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O jogo da vida no filme “Linha de passe”

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FILME -  Vinícius de Oliveira,  João Baldasserini, Kaique de Jesus e José Geraldo vivem os quatro irmãos

Tádzio França – Enviado a Recife-PE

Uma vida de expectativas limitadas – quando elas existem. Um cotidiano cinzento onde pessoas aparentemente invisíveis fazem a cidade se mover, mas não sabem para onde irão amanhã. “Linha de passe”, filme dirigido a quatro mãos por Walter Salles e Daniela Thomas, recorta um trecho dessa realidade   sem perspectivas da metrópole, para exibir mais uma face sem retoques do Brasil. Em cabine para a imprensa realizada em Recife, na semana passada, da qual participou a TRIBUNA DO NORTE, a atriz Sandra Corveloni (vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Cannes) e o roteirista George Moura falaram sobre a experiência de participar de uma película que registra, de forma quase documental, momentos de um cotidiano difícil. O filme está previsto para estrear depois da manhã, dia 05 de setembro.

“Linha de passe” usa de uma regra do futebol – a linha imaginária que delimita o impedimento dos atacantes    – como metáfora para o cotidiano de quatro irmãos e sua mãe, moradores da periferia de São Paulo. Reginaldo, o caçula, procura seu pai obsessivamente; Dario sonha com uma carreira de jogador de futebol, mas aos 18 anos, se vê cada vez mais distante dela; Dinho se refugia na religião evangélica, e o mais velho, Dênis, é pai involuntário de um menino, e motoboy cada vez mais impaciente com sua função. No meio deles, a mãe Cleuza, uma diarista – grávida – que também vive no seu limite dia a dia.   Cada qual com sua vida, vontades, objetivos e frustrações, tentando viver. “No processo de criação, entre os ensaios e as filmagens, descobrimos que todos os personagens têm em comum um desejo de viver melhor. É um filme sobre a necessidade de ser alguém”, explicou George Moura. Ele conta que foi convidado em 2003 para escrever o roteiro do filme. “O Walter queria fazer um filme ao estilo documental do irmão João Moreira Salles. Eu e a Daniela fizemos pesquisa de campo na periferia de São Paulo, tudo para contaminar o filme de realidade”. As cenas, passadas entre cultos evangélicos, corridas de motoboys e peneiras de times de futebol, utilizam diretamente o elemento real.

“Depois de assistir ao filme, muita gente diz que vai encontrar pessoas iguais àquelas ao sair na rua, de tão reais”, ressalta Sandra Corveloni. Ela mesma acompanhou algumas diaristas e as ouviu. “Conheci histórias incríveis dessas mulheres que cuidam sozinhas da família”, disse. A equipe chegou a morar duas semanas na casa onde a história se passa, convivendo com o bairro e a vizinhança. “A gente não inventou pessoas, elas foram surgindo naturalmente entre nossas relações”.

Outra vez, as lentes se voltam para a periferia, suas paisagens nada bonitas, as mazelas e os eventuais perigos do ambiente. Mas George Moura acredita que “Linha de Passe” não se enquadra em outros sucessos nacionais do ‘mundo cão’. Ao contrário. “Desde ‘Cidade de Deus’ o cinema nacional aponta a arma para o espectador. Houve a preocupação de não fazer mais um filme assim. O roteiro passou por 21 tratamentos para fugir disso. A gente propõe um novo olhar sobre a periferia. É um filme sobre pessoas que querem ser alguém, só isso. Cada um toca a bola para segurar sua vida”, explicou. 

Na Cannes ensolarada, a São Paulo cinza e caótica repercutiu bem. “Aquilo é uma loucura! Uma reputação se faz ou se acaba num instante. Ao menos na nossa exibição o público aplaudiu”, contou o roteirista. Para Sandra, que não estava em Cannes, a surpresa com seu prêmio foi ainda maior. “A Cleuza não tem o menor glamour, ela é politicamente incorreta nas coisas mais viscerais. Considero um trabalho sutil de composição”.

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