentativas de golpe contra a manutenção do Campeonato do NE, o dirigente potiguar reclama dos governantes do RN que apenas fingem ouvir os anseios dos clubes e da federação e que quando repassam algum tipo de ajuda ao futebol, o fazem por meio de migalhas, que não resolvem os problemas sistemáticos do esporte.

O Campeonato do Nordeste não está conseguindo aglutinar forças, ele pode acabar por causa da ação da Federação Pernambucana?

Por essa razão não, a atitude do presidente Carlos Alberto (da Federação Pernambucana) é coisa do passado. Essa mania de querer tomar decisões de forma isolada, são resquícios da ditadura. A nossa federação não aceita, a maioria dos presidentes das federações nordestinas estão unidos, inclusive, me estranha o colega de Pernambuco ter usado o nome da Federação Baiana, que não autorizou ele a falar em nome dela sobre a questão do Campeonato do Nordeste. Nós que somos favoráveis a competição temos de avançar nas negociações, encontrar um modelo ideal de disputa para próxima temporada.

Esse ano a competição parece que não caiu no gosto do torcedor, isso já era previsto?

Tivemos alguns problemas para encaixar o campeonato no calendário, foi um ano de Copa do Mundo. Se não foi ou está sendo um sucesso de público, ainda assim acredito que a competição deu um apoio financeiro e técnico muito grande a ABC, América, os clubes da Paraíba, de Sergipe, de Maceió, ao Fortaleza também, assim como ao próprio Santa Cruz, que passa por um período muito complicado.

O fato do calendário oficial da CBF não ter contemplado a realização do “Nordestão” está sendo encarado de que forma?

Essa ausência eu só posso atribuir a coisa de Virgílio Elísio, que é o o diretor de competições da entidade nacional. Trata-se de um gesto mesquinho, que atrapalha as nossas negociações já que o investidor quer ver o nome do campeonato garantido. Neste caso ele está descumprindo uma decisão judicial, que obrigou a CBF a aceitar a realização do Campeonato do Nordeste. Isso deve ser encarado como um fato inusitado que penaliza os investidores e a organização do nosso campeonato.

Este seria o caso da Liga do Nordeste acionar a CBF mais uma vez na Justiça?

Esse é um assunto da alçada da Liga do Nordeste, uma entidade que tem autonomia, mas se eu tivesse algum tipo de controle sobre ela não exitaria em recorrer a Justiça. Acredito que essa ação deva trazer benefícios para os clubes que compõem a Liga, que devem estar afinados no âmbito de suas cidades. A Confederação deve ter linhas mestras, gerais, nunca uma atitude — através de seu departamento de competições — que venha desrespeitar ordens judiciais e adotar medidas que venham a gerar desconfianças entre os patrocinadores do Campeonato do Nordeste e penalizar os nossos clubes. Por isso, considero possível se tomar outro procedimento que não o administrativo.

Por motivos como estes, pode se entender que existe a intenção de a CBF boicotar o Campeonato do NE?

A forma que foi realizado o ajuste e as datas disponibilizadas pela diretoria de competições, foi uma negociação leonina para com os clubes do Nordeste e que obriga os mesmos a realizarem composições com todas as federações da região, caso contrário seria muito difícil realizar o campeonato nas datas e na forma oferecidas nesta negociação. Como houve anuência das federações, eu considero que elas têm autonomia para ampliar essas datas favorecendo o desenrolar do campeonato, sem afrontar os Estaduais e viabilizando economicamente e em público a competição que está regressando ao nosso calendário.

O aproveitamento das datas de disputas da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana não seria uma boa alternativa para realizar o Nordestão em 2011?

Pode ser sim uma boa alternativa, uma vez que nem todos os representantes da Liga do Nordeste disputam essas competições. São torneios que estão contemplados com datas no calendário oficial e seria necessário a realização de apenas pequenos ajustes nos calendários estaduais. Essa adequação ajudaria a compatibilizar o aspecto técnico e financeiro da competição regional. Nós não podemos ficar nos atendo a uma decisão unilateral do presidente da Federação Pernambucana que poderá penalizar o conjunto do futebol nordestino.

De que forma os demais presidentes de federações pretendem combater as decisões do presidente da Federação Pernambucana?

A Federação Pernambucana tem autonomia para decidir, no seu âmbito, as datas e os períodos de realização do campeonato pernambucano. Como federação ela deve tomar decisões que procure mediar os interesses dos seus filiados, essa atitude deve levar em consideração principalmente as vontades de Náutico e Santa Cruz, que fizeram questão de participar do Campeonato do Nordeste. O Sport abriu mão dessa participação por uma decisão de diretoria e o clube acabou sendo prejudicado tecnicamente na disputa da série B, chegando a rondar a zona de rebaixamento por não ter aproveitado o período da Copa do Mundo para se montar melhor realizando jogos oficiais. As federações devem ser parceiras dos clubes e temos de lutar contra essa tentativa de boicote da entidade pernambucana.

A realização do Campeonato do Nordeste de forma concomitante aos Estaduais, prejudicaria muito as competições locais?

De forma alguma, nós teríamos apenas de adequar os Estaduais, temos fórmulas para atender a essa necessidade. Existe ainda o critério de acesso e descenso que favorecerão as disputas dos campeonato locais, uma vez que o estado que tiver o clube rebaixado no Campeonato do NE terá o direito de enviar outro representante para competição regional garantindo um atrativo a mais para disputa do seu Estadual. Ainda existe a possibilidade da criação de uma espécie de segunda divisão do campeonato promovido pela Liga do Nordeste, contemplando um calendário mais amplo para a maioria dos clubes da região. Além disso, ainda existe um prêmio financeiro aos participantes e para tonar o “Nordestão” ainda mais atrativo precisamos trabalhar para que o campeão do certame ganhe vaga numa competição como a Sul-americana, por exemplo.

Por traz dessa intenção do presidente da Federação Pernambucana de boicotar o Campeonato do NE, tem algum outro desejo obscuro?

A forma com se faz o Campeonato Pernambucano, que eu não tenho nada contra, onde o governo do estado banca 75% da presença do público nos estádios e a perpetuação de Carlos Alberto na federação de futebol por lá, embora sendo por eleição, transforma a competição deles num grande cartório. O governo transformou a disputa num evento chapa branca, a lotação dos estádios é um fato relativo,pois como eu disse, 75% daquele público que ali está é fruto do desenvolvimento de um projeto do governo estadual, o que serve para maquiar um pouco os números do campeonato deles, que é decadente e devedor. O Santa Cruz está fora de série, o Náutico vem despencando pelas tabelas, o Sport está com grave dificuldade para regressar para a série A. Os clubes são em sua maioria grandes devedores e isso não pode representar uma alternativa de modelo para o futebol da nossa região. O futebol só vai evoluir se crescer por inteiro, hoje nós temos apenas Vitória e Ceará na divisão de elite, o restante está tudo no mesmo nível e passando pelas mesmas necessidades.

A forma retardada como a crise no futebol nordestino está sendo percebida pode ocasionar a extinção de alguns clubes de grande torcida na nossa região?

Determinar eu não posso dizer, mas posso dizer que o futebol da paraíba havia praticamente acabado em João Pessoa. Hoje nós podemos comemorar a volta do Botafogo/PB. O CSA está na segunda divisão do Campeonato Alagoano e o futebol sergipano está ressurgindo para o cenário regional. Esse Campeonato do Nordeste possibilitou o ressurgimento dessas equipes, o calendário do RN hoje é outro com ABC e América disputando o regional e só não compreendo como a Federação Pernambucana não queira apoiar essa iniciativa. Não sei o que está por traz disso, mas acredito que no imbróglio possa haver as digitais de Virgílio Elísio. Quem age como Carlos Alberto, não age a favor do futebol pernambucano, mas contra o futebol do nordeste.

O Estadual de 2011 vai contemplar as datas para realização do Campeonato do Nordeste?

Nós temos de começar a discutir isso com rapidez, essa semana já devo publicar o edital de convocação dos clubes para tratar do assunto. Temos problemas sérios para debater além da questão do Campeonato do Nordeste, tem a questão da demolição do estádio Machadão e a ausência de política de governo estabelecendo um elo específico entre aquilo que será feito e o que os clubes estão programando. Nós não podemos avançar nestes pontos sem ter uma definição sobre as questões do Mundial de 2014. A federação está muito preocupada com essa questão, porque o governo do RN apenas faz de conta que escuta a FNF, mas, na verdade, nós não temos audiência alguma embora já tenha deixado claro nos meios de comunicação a nossa insatisfação. Os clubes terão de tomar uma posição em relação a estes fatos, o nosso governo tem o dever de observar essas ações no momento em que elas afrontam e ferem mortalmente o desenrolar do nosso futebol.

Devido a essas questões que estão envolvendo o futebol, você prevê que 2011 deverá ser o ano mais difícil de sua administração?

O enfrentamento dessas dificuldades vai requerer mais união entre os promotores do futebol no RN, a FNF hoje tem tido um comportamento mais institucional, mas impessoal, está sendo mais ouvida. Talvez a grande obra da minha gestão tenha sido a conscientização do público, demonstrando que os nossos maiores clubes e o nosso futebol de um modo geral não precisam apenas de soluções pontuais. As maiores soluções são aquelas que alcançam o conjunto da entidade de filiados, ABC e América estão compreendendo isso, assim como os clubes do interior. É essa ação conjunta que vai obrigar o governo e seus líderes a sentarem com a FNF para discutir o futebol como empreendimento gerador de emprego, lazer e renda. Talvez seja o maior cartão postal do RN, mas lamentavelmente os apoios recebidos são com quantias ridículas que mal servem para complementar a folha de pagamento de um único mês. É preciso se planejar melhor esses tipos de incentivos.

O futebol mexe com multidões, mas ainda assim no RN não consegue atrair a atenção das grandes empresas visando patrocínio?

Não posso crer que uma empresa do porte de uma Petrobras, uma Cosern — que possui um dos maiores lucros no estado —, bem como a Alesat, assim como tantas outras que operam no estado não investem recursos no esporte do RN. Acredito que esses empresários deveriam fazer um exame de consciência. Quando assumi a presidência da FNF diziam que não apoiavam por falta de projeto da federação, eu procurei a Alesat com apoio do empresário Arturo Arruda que idealizou o projeto de apoio ao futebol, mas a resposta que eu tive foi que a empresa não poderia ter o comprometimento. Levei para o Governo do RN, da mesma forma, busquei apoio junto a Prefeitura para o projeto Tom Maior e também não consegui nada.

Nós estamos a quatro meses do início da temporada de 2011, dará tempo de aprontar o Juvenal Lamartine para receber jogos?

Acredito que sim, caso se confirme os recursos garantidos pelo governador Iberê Ferreira. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma dúvida que isso deva ocorrer já que foi assumido um compromisso público. O resultado político é a contingencia da democracia, a palavra do homem a decisão política de um governador sério, tem que ser respeitada.

Quanto o poder público investe no futebol do RN?

São valores que dependem muito de quem está no comando, da caridade dessas pessoas e variam muito, porém, são R$ 100 mil, 150, 30, não há valor determinado.

A troca de governo poderá prejudicar o andamento e as negociações visando preparar a cidade para Copa de 2014?

Eu não acredito, conheço bem a governadora eleita Rosalba Ciarlini e quando do mandado de prefeita em Mossoró, ela se notabilizou como a administradora solidária ao futebol, por exemplo, foi quem mais investiu na reforma do estádio Leonardo Nogueira, foi quem mais apoiou os clubes da cidade. Não acredito que a nova governadora se transformará em algum obstáculo, ao contrário, confio que possamos avançar mais em algumas áreas.

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