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O monstro

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Vicente Serejo
Luiz Maria Alves é vítima de sua própria visão avant la lettre, o homem à frente do seu tempo numa província que via suas ideias como algo quixotesco. Partiu dele o primeiro grito contra o processo de desertificação da caatinga; a defesa da paisagem e o combate por mudanças que seriam marcantes no projeto original da Via Costeira; e a longa campanha que patrocinou, sozinho, nas primeiras páginas do ‘Diário’ e de ‘O Poti’, contra a mosca doméstica que chamou de monstro. 
Era frio em certas horas. Noutras, escondia as suas emoções como se fosse feio a um líder manifestar fraquezas. Deixava tudo jogado do outro lado daquele seu bigode austero. Justificava a reação dos críticos – e não eram poucos, nem fracos – repetindo, sempre, que era o preço de liderar o mercado, na medida em que ele dirigia o então maior e mais forte jornal da cidade. Não aceitava dividir o mando e espantava por assumir esse mandonismo, ainda que custasse caro essa vaidade. 
Quando resolveu defender a caatinga, bioma ameaçado e hoje tão estudado, não inventou nada de sua cabeça. Leu no Estado de S. Paulo, sua referência no jornalismo brasileiro, que retornara ao Recife, onde residia, o geógrafo Vasconcelos Sobrinho, vindo de uma reunião da Unesco sobre a desertificação no mundo e, inclusive, no Nordeste. Buscou a chancela da UFRN e patrocinou sua vinda a Natal. Para representar o Diário de Natal, na mesa, teve o cuidado de indicar Hélio Galvão. 
Na defesa dos morros como a mais extensa reserva nativa de Mata Atlântica urbana, lutou sem trégua e no fim visava o que assegurou: que a avenida, se tivesse que ser construída, que fosse entre os hotéis e os morros. Ou seja: a estrada seria o limite definitivo da ocupação para que todas as edificações fossem feitas nos platôs naturais. Trouxe Burle Max e tinha a absoluta convicção que eliminada a cobertura vegetal das dunas móveis, o desastre ecológico seria grave e inevitável. 
Não foi diferente quando, um belo dia, resolveu aprofundar suas leituras sobre os perigos da mosca doméstica. Andava com o grosso volume de um tratado de entomologia de um cientista norte-americano ou inglês, já não lembro, mostrando que o aumento de doenças transmissíveis no Brasil, e no Nordeste, apontadas pelas estatísticas sanitárias, era fortemente em consequência da mosca doméstica atraída pelos currais ainda existentes na cidade e do lixo sem tratamento adequado. 
Alves tinha noção da força do jornal. E foi expor as suas ideias ao caricaturista Emmanuel Amaral para contratar uma série de desenhos que, bem ampliados, retratassem a mosca como um monstro. Lançou a campanha numa edição de domingo, em O Poti, alertando que era aquele o monstro que vivia ‘em sua casa e sua mesa’. Guardei a reprodução de um dos desenhos da campanha que ilustra a crônica de hoje. Luiz Maria Alves, queiram ou não, era implacável, sim, mas genial. 
SANTANA – O conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico ratificou o tombamento como patrimônio imaterial da Festa de Santana de Caicó como a maior devoção popular do Estado.
DEFESA – Na reunião virtual, Diógenes da Cunha Lima, conselheiro do Iphan, defendeu a força da civilização seridoense, ele que doou o sino e o galo da torre da Matriz de Santana, em Caicó. 
LETRAS – Dois novos livros de Ana de Santana para os olhos, pela Sol Negro: ‘Bicicletas para descer ladeiras à noite’ (poesia); e ‘As Faxineiras sabem de tudo’ (ficção). A Sol Negro ilumina.  
CABRAL – Depois da fotobiografia organizada por Eucanaã Ferraz, os cem anos de João Cabral ganham sua biografia, escrita por Ivan Marques, edição Todavia. 500 páginas escritas com talento. 
VINIL – Hoje, das 9h até cinco da tarde, tem feira de discos de vinil para colecionadores no Seburubu. Fica na Av. Deodoro, 307. Quem vai comandar o som é o jornalista Tadzio França.
VEJA – Chega às bancas e aos assinantes virtuais a edição da semana, de Veja. Na capa, os retratos de Lula, Bolsonaro e Moro. Abaixo deles, o botão da rejeição e um título assim: “Não, não e não”. 

AVISO – Do velho e irônico Camilo Castelo Branco olhando a vida e avisando do perigo que é viver para quem acredita nos abismos de amar e odiar: “Entre o ódio e o amor está o desprezo”.
CASTIGO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, compadecido com o pobre destino dos oradores oficiais encapelados nos encômios: “É uma vingança da vaidade contra os vaidosos”. 
HISTÓRIA – O advogado Armando Holanda vai registrar em publicação a íntegra documental dos autos do processo no qual reivindicou a transladação, do Rio para o Rio Grande do Norte, dos restos mortais de Augusto Severo, simbolizada pela edificação de um cenotáfio como homenagem.
VALOR – A presença simbólica de Augusto Severo no Estado foi uma luta de Holanda, até como conterrâneo, ambos filhos de Macaíba. É decisão judicial, determinada por juiz, e com prazo de cumprimento da sentença até fim de dezembro. A documentação histórica será toda reproduzida.  

AVISO – “Linguagem Jurídica Inovadora”, é o tema da próxima live que reunirá os procuradores federais Antônio Carlos Mota Machado Filho e Alexandra da Silva Amaral. Os dois receberam o prêmio pelo trabalho em torno desse tema. Será no dia 26, às 17h, no link https://bit.ly/aspern261 
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