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O mau exemplo de Trump

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                            
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)
As últimas encenações de Trump foram profundamente nocivas à democracia dos Estados Unidos. Quanto a isso não há a menor dúvida. Constituíram ameaça às instituições norte-americanas e conspurcaram a imagem de maior democracia do mundo construída pelo país que Trump governou desastradamente durante quatro anos. Mas há outro aspecto importante a considerar. É que ele serve de modelo a governantes de outros países. Dentre os quais, o Brasil. O negacionismo da pandemia, a hostilidade às políticas ambientais, a homofobia, o misoneísmo, a misoginia, a aversão à ciência, o populismo desenfreado, o autoritarismo, a mitomania, tudo isso é copiado pelos imitadores de Trump.
Derrotado em sua pretensão de reeleger-se, Trump recusou-se a aceitar a derrota. Promoveu inutilmente várias ações judiciais. Pediu em vão a recontagem de votos. Mesmo assim continuou afirmando ter sido vítima de fraudes monumentais. Haveria uma conspiração do sistema eleitoral para roubar os seus votos e atribuí-los a Joe Biden. Suas acusações, entretanto, sempre foram destituídas do mínimo sequer de provas. Nunca passaram de demonstrações patológicas de mau-caratismo e de desequilíbrio mental. E excedeu-se nessas desvairadas tentativas de reverter o resultado das eleições: os seus atos degradaram o cargo que exerce e colocaram em xeque o sistema democrático dos EUA.
Essa investida contra a integridade de processo eleitoral já chegou por aqui. De que forma? Com a arguição de dúvidas e suspeições mirabolantes que desacreditam o voto eletrônico. A alegação antecipada de fraude é grave porque revela premeditação: se eu perder, vou fazer igual a Trump – armar um escarcéu, impugnando violentamente o resultado da eleição sob pretexto de que houve fraude. Isso importa em declarar aberta e francamente que não aceita a manifestação do voto popular. Porque a denúncia de fraude, quando desacompanhada de elementos de convicção que a confirmem, representa cínica, abusiva, torpe manobra de invalidação da escolha feita pela maioria do eleitorado.  
As instituições norte-americanas, tidas como modelares e de inexpugnável solidez, resistiram a duras penas às canalhices de Trump. E as nossas instituições, assombradas de vez em quando com homenagens a torturadores e com entusiásticos enaltecimentos da ditadura de 64, como se sairá dessa prova de fogo? A Justiça Eleitoral já começou a botar as barbas de molho. Proclamou a confiabilidade e intangibilidade da urna eletrônica. E rejeitou como inadmissível e grotesco retrocesso o retorno ao voto de papel. Mas isso encerrará o assunto? O mau exemplo de Trump vai nos imunizar?
Ou, pelo contrário, as sedes do Legislativo e do Judiciário estão expostas ao mesmo risco de invasão e vandalização por extremistas de ultradireita (terroristas?) como aconteceu com o Capitólio? Sei que os supremacistas brancos, lá nos EUA, não irão se acomodar. Eles formam o grosso das milícias trumpistas. Atuam nas redes sociais e em movimentos coletivos criminosamente organizados.  
Mas a expectativa é de que o fracasso do continuísmo de Trump desarticule os grupos, partidos e governos que o macaqueiam. Essa talvez seja a melhor consequência da eleição de Biden/Kamala.  
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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