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O livreiro sarcasta

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Woden Madruga

Além dos ventos fortes que sopram do mar e das queimadas que vão se espalhando pela Amazônia, pelos cerrados (caatingas, idem) e dos discursos de Brasília (que discursos!), setembro também é o mês das letras, dos fazeres literários. Pelo menos é o que, através das brechas, se observa por estas aldeias potiguares.  Agenda cheia. Destaque especial para a Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (FLIQ) que está acontecendo derna de quinta-feira na Arena das Dunas. O encerramento será neste domingo, um dia cheio de coisas boas por lá. Palestras, oficinas, lançamentos de livros (autores daqui e de fora), contação de histórias, intervenções artísticas.
Na programação muita coisa no rastro da literatura de cordel: poetas, repentistas, cantadores que sempre foram enaltecidos pelo poeta maior Manuel Bandeira depois de ouvir uma dessas cantorias no interior de Pernambuco: “Saí dali convencido / Que não sou poeta não; / Que poeta é quem inventa / Em boa improvisação, / Como faz Dimas Batista / E Otacílio, seu irmão, / A todos os quais, humilde, / Mando a minha saudação”. Este ano um dos homenageados da FLIQ é o cordelista mossoroense Antônio Francisco. Outro gigante lembrado no evento: Oswaldo Lamartine de Faria.

Mas o setembro das letras não acontece apenas no território da FLIQ. Tem outros eventos marcados em outros espaços. Na semana que vem, por exemplo, dia 26, teremos o lançamento do novo livro de Berilo de Castro, Memória Emoldurada. Todas as tribos atentas. Quinta-feira que passou houve na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras o lançamento do livro da poeta Maria Heloisa Brandão Varela, Minha Alma Nua. Outro acontecimento importante aconteceu ontem, sábado, no Sebo Vermelho: Manoel Onofre Jr. autografou a segunda edição (refundida) de o  Simplesmente Humanos. Trata-se de seu 40º livro, lá se vão 55 anos de intensa atividade literária: cronista, contista, ensaísta, crítico literário, também como passagem pelo jornalismo.

Tudo começou quando, em 1964, aos 21 anos de idade, publicou o seu primeiro livro, Serra Nova (contos e crônicas), prefaciado pelo mestre Edgar Barbosa. De lá pra cá não parou. Apenas aposentou-se como magistrado (desembargador do Tribunal de Justiça). Divide o tempo lendo, relendo, escrevendo, cuidando da revista da ANRL, da qual é imortal. Ano sim ano não dá uma esticada até Portugal e, dia sim dia não, assina o ponto no bate-papo do Sebo Vermelho, Abimael Silva como mediador.

Nesta segunda edição de Simplesmente Humanos, Manoel Onofre Jr. acrescentou cinco crônicas novas, uma delas com título “Luiz, o sarcasta”, deliciosa história que tem como personagem principal o livreiro Luiz Damasceno, grande figura desta aldeia literária. Transcrevo-a na íntegra:

Luiz, o sarcasta
Conheci Luiz Damasceno nos meus bons tempos de estudante.

Era o começo dos anos 60 quando fui apresentado àquele jovem magro e ruivo, em seu local de trabalho, a Livraria Universitária. Pareceu-me ser o braço direito do livreiro Walter Pereira, dono da livraria que marcou época na vida cultural natalense.

Solícito, atencioso, amigo dos livros, logo se tornou amigo também de muitos clientes. Não se limitava a falar sobre as novidades literárias, mas enveredava por outros assuntos, como muito senso crítico e humor, verdadeiro ‘causeur’. Os assuntos de natureza político-ideológica quase sempre na pauta. Luiz era, como sempre foi, de esquerda. Radical. Coerente consigo mesmo. Nos anos de chumbo, foi preso, amargou os cárceres da ditadura militar.

Revejo-o, na tela da memória, em meio ao burburinho da “Universitária”.

Walter Pereira, grandiloquente e cordial, bradando:

– Luiz!!!

– Pois não, seu Walter – acudia o lugar-tenente, o mentor intelectual do livreiro.

Anos depois, Luiz, deixando a “Universitária”, juntou-se a um colega de trabalho para fundar outra livraria, a “Opção”, que não teve vida longa, se bem me lembro.

Voltei a privar da convivência com o amigo, embora de modo eventual, na livraria da Cooperativa Cultural da UFRN, em que ele era o manda-chuva na área de atendimento aos clientes. Sempre conversador, fazendo novos amigos e- dizem as más línguas – falando da vida alheia. A este respeito vale ressaltar o seu já aludido senso crítico e a desconcertante franqueza, que lhe era peculiar.

Bem humorado e espirituoso, ele arriscar a perder uma amizade para não perder uma boa piada, um dito chistoso.

Contaram-me que, certa vez, na Livraria da Cooperativa Cultural, ele conversava com alguns amigos sobre escritores potiguares, e o meu nome surgiu, não sei porque cargas d’água.

Alguém, então, disse:

– Onofre é gente boa.

E Luiz:

– É mesmo; não faz mal a ninguém, só à literatura. ”

Mais livro
Outro destaque na FLIQ foi o lançamento, quinta-feira, do segundo volume do livro O Sentido Primeiro das Coisas: ensaios sobre a obra de Maria Teresa Horta, organizado pela professora e escritora Conceição Flores, açoriana com forte sotaque natalense.

Maria Teresa Horta, poeta, escritora e jornalista, é um dos grandes nomes da literatura portuguesa contemporânea. Já andou por Natal, a convite de Conceição Flores, para participar do Seminario Internacional da Mulher e a Literatura, realizada em 2009. O livro tem orelha assinada por Constância Lima Duarte, que prefaciou a primeira edição.

Nesta segunda estão reunidos 25 ensaios de escritores e professores portugueses e brasileiros. Entre eles, gente que vive por estas bandas potiguares.

Conselho de Justiça
Amanhã, em Brasília, tem a solenidade de posse do ministro Emmanoel Pereira como membro do Conselho Nacional de Justiça, cujo presidente é o ministro Dias Toffoli.  Emmanoel Pereira, natalense da gema, é ministro do Tribunal Superior do Trabalho (STJ).

Fortaleza

A Fortaleza dos Reis Magos, o marco histórico mais importante do Rio Grande do Norte, continua fechado. Faz anos. É herança do governo passado mantida pelo atual. Suas obras de restauração estão paralisadas.

Segundo mestre Gaspar, a salvação da fortaleza só acontecerá com a volta dos holandeses retomando o seu Castelo Keulen

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