sexta-feira, 29 de março, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

O mundanismo espiritual

- Publicidade -

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal

Queridos irmãos e irmãs!

No próximo mês de março, no dia 13, o Papa Francisco completará 5 anos de Pontificado. Estamos diante de uma voz profética, de um pastor que faz questão de encontrar, abraçar e mostrar feições de alegria por estar perto das pessoas. Tudo o que Francisco faz ou expressa, manifesta uma liberdade tão grande, que anima e faz ter esperança.

Quero ressaltar uma expressão usada com frequência pelo Papa Francisco, presente no seu documento programático, a Exortação apostólica Evangelii gaudium (A alegria do Evangelho), é a do mundanismo espiritual. A expressão foi usada pelo teólogo francês Henri de Lubac que afirmava que este “seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo meramente moral” (Henri de Lubac. Meditations sur l’Eglise, 321). Mas, o que significa mundanismo espiritual”?

O Papa Francisco usou esta expressão antes de ser eleito papa em 13 de março de 2013. De fato, no dia 9 de março de 2013 numa palavra na Congregação dos Cardeais, em preparação para o conclave, assim se expressava o então cardeal Bergoglio: “Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece (cf. a mulher encurvada sobre si mesma do Evangelho). Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico… A Igreja, quando é autorreferencial, sem se dar conta, acredita que tem luz própria; deixa de ser o mysterium lunae e dá lugar a esse mal tão grave que é a mundanidade espiritual”. Assim, mundanismo espiritual significa a Igreja buscar a sua referência em si mesma, e não em Deus, em Jesus Cristo. O Papa Francisco ainda assevera: “O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal” (Evangelii gaudium, 93).

A autorreferencialidade que o mundanismo espiritual traz à Igreja se manifesta de duas maneiras: uma fé fechada no subjetivismo onde a pessoa fica enclausurada na imanência de sua própria razão ou dos seus sentimentos, que o papa chama de o “fascínio do gnosticismo” e a outra é a do “neopelagianismo autorreferencial e prometeico”, próprio daqueles que só confiam nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros por cumprirem determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. Para o Papa Francisco esse mundanismo espiritual não deixa que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. E mais, são palavras do nosso Pontífice: “quem caiu neste mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência” (cf. Evangelium gaudium, 97).

Assim, queridos irmãos e irmãs, devemos cuidar para que todos nós, pastores e leigos, presbíteros, diáconos e agentes de pastoral, sejamos livres desse mundanismo espiritual. Tenhamos sempre presente que devemos anunciar Jesus Cristo e por isso mesmo, fazer um questionamento: estamos saboreando o ar puro do Espírito Santo ou estamos centrados em nós mesmos? Buscamos o rosto de Cristo nos irmãos e irmãs, especialmente os pobres e sofredores, ou nos escondemos numa aparência religiosa vazia de Deus? Deus nos livre do mundanismo espiritual! Pois, quando o Filho de Deus assumiu a nossa carne, Ele desejou expressar na carne humana a sua própria presença.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas