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O homo digitalis

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Vicente Serejo
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Não nego o despreparo para compreender a vida digital, Senhor Redator, nem renego o direito de tentar entender como se movem as entranhas nos seus movimentos que a ciência chamaria de peristálticos, se é preciso, além de cérebro, ter estômago para digeri-los. O mundo é o mesmo há mais de dois mil anos, mas vive um processo intenso das reinvenções profundas que atordoam mesmo aqueles que se julgam aptos para viver as ressignificações de cada coisa. 
Não ser um grande entusiasta do historiador Leandro Karnal, ainda que se possa vê-lo como um filósofo pop, não significa o erro maior que seria desconhecê-lo. Convenhamos: ele tirou a borla e o capelo das vestes acadêmicas e tenta entender o novo mundo, admirável ou não, para lembrar a expressão de Aldous Huxley. Bem ou mal, e é lamentável, as ideias que ontem pareciam insanas, estão ai, reaparecem de várias formas, quase sempre, escamoteáveis. 
Leandro Karnal, queiramos ou não, entre simpatias e antipatias, tem lá as suas razões quando desconfia que no mundo digital é o próprio tempo que está à venda. O não conectar-se passou a ser uma forma de ser precário, um jeito derrotado de ser. O sem tela é o mesmo que o sem-teto e o sem-terra, daí o mundo de hoje ter mais celulares do que habitantes. Resta, portanto, quase nada para o espaço da individualidade. O homem plural agora é um estranho ser coletivo.
Se de um lado a telinha do celular eliminou os privilégios que antes estavam nas mãos de alguns poucos, de outro fez desse privilégio uma forma de exposição aos suaves ou muito abrasivos testes de sobrevivência. Não adianta fechar as portas e as janelas, apagar as luzes e desligar a televisão. Mesmo no cômodo mais discreto ou no lugar mais íntimo da casa, estamos expostos na medida em que estamos conectados à exposição como um sonho de igualdade. 
E é nesse ‘todo mundo sabe de tudo no mundo’ que o tempo de cada um, como afirma Karnal, está à venda, desde que não se cometa a mera tolice de imaginar que a moeda é a única forma de compra e venda. Você é a própria moeda nessa nova economia de trocas simbólicas. Passamos da questão shekeaspeariana – ser ou não ser – para a questão do homo digitalis – ser e ser. No mundo digital, a vida é viver na vitrine e passou a ser feio não ter espaço no seu palco. 
Câmara Cascudo dizia que o homem moderno estaria sentado numa pilha de livros com o olho do telescópio. Tenho impressão que ele errou. O saber dos livros já não mais representa a mais eficiente conexão. Na era do homo digitalis até o telescópio parece andar com seus dias cotados. Com o Google, o homo digitalis olha o mundo e o universo. E por isso tem a sensação que basta a si mesmo. É, pode ser. Para nós outros, os precários, a vida ainda continua a mesma.   

FEITOS – A vitória expressiva do governador João Dória com 90% dos votos tucanos sobre os seus concorrentes, nas prévias do PSDB, teve duas consequências sobre os tucanos aqui no RN. 
QUAIS – Mostrou a liderança forte do deputado Ezequiel Ferreira e mostrou que o partido não pode apoiar João Dória e Fátima Bezerra ao mesmo tempo. O PSDB terá que descer do muro.  
MAS – A descida do muro pode ter uma consequência se tiver candidato próprio ao governo do estado: ter que explicar seu passado recente sob o fogo cruzado do marketing político certeiro.
ISTO – Na hipótese de ser oposição à reeleição da governadora Fátima Bezerra, os tucanos poderão atingir a perfeição: um cruzamento puro de cruza que a biologia não conhece. 
ANOTEM – Ninguém subestime a candidatura do ministro Fábio Faria a senador. Pode ser o grande obstáculo para Rogério Marinho ser senador. O pai, Robinson Faria, sabe os caminhos.
NATAL – O advogado e consultor Arthur Dutra lança dia primeiro, amanhã, no Seaway Center – Av. Roberto Freire, 1962, em Capim Macio – o livro ‘Natal do Futuro’. Tudo a partir das 18h. 
POSE – De imortal a pose do professor Gaudêncio Torquato no convite de posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Em cerimônia virtual, às 17h, com saudação de Lívio Oliveira.   
EXPO – Você ainda pode visitar a exposição ‘Poética Protética – transfigurações em curso, da artistas plástica Carolina Teixeira na galeria Conviv’Art de Núcleo de Arte e Cultura da UFRN.
FUGA – Até agora os maiores partidos no Rio Grande do Norte – PSDB, MDB e União Brasil – estão sem candidatos ao governo. Fogem de qualquer indicação oficial. Uns, por medo, outros por suas reeleições já garantidas. Nem os tucanos que se vangloriam de serem os mais fortes.   
LUTA – Depois de cuidar dos sabidos, nos escaninhos da pandemia, o deputado Kelps Lima agora vai cuidar dos bichos apoiando o encontro dos protetores dos animais dia quatro próximo. Obstinado pelo voto para deputado federal em faixa própria, Kelps joga em todas as posições. 
VALOR – Tomislav Femenick, articulista semanal desta TN, é um nome nacional na área da economia. Seu novo livro, lançado nacionalmente, já está nas livrarias do Brasil: ‘Economia Avançada’. Um ensaio destinado a orientar empresas e empresários com negócios globalizados.  
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
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