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O jogo do Assassino

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Rubens Lemos Filho

Na era dourada do futebol, de clássicos de estourar eletrocardiograma e das multidões em catarse, brincar com o imprevisível costumava fazer o algoz previsto chorar e a vítima presumida, festejar como se o mundo acabasse após a volta olímpica.

No dia 7 de setembro de 1979, há 40 anos completados ontem, estava nas cadeiras numeradas do velho Castelão com a ilusão infantil de que sairia para comemorar o bicampeonato do ABC, precisando apenas de um empate com o América para vencer os dois turnos e liquidar a fatura. O América vencendo, forçaria uma série de partidas extras.

 O ar triunfal do ABC desafiava os mistérios sobrenaturais do futebol. A torcida caprichara nos rojões, no papel picado, nas charangas e batucadas percorrendo a cidade. As faixas, devidamente prontas e escondidas, estampavam a frase traiçoeira “ABC Bicampeão 1978/79”, afronta à atmosfera perigosa de uma decisão não finalíssima.

 No ABC, o técnico Ferdinando Teixeira gastava seu verbo injetando confiança no goleiro reserva Souza, ex-juvenil que entraria no fogo substituindo o titular Carlos Augusto, suspenso. Não ter dois goleiros de nível semelhante era uma temeridade desprezada pelos cartolas da sede de Morro Branco, que foi vendida para a construção da Vila Olímpica, hoje resumida ao Estádio Frasqueirão.

 No América, o matreiro Caiçara anunciava a dúvida: Pedrada ou folclórico Oliveira Piauí entraria com a camisa 9 de centroavante. Oliveira Piauí e o meia Ubirani, haviam sido presos dias antes por um crime de quatro anos antes: em 1975, pelo Tiradentes do Piauí, defenderam uma prostituta que apanhava de um cliente.

O homem, armado, atirou nos jogadores, errou todos os disparos e morreu espancado. Às vésperas do jogo, a polícia piauiense esperou o fim de um jogo em Mossoró para algemar Oliveira e Ubirani.

 No dia 7 de setembro, que começou com o governador Lavoisier Maia presidindo o desfile militar ao lado do primo, prefeito de Natal, José Agripino, todas as atenções estavam concentradas no duelo quente. Da praia, das feijoadas e velórios, todos partiram ao estádio. Jogo nervoso, Pedrada começou de titular.

 O craque do Rio Grande do Norte, Marinho Apolônio, camisa 8 do América, era marcado pelos veteranos Baltasar e Danilo Menezes. Cérebro do ABC, Danilo se desdobrava e buscava caminhos ao ataque, vigiado de perto pelo bom volante Ronaldo Alves. O goleiro Souza defendeu bem um chute de curva do ponta-direita Sandoval. A torcida do ABC suava frio a cada intervenção do jovem reserva.

 Eis que o conselho diabólico do além começa a decidir a peleja. Oliveira Piauí vai ao aquecimento e a Frasqueira do ABC passa a insultá-lo:  “Assassino! Assassino! Assassino!”, mexendo com os brios de todo o time do América. Oliveira Piauí, cabisbaixo, prosseguia seus exercícios. Entrou em lugar do ponta-esquerda Davi.

 Aos 25 minutos do segundo tempo da antiga baliza da BR-101, Oliveira Piauí mergulhou e, de cabeça, acertou o ângulo do inerte Souza. Foi em direção da perplexa torcida do ABC que ele correu, dedo em riste e ensaiando passos toscos de samba. América 1×0.

Desnorteado, o ABC assistiu Pedrada fazer o segundo e diminuiu aos 45 minutos finais com Berg. Bandeiras enroladas ou queimadas, lágrimas e cinzas dos foguetões espocados, a Frasqueira voltava deprimida para casa.

 Duas partidas decidiram o campeonato, ambas empatadas em 0x0, e o América sagrou-se campeão nos pênaltis(4×2), provando que nem só a bola é a sentença. O invisível e o extraordinário costuram suas verdades inexoráveis. Oliveira Piauí morreu dois anos depois, de ataque cardíaco.

artigo

Times
O América do jogo histórico venceu com Zé Luiz; Ivã Silva, Joel Santana, o Papai Joel, Roberto Gaúcho e Sérgio Poti; Ronaldo Alves, Danilo Costa e Marinho Apolônio; Sandoval(Mário), Pedrada e Davi(Oliveira Piauí). ABC: Souza; Joel, Domício, Cláudio Oliveira e Carpinelli; Baltasar, Danilo Menezes e Noé Macunaíma; Tinho, Dentinho e Berg.

Sai, Claudinho  Das melhores figuras humanas de Natal, o presidente do Conselho Deliberativo do ABC, Claudinho Emerenciano, é ouro no meio do futebol. Claudinho deveria seguir o que pedem os amigos(eu, publicamente) e dar o fora desse ambiente.

Meterla premiado
Em São Paulo, no Brasil Expo, o médico Maeterlink Rêgo foi homenageado pelos 50 anos de atividade no esporte pela Comissão Médica e de Combate à Dopagem da CBF. Aplaudido de pé pelos colegas de todos os grandes clubes brasileiros. Uma certeza; o mais orgulhoso de todos era o Doutor Márcio Rêgo, seu filho. Todos os filhos, Marcelo, Márcio e Marquinhos seguiram o pai no ofício e na paixão pelo América.

Vital 
A medicina é um raro orgulho do futebol potiguar. Além do decano Maeterlinck, o médico do ABC, Roberto Vital, dá seu show como titular do Brasil no Parapan.

Gentil

O filósofo Gentil Cardoso dizia: “Não adianta jogar de primeira sem sair da retranca.”

Masters 

Sábado (14/09) tem América x Força e Luz pelo Campeonato de Master, às 8h15 no Campo do Jiqui, Zona Sul de Natal.

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