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“O mercado está bom para quem quer comprar”

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Entrevista
Arnaldo Gaspar Júnior, presidente do Sinduscon

Ele está apenas há um ano na função, mas já vivenciou desafios transformadores. Em conversa com a Tribuna do Norte, o empresário Arnaldo Gaspar Júnior, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon/RN), faz uma avaliação sobre a sua administração e traz luz a questões fundamentais: como o setor da construção se comportará neste semestre? Quais os obstáculos que o Rio Grande do Norte precisa superar? Entre outros assuntos, Arnaldo Gaspar também comenta se é mesmo possível descartar a ocorrência de uma bolha imobiliária no Brasil. “A nossa situação é favorável e completamente diversa dos acontecimentos que ocorreram nos Estados Unidos e na Espanha”. Acompanhe esta e outras declarações na entrevista a seguir:
Arnaldo Gaspar Júnior, presidente do Sinduscon
Qual a avaliação que você faz da construção civil no Estado e quais as projeções para este semestre?

O primeiro semestre não foi bom porque a economia do Brasil desacelerou e a construção civil acompanhou o movimento. É fato: nós desaceleramos em comparação ao primeiro semestre de 2011. Na realidade, porém, nós estamos crescendo menos, o que não significa dizer que não estamos crescendo. Como nós vínhamos num crescendo muito fortes desde 2003, hoje as pessoas só veem mais o lado negativo. No entanto, todos os indicadores da construção civil, no primeiro semestre, foram positivos, apesar da desaceleração. De qualquer forma, é preciso analisar: está ruim pra quem, está bom pra quem? Hoje, por exemplo, as construtoras lançam menos, estão mais cautelosas, mas o mercado nunca esteve tão bom para quem está procurando um apartamento. Se o mercado estivesse aquecido, com as construtoras vendendo tudo o que quisessem, lançando a toda hora, não estaríamos vivenciando um momento quase único pra quem procura o imóvel, cheio de promoções e facilidades de financiamento.

Isso acontece em todo o setor?

É importante lembrar que a construção civil, além de um mercado imobiliário, é um mercado de obras públicas. Assim, o que eu acho que mais trava a nossa performance é o mercado de obras públicas, porque desde a mudança dos governos federal e estadual, em 2010, a gente não consegue recuperar o ritmo de execução e licitação como antes, o que acaba interferindo em todo o setor. Sobre os empregos, é verdade que não estamos criando vagas na mesma velocidade de antes, mas também não temos perdas de posto de trabalho.

E para o segundo semestre?

As obras públicas são responsáveis pela maior distribuição de dinheiro entre a sociedade. Em Natal, mais de 1 bilhão de reais está preso, esperando o avanço das obras de mobilidade para a Copa de 2014, que deve ocorrer agora. Isso vai irrigar a nossa economia. No segundo semestre, começaremos a sentir também os efeitos da redução de juros e do alongamento de prazos dados pelo Governo Federal.

Em entrevistas anteriores, o sr. descartou o risco de uma bolha imobiliária no Brasil. Continua com a mesma opinião?

Uma coisa é você ter os aquecimentos e desaquecimentos da economia, como vemos no Brasil, algo benéfico para o mercado. A bolha é quando você infla o mercado, criando risco de inadimplência. Isso não existe aqui. Primeiro, porque as restrições ao crédito, no Brasil, são muito maiores. O sistema de crédito atende pessoas que estão comprando o primeiro apartamento, geralmente mais responsáveis, que fazem de tudo para honrar o compromisso por que só têm aquele imóvel. Nós temos uma carência de 10 milhões de moradias, isso não é bolha. Além disso, apesar do prazo para quitação do imóvel ter aumentado, o valor das parcelas vai diminuindo. Então, não há como falar em bolha. A nossa situação é favorável, e completamente diversa dos acontecimentos que ocorreram nos Estados Unidos e na Espanha.

Os preços praticados no Rio Grande do Norte são justos?

Sim. Eu tenho consciência de que nós temos um dos preços de m² mais baratos do Nordeste. Apesar das restrições impostas pelo Plano Diretor da cidade, que barra a verticalização e a construção em Zonas de Proteção Ambiental, temos sim um preço acessível. Claro que isso se explica de uma maneira muito clara: a concorrência em Natal foi muito mais acirrada do que em cidades como João Pessoa, Maceió e Recife. E isso porque nós tivemos duas explosões de investimentos. A primeira, da qual nem todas as cidades do Brasil participaram, foi o boom ocasionado pelo mercado europeu. Em 2002, 2003 e 2004, era grande o grande fluxo de europeus que queriam investir como empresários e pessoas físicas na nossa cidade. Isso trouxe empresas de fora e deu musculatura a empresas locais, estimulou a concorrência. Foi o boom que verticalizou Ponta Negra. A partir de então nós passamos a concorrer com empresas de fora, então nosso preço cai.

E o que “expulsou” os estrangeiros daqui?

São vários os fatores. A economia vem em ondas. Em 2004, a situação cambial era favorável para a entrada do capital internacional. O dólar, nesse período, chegou a valer quase 4 reais. Somos uma cidade turística, e também era mais barato vir para cá. Até o tsunami na Indonésia contribuiu pra que Natal fosse “descoberta”. No entanto, de 2008 para cá, a crise mudou o cenário na Europa. Hoje, temos uma moeda supervalorizada. Hoje os europeus acham os nossos preços caros.

Podemos apontar a degradação dos equipamentos públicos como um fator responsável pela queda dos investimentos estrangeiros na construção civil do nosso Estado?

Não necessariamente. Acredito que, na verdade, Natal está perdendo um pouco as características de uma cidade turística, pequena e agradável, para assumir características das grandes cidades, que possuem problemas crônicos, como um trânsito emperrado. Hoje, quando o turista faz um passeio de buggy, ele verifica facilmente os problemas da cidade. As nossas dunas já são urbanas. Isso pode afastar os turistas, sim. Então precisamos reciclar esse turismo. A Via Costeira, por exemplo, poderia ser o nosso grande diferencial. Ela poderia ser totalmente pensada para ser uma máquina de geração de recursos para o Rio Grande do Norte; no entanto, ao invés de discutir como incrementar a área, nós discutimos se vamos ou não ocupar terrenos vazios, terrenos esses que foram planejados para receber hotéis. Nesses locais, a sociedade investiu, através dos governos, construindo tubulação, sistemas de gás, saneamento. Mas hoje existem restrições legais que impossibilitam o crescimento da região.

Como anda a atuação do Sinduscon em relação ao Plano Diretor de Natal?

O plano está meio parado, mas recentemente discutimos sobre a regulação das Zonas de Proteção Ambiental, o que é um avanço para a nossa classe. Atualmente, nós apresentamos nossas sugestões de uma forma muito transparente. Antes, só o Ministério Público tinha voz. Nos sentimos à vontade pra fazer isso, uma vez que  nosso setor é o que mais obedece ao Plano Diretor. Nossas empresas têm CGC, aparecem, dão entrevistas. Por isso, nunca vamos nos furtar de dar as nossas sugestões e mostrar as consequências do Plano Diretor para a sociedade. Será que, nos moldes atuais, o Plano Diretor pode ser considerado satisfatório? O natalense foi jogado para as periferias da cidade e o nosso cinturão verde foi perdido por causa dessa expansão. Estamos prejudicando até nossas lagoas e deixando uma porção de vazios urbanos. A gente quer mostrar isso. Todo dia, quando o cidadão pega o engarrafamento de Parnamirim para Natal, ele deve pensar: “O que me trouxe para essa situação?” As restrições do Plano Diretor. A verticalização, por exemplo, ajuda a resolver esse problema.

Vocês são bem aceitos nessa discussão?

A imprensa tem dado voz ao problema, mas eu ainda sinto uma perplexidade como se nós, os empresários, só visássemos o lucro, acima de tudo. Nós temos mostrado que não é bem assim. Ora, nós construímos casas para famílias, não para nós mesmos. Eu construo porque existe demanda, e a atividade gera crescimento econômico. Não aceitamos a pecha de destruidores, de gananciosos. E a sociedade está começando a perceber que queremos realizar o sonho da casa própria, uma mudança de mentalidade que pode incomodar.

Qual o balanço que você faz deste período à frente do Sindicato?

Está sendo um grande desafio, estou aprendendo muito a lidar com públicos diversos, inclusive com vocês da imprensa. Tive a sorte de herdar um Sinduscon extremamente preparado para este momento de desafios que estamos vivendo. Eu me sinto instigado e feliz por dar a minha contribuição, e espero que isso seja percebido pela sociedade e pelos meus pares.

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