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O mundo de Diá

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Rubens Lemos Filho 
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Mário Américo foi massagista tricampeão do mundo pela seleção brasileira quando havia futebol. Participou de sete Copas do Mundo a partir de 1950 e sapecou uma frase despercebida por teóricos e sociólogos metidos a ensaios sobre jogo de bola: “Craque a gente conhece pelo olhar e não pelo andar”. 
O universo de campo, vestiários, treinos, concentrações, macumba de esquema tática, condomínios subalternos dos 90 minutos de confronto,  compuseram a história de Mário Américo, que conseguiu ser um Garrincha com as mãos e roubou a bola do Mundial de 1962 no Chile. Chegou a vereador em São Paulo em 1976 e morreu em 1990, formado e exercendo a Fisioterapia. 
A alma do craque, no dizer de Mário Américo, o mais ilustre entre os de retaguarda, brotava do espelho dos olhos carimbando o sucesso ou o fracasso. “Quem baixa o olho ao técnico ou companheiro jamais será craque. Garrincha tinha olhos miudinhos, mas olhava grande, sem precisar pensar”. 
O vocal do passarinho de asas tortas encantou o planeta  num  roteiro final trágico, em que nem depois de morto, Mané arrumou sossego. Seus restos mortais sumiram do Cemitério de Pau Grande(RJ), há dois anos. Exumaram e desapareceram com os despojos. 
De tanto olhar o improvável, a contravenção estética como modelo de virtuose, Mário Américo observou Cantinflas, múltiplo artista mexicano puxado ao feio e adorado por multidões em Garrincha, Paulo César Caju, Zizinho, Vavá, Pelé menino, Pelé adolescente, Pelé homem, Pelé imponderável. Nenhum agradaria Narciso, encantado seria pela arte luminosa. 
Está morto Mário Américo que gostaria de dois dedos de prosa em boteco acompanhado pelo senhor Francisco de Assis Ciríaco dos Santos, o improvável, a negação do charme como marketing pessoal e da boçalidade como instrumento de incompetência. 
Mário América via como vê Diá, no andar, nos trajes, no molejo e no traquejo, a potiguar completude de um peladeiro de instintos mortais. Para seus adversários. Diá, em calvário(para os outros) de boca de túnel, atingiu a tez unânime em uma terra onde ser forasteiro garante o placar inicial de 3×0 contra os nativos. 
O Rio Grande do Norte e suas torcidas, seus analistas, sua comunicação antiga ou digital, humilhava  Diá em requintes de assédio moral. Senhor passadas as nossas divisas, Diá conservou sua figura  de pai-velho dos escombros de uma baba futebolística para calar , sem querer todos, sem exceção, que o faziam ridículo, não estrategista atrevido e leitor nobre das estratégias ludopédicas. 
Importaram-se, dos fins de mundo brasileiro, antipáticos  e enganadores(ou ambos os defeitos),  de variada performance e nenhum conhecimento, quando a saída estava naquele sujeito abusado como o atacante que aplica um colegial(drible humilhante) no zagueiro ou bate com nojo na bola feito os armadores de campos lúdicos. 
Ninguém é tão dono do campeonato estadual do ABC quanto Diá. Ele é o diferencial do caneco, o 56o da paixão sempre viva de Vicente e Maria Lamas Farache, a digna alvinegra que ao estádio empresta o nome. Na grafia e no amor. 
No deserto de craques, Diá desafiou preconceitos, convenceu que suas arapucas nunca foram defeito e riscou, por agora e quem sabe para o toda vida, a figura posuda do treinador com desvios  marqueteiros Roberto Fernandes, antítese do malandro de verdade. E vencido de forma irreparável. 
Tiraram jogadores de Diá. Dane-se. Diá os substituiu e o time manteve-se firme na jornada invicta. Criticaram o defensivismo premeditado de Diá, ele olhou por cima do ombro sem dizer danem-se e atraiu o tempo como parceiro e cúmplice nas emboscadas aos adversários. 
O ABC que já foi Jorginho, ilustrou-se de Alberi, posou com a calma gélida do uruguaio Danilo Menezes, brincou na canhota do arcanjo da turmalina, Dedé de Dora e dos gols secos e lindos do negro brilhante Marinho Apolônio, sem esquecer do pistoleiro Sérgio Alves, também  é o time de um mundo. Inteiro. Faceiro. O mundo de Diá. 
Deus Além de Diá, o ABC deve agradecer a Deus. O primeiro tempo teve o dedo de Paulinho Kobayashi técnico do América e os rubros massacraram como uma tropa de elite em ação. 
Demora O América olhou para Roberto Fernandes muito mais do que na função de técnico. Ungiu o profissional de serviços prestados inegáveis à condição divina de,  a qualquer estalar de dedos, mudar o rumo do campeonato. Esse foi o pecado capital.
Wallyson As declarações de Wallyson foram duras. Ídolo magoado. Não merecia o tratamento recebido e a ingratidão deixou triste o Mago. ABC lhe deve dinheiro e desculpas. Problema: grana não cai de coqueiro. 
Jailson Foi anulado, mas teve boa parcela de contribuição no título. O papel de condutor na meiúca, cumpriu bem. E Valderrama trancou a entrada da área com cadeado de prisão de segurança máxima. 
Rafael Embora nervoso na final, o goleiro Rafael é um paredão da escola de Hélio Show. Os erros no empate foram compensados pela campanha que lhe deu a camisa sem ameaça de ninguém tomar. 
Série D Agora é a masmorra. 
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