Na era dourada do futebol, de clássicos de estourar eletrocardiograma e das multidões em catarse, brincar com o imprevisível costumava fazer o algoz previsto chorar e a vítima presumida, festejar como se o mundo acabasse após a volta olímpica.
No ABC, o técnico Ferdinando Teixeira gastava seu verbo injetando confiança no goleiro reserva Souza, ex-juvenil que entraria no fogo substituindo o titular Carlos Augusto, suspenso. Não ter dois goleiros de nível semelhante era uma temeridade desprezada pelos cartolas da sede de Morro Branco, que foi vendida para a construção da Vila Olímpica, hoje resumida ao Estádio Frasqueirão.
No América, o matreiro Caiçara anunciava a dúvida: Pedrada ou folclórico Oliveira Piauí entraria com a camisa 9 de centroavante. Oliveira Piauí e o meia Ubirani, haviam sido presos dias antes por um crime de quatro anos antes: em 1975, pelo Tiradentes do Piauí, defenderam uma prostituta que apanhava de um cliente.
O homem, armado, atirou nos jogadores, errou todos os disparos e morreu espancado. Às vésperas do jogo, a polícia piauiense esperou o fim de um jogo em Mossoró para algemar Oliveira e Ubirani.
No dia 7 de setembro, que começou com o governador Lavoisier Maia presidindo o desfile militar ao lado do primo, prefeito de Natal, José Agripino, todas as atenções estavam concentradas no duelo quente. Da praia, das feijoadas e velórios, todos partiram ao estádio. Jogo nervoso, Pedrada começou de titular.
O craque do Rio Grande do Norte, Marinho Apolônio, camisa 8 do América, era marcado pelos veteranos Baltasar e Danilo Menezes. Cérebro do ABC, Danilo se desdobrava e buscava caminhos ao ataque, vigiado de perto pelo bom volante Ronaldo Alves. O goleiro Souza defendeu bem um chute de curva do ponta-direita Sandoval. A torcida do ABC suava frio a cada intervenção do jovem reserva.
Eis que o conselho diabólico do além começa a decidir a peleja. Oliveira Piauí vai ao aquecimento e a Frasqueira do ABC passa a insultá-lo: “Assassino! Assassino! Assassino!”, mexendo com os brios de todo o time do América. Oliveira Piauí, cabisbaixo, prosseguia seus exercícios. Entrou em lugar do ponta-esquerda Davi.
Aos 25 minutos do segundo tempo da antiga baliza da BR-101, Oliveira Piauí mergulhou e, de cabeça, acertou o ângulo do inerte Souza. Foi em direção da perplexa torcida do ABC que ele correu, dedo em riste e ensaiando passos toscos de samba. América 1×0.
Desnorteado, o ABC assistiu Pedrada fazer o segundo e diminuiu aos 45 minutos finais com Berg. Bandeiras enroladas ou queimadas, lágrimas e cinzas dos foguetões espocados, a Frasqueira voltava deprimida para casa.
Duas partidas decidiram o campeonato, ambas empatadas em 0x0, e o América sagrou-se campeão nos pênaltis(4×2), provando que nem só a bola é a sentença. O invisível e o extraordinário costuram suas verdades inexoráveis. Oliveira Piauí morreu dois anos depois, de ataque cardíaco.
Sai, Claudinho Das melhores figuras humanas de Natal, o presidente do Conselho Deliberativo do ABC, Claudinho Emerenciano, é ouro no meio do futebol. Claudinho deveria seguir o que pedem os amigos(eu, publicamente) e dar o fora desse ambiente.
Gentil
Masters