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O mal nosso de cada dia

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A constância do mal me intriga e preocupa. Não apenas o mal que parece absoluto, como em alguns momentos específicos da história da humanidade (as ditaduras, os genocídios, a fome e a miséria de milhões…), mas sobretudo o mal dissimulado e escondido entre as pequenas vilanias que são praticadas no dia a dia. Gestos comezinhos, desatenções imprudentes, desfeitas inconscientes, mesquinharias inúteis… Atos gratuitos que, diriam os psicólogos, são reflexos da fragilidade em que vivemos, do medo de se expor, do sentido de autodefesa. Porquê sentimos o fascínio – e não a quem o sinta, pelo menos uma vez – de parecer cruel?

É preciso saber como se é ou o quanto podemos vir a ser mau para, só então, entender os enigmas da alma que nos afastam do bem. Haverá quem considere que esse é um problema pessoal, cabendo a cada um fazer as escolhas que melhor lhe aprouver na vida. O que eu penso é que se não estivermos atentos para percebermos e evitarmos as pequenas infâmias que nos tentam diariamente, elas logo se transformam em portas largas por onde entra o mal maior. O mal socializado, banalizado na aceitação – hoje, já mais ou menos generalizada – de que na sociedade pós-moderna em que estamos vivendo impera uma nova “lei da selva”. A crer nos teóricos da neo-globalização, bom é quem se mostra mais eficiente em meio a concorrência dos mercados (de trabalho, de amor, de afirmação pessoal). Por conseguinte, o bem é tudo aquilo que nos leva a vencer e ter sucesso. A pobreza, o desemprego, a degradação ambiental são “conseqüências inevitáveis do progresso e do crescimento de alguns que atingem a outros…” E assim o mal se torna relativo, dependente do lado da questão no qual se está.

Há uma semana que o Papa Bento XVI tornou pública sua primeira encíclica (Deus é Amor), em que por via de falar sobre a prática da caridade, sobre a aceitação do erotismo entre os esposos e sobre o apego à justiça social, no fundo acaba por falar também do que é o bem para os homens. O amor em sua tripla forma (eros, philia e ágape) exige sempre a presença do bem ou não é amor. Será posse, na primeira forma; interesse egoístico, na segunda; hipocrisia, na terceira. “O mal é sempre a ausência do bem”, pontificavam os escolásticos, antigos doutores da igreja de Bento XVI, aos quais é válido e proveitoso recorrer para uma leitura mais profunda e reveladora sobre o mal.

A editora Sétimo Selo, especializada em filosofia medieval, acaba de oferecer uma ótima oportunidade para o estudo filosófico e teológico da questão. No ano passado, eles lançaram A Natureza do Bem, de Agostinho. Agora, estão lançando Sobre o Mal (343 páginas. R$ 44,00), edição bilíngüe (latim/português) do texto de Tomás de Aquino, “onde se aperfeiçoa os conceitos filosóficos já emitidos por Agostinho e se concilia à existência do mal no mundo – a privação do bem – com a existência de um Bem Supremo, que é Deus”. O livro é o primeiro tomo de uma série de quatro volumes, que deverão sair ainda este ano. É ainda, ao lado da Suma Teologia, uma das obras-primas de Tomás de Aquino. A apresentação é do professor e filósofo Paulo Faitanin (UFF), mas é das “orelhas”, assinadas por Sidney Silveira, que retiro a justificativa para ter abordado, aqui, a questão do mal diuturno como pretexto: dado que “a realidade se apresenta para o homem por um duplo viés – é mistério e problema”, em ambos é o mal o maior.

Explicando JK

Claudio Bojunga pesquisou 10 anos, entre 1990 e 2000; precisou descansar e se distanciar mais três de todo o material recolhido e outros 18 meses para dar o texto final a JK – O artista do impossível (800 páginas. R$ 74,90 – Objetiva). O esforço, no entanto, valeu a pena. O livro ganhou o prêmio Jabuti do ano passado e pode ser considerado mais do que uma biografia de Juscelino Kubitschek. A partir da constatação de que Minas é uma singularidade dentro do Brasil e Diamantina, cidade onde nasceu Juscelino, uma singularidade dentro de Minas, Bojunga constrói um verdadeiro ensaio político/antropológico sobre a consolidação da modernidade no Brasil.

O olhar da gueixa

Vai estreiar nos cinemas, o filme. Nas livrarias, a Imago já lançou a terceira edição Memórias de uma gueixa (459 páginas. R$ 60,00), de Arthur Golden. Rico em minúcias e revelando um conhecimento profundo da cultura e da história do Japão, este romance traz as confissões e as histórias de vida da gueixa Nitta Sayuri. O leitor entra num mundo onde o que mais conta são as aparências, onde pode-se leiloar a virgindade de uma criança, onde as mulheres são treinadas para enfeitiçar os homens mais poderosos, e onde o amor é desprezado como uma ilusão. Sucesso de crítica e vendas, nos EUA, o livro foi considerado “a descrição mais minuciosa da alma de uma mulher já apresentada por um homem”.

O que dá sabor

Arroz e lentinhas, cozidas juntas ou separadas, na água e no sal, alimentam, mas não têm nenhuma graça. Junte duas colheres de manteiga (ou azeite) e refogue com duas colherinhas de chá de cominho e o resultado é surpreendente. São elas, as especiarias que dão sabor e vida a qualquer alimento. Disso já sabiam os antigos e os europeus do século XIV reinventaram o mundo para obtê-las. No caminho, “descobriram” o Brasil. Agora, Rosa Nepomuceno revela em O Brasil na rota das especiarias (174 páginas. R$ 30,00, Jose Olympio) as especiarias nativas, tão saborosas e interessantes quanto o cominho, cravos, canela e a pimenta negra que vêm do Oriente e da Ásia. 

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