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O muro é a tela

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Maria Betânia Monteiro – repórter

A paixão pelo grafite foi o que motivou o jovem Ivan Cláudio, a ter uma sobrevida de três anos. Convidado para fazer parte da programação da Capitania das Artes em comemoração ao Dia do Artista Plástico (8 de maio), o coração do grafiteiro parou antes que pudesse render sua homenagem aos artistas. O jovem tinha um defeito cardíaco congênito e segundo os médicos, a expectativa de vida para casos como o dele é de 15 anos. Mas foi aos 18, que Ivan se despediu dos amigos e da família. “O desejo de pintar de Ivan era maior que o medo de morrer”, disse Ilza Claudete, irmã do grafiteiro. Ivã recebeu homenagem da Funcart na manhã de ontem, que reuniu amigos grafiteiros, familiares e a comunidade da Escola Municipal Emanuel Bezerra, no bairro do Planalto, onde os muros ainda aguardavam os sprays do jovem artista.

Artistas reproduzem trabalho em homenagem a Ivan através de um desenho cujo personagem é um bonequinho com o coração na mãoSegundo Ilza, Ivan tinha um talento nato. Ela lembra que aos quatro anos de idade, quando o irmão fez uma cirurgia corretiva, ele elaborou o seu primeiro desenho atrás da folha de recomendação encaminhada pelos médicos do Hospital. “Ele fez o desenho de um elefante e de um leão e me mostrou. O elefante parecia um tamanduá, mas Ivã me convenceu de que eu estava vendo o desenho de forma errada”, disse Ilza, ainda emocionada.

Segundo Ilza, Ivan tinha uma doença rara chamada Tetralogia de Fallot. Ela conta que a família era contra3q a grafitam, pois o jovem costumava se expor à tinta e a se submeter a rotinas pesadas debaixo do sol e com fome. “Ele tinha um pouco de raiva porque éramos contra, mas ele compreendia que o nosso desejo era o de tê-lo para sempre ao nosso lado”, disse Ilza. Ainda assim, vendo que a decisão do jovem era irreversível, a família comprou equipamentos de proteção e um compressor.

Durante a homenagem, os grafiteiros Neom, Doce, Ades e Flor reproduziram na parede, o grafite que Ivan deveria ter feito no dia 8, a partir de um esboço sobre o papel deixado pelo jovem, além do personagem mais retratado nos trabalhos de Ivan. “Ele sempre fazia este personagem, que segurava o coração nas próprias mãos. Ivã dizia que aquele era ele”, falou Ades, grafiteiro de 20 anos, que no dia do Artista Plástico ficou aguardando o amigo para pintar o muro da escola. “A gente sabia que ele poderia morrer a qualquer momento, mas a gente nunca espera que este dia chegue”, disse Ades.

O personagem recorrente na obra de Ivan ilustra uma realidade compartilhada pelos grafiteiros, que é a de carregar nas mãos o motivo de tanta paixão: os sprays. “Ivan pintava em troca de uma lata de tinta e um muro”, disse Ilza. Uma paixão, que também cumpre uma função social: a de inserir os jovens da periferia na sociedade, dando a eles voz e vez.

Salão do Grafite vem aí

Segundo Marcilio Amorim, chefe do núcleo de Artes Visuais da Funcarte, a grafitagem é uma das expressões do movimento Hip Hop. “Agraga DJ, o MC, os b-boys e os grafiteiros que realizam atividades em resposta aos conflitos sociais e à violência sofrida pelas classes menos favorecidas da sociedade urbana”, disse. O chefe do núcleo de artes da Funcarte revelou que foram os grafiteiros os mais evolvidos com a programação comemorativa pelo dia do artista plástico. Ele disse que, diferente dos artistas plásticos convidados para uma reunião na semana passada, os grafiteiros compareceram em grande número e lançaram as sementes para um projeto para Natal.

A próxima reunião será na Capitania das Artes dia 22, para definir as diretrizes de um conjunto de ações, que deverão ser implantadas este ano. “Queremos promover oficinas com nomes escolhidos por eles, fazer um salão de artes exclusivo para grafiteiros”, disse Marcílio. O núcleo de artes visuais da Funcarte fechou uma parceria com a empresa de tintas Schering-Williams, que deverá apoiar os próximos eventos.

O jornalista falou que foram as ações de grafitagem que mais envolveram o público na semana do artista plástico. “É impressionante como as crianças e os adolescentes da periferia sentem-se atraídos com a grafitagem. Esta expressão artística está totalmente ligada à questão social”, disse.

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