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O menino que sabia desenhar

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Yuno Silva
Repórter

Moacyr Gomes tinha apenas dez anos quando o Zepelin cruzou os céus de Natal, nos idos de 1937, e jogou uma coroa de flores em homenagem a Augusto Severo (1864-1902). Durante a 2ª Guerra Mundial aprendeu a falar inglês trabalhando para o exército norte-americano; já na virada dos anos 1940 para 1950 estudava no Rio de Janeiro e viu de perto a inauguração do Maracanã. Durante a fase universitária ganhou alguns trocados como lutador de telecatch sob o disfarce de Kid Pasqualini, quando treinava na academia do pai do lutador de boxe Éder Jofre; e após a graduação retornou ao Rio Grande do Norte para projetar escolas em várias cidades do interior e ‘escrever’ sua maior obra: o estádio de futebol João Machado, inaugurado em 1972 sob o nome Castelo Branco (Castelão), conhecido como o “poema de concreto”.
Moacyr Gomes, 87, é arquiteto, natural de Caicó, e autor do projeto do estádio João Machado (Machadão), demolido em 2011 para construção da Arena das Dunas
A vida e a carreira do arquiteto Moacyr Gomes, 87, primogênito de nove filhos, cuja trajetória se confunde com a história de Natal e do RN, é o recheio do livro “O menino do Poema de Concreto” (Sebo Vermelho Edições, R$ 40), biografia organizada por Carlos Roberto de Miranda Gomes, 75, irmão de Moacyr. O livro será lançado nesta próxima quarta-feira (10), às 19h, no Instituto Histórico e Geográfico do RN, Cidade Alta.

Foram quase dois anos de trabalho, e através dos relatos de Moacyr Gomes o livro traça uma colcha de memórias que traz detalhes e curiosidades dos bastidores, como o fato de Moacyr nunca ter viajado para o exterior: “Correram boatos de que o projeto do Machadão teria sido concebido após Moacyr Gomes ter feito uma visita à Alemanha. Como, se ele nunca saiu do Brasil?”, revela o irmão.

O autor também conta no livro que a primeira personalidade política que assimilou a ideia da construção de um estádio em Natal foi o ex-prefeito Djalma Maranhão (1915-1971), que demarcou o terreno onde o estádio seria construído em Lagoa Nova. “A obra só foi iniciada durante a gestão do então prefeito Agnelo Alves, e quando veio o regime Militar a construção estava em uma fase irreversível”, disse Carlos Gomes, admitindo que o projeto original nunca foi concluído em sua plenitude.

Outras curiosidades também estão no título como o episódio dos engenheiros e arquitetos envolvidos na construção do estádio: eles assistiram a partida inaugural das arquibancadas em solidariedade ao ex-prefeito Agnelo Alves, que havia iniciado a obra e não recebeu o convite oficial para estreia. 

Na ocasião, o então governador Cortez Pereira (1924-2004) disse durante seu discurso que o estádio era um “poema de concreto”, elogio que fez a fama do projeto e foi confirmado por João Havelange, que na época estava à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e veio prestigiar a inauguração em julho de 1972.

Entrevista na TV
“A ideia de escrever a biografia surgiu em 2009, quando estava assistindo uma entrevista com meu irmão na TV. Deram pouco espaço para ele apresentar a proposta de adequação do Machadão para a Copa do Mundo, não deixavam ele falar, estavam mais interessados na primeira versão do projeto que envolvia a construção de um novo Centro Administrativo e da Arena das Dunas. Foi a partir dali que percebi que precisava contar essa história”, recorda o autor.

Carlos Gomes garante que o irmão está bem de saúde, que continua desenhando, mas admite que a demolição do Machadão foi um desgaste grande, e que só agora ele retoma sua rotina normal: o grande golpe na estima do arquiteto e no desejo de ver seu “poema de concreto” preservado foi dado dia 14 de maio de 2011, quando 18 pessoas deram uma volta olímpica em protesto contra a demolição do estádio. “Depois disso ele não queria mais sair de casa, não queria mais dar entrevistas. Aí eu e os amigos começamos a levantar o ânimo. Com o entusiasmo renovado, voltou a se reunir com os amigos e voltou a me dar mais detalhes para a conclusão da biografia”, contou Carlos, lembrando que se antes Moacyr relutava em lançar uma biografia, agora está cheio de expectativa para o lançamento.

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