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O nada é essencial

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Vicente Serejo
Domingo, abri o computador para olhar as mensagens, num gesto já quase mecânico, e lá estava a crônica de Martha Medeiros sobre o dia dos namorados. É uma gaúcha talentosa, bonita, 60 anos, muitas relações – casamentos, namoros, namoricos – além de vários livros. Uma contadora de histórias e estórias. Como não sei escrever sobre datas do calendário de efemérides, fico na inveja e por isso deixo os olhos correrem livres nos rios brancos que separam as linhas do texto. 
Aqui tem vários livros seus, a cronista mulher que descobri ainda na revista ‘Domingo’, do ‘Jornal do Brasil’. Faz tempo. Nem sei onde Aluízio Lacerda foi buscar essa crônica de hoje. Ele domina essa coisa misteriosa do universo Web. Nunca duvido de Aluízio. Ele é sertanejo, desses que afiam a inteligência em pedra de amolar. Matreiro como velhos caçadores de abelha Jandaíra, do tipo que basta ouvir o zumbido das asas e segue certeiro o vôo, esgueirando-se na mata fechada.
Martha lembra da adolescência, da paixão e do casamento, logo com o segundo namorado. Vinte anos depois, veio a separação, duas filhas, hoje adultas e independentes, outro casamento e nova separação. Muitos namoros depois, todos passageiros, um dia um primo telefona e reacende uma esquecida simpatia – do tipo quase amor – e a vida recomeça. Agora, como manda a precavida maneira de ser feliz, moram em casas separadas, mas vivem felizes – dançam e festejam a vida.    
Em resumo, conta a história da mulher vitoriosa que é, feliz na sua vida intelectual, autora de livros que vendem aos montes em todo o Brasil. E é por isso mesmo, por não ter novidades, que a crônica é perfeita. Ela mostra que sabe o segredo do perfume das palavras, a hora certa de deixar na poltrona a essência do que quis dizer. Mas reconhece: tudo pode não chegar à próxima semana, de tão efêmeras que são as coisas do amor, ‘daquele nada que é absolutamente essencial’. 
Nessa coisa de amor, Senhor Redator, sou suspeito. Suspeitíssimo. Acreditei, não negaria, no amor eterno, bem mais por desejo do que por convicção. Mas, nunca imaginei que o casamento, feito para ser assim, fosse mesmo e pra vida inteira. Às vezes, acho que a vida põe e dispõe, para cair no lugar comum. O tempo apara diferenças, transforma num jogo instigante e divertido, e lá vamos nós dois, juntos, há 51 anos, 48 dos quais casados, somada a demora dos quatro de namoro. 
Não adianta tentar explicar com os velhos clichês e suas velhíssimas tintas – a renúncia, a compreensão; ou dizer – ‘o que Deus faz ninguém desfaz’. Não. Só há um lugar comum que mesmo batido, é verdadeiro: é humanamente justo tentar ser feliz de novo. Para quem, por alguma razão, não conseguiu na primeira vez. O amor, se é eterno enquanto dura, como ensinou o poetinha Vinícius de Morais, há de ser assim cada vez que nasce ou renasce. O resto é da natureza humana.  
PAUTA – Reunião extra-plenário, na Assembleia, sobre a instalação da CPI que há dias e dias navega nas gavetas da burocracia. Desta vez, sem a presença do ex-deputado Fernando Mineiro.  

COBRANÇA – O deputado Kelps Lima cobrou, nesta TN, a instalação das duas CPIs – a da Arena das Dunas, que desgosta aos tucanos; e a da Pandemia, tão do agrado de uma banda do tucanato.   
ALIÁS – O jogo duplo dos tucanos começa a rachar o partido e a descredenciá-lo como governo e ao mesmo tempo como oposição. O grasnado rouco perdeu credibilidade na sua malandragem. 
PIOR – O estilo mostra como andam nossas elites. Antes, ao longo da história política, souberam protagonizar a vida pública. Hoje, sem espírito público, trocam suas próprias posições políticas. 
LUTA – Mossoró quer mais vagas na Academia de Letras. Foi ao presidente, convencida de que a Casa tem chefe. Mossoró é de luta. Desde que baniu o bando de Lampião numa chuva de bala.   
SERÁ? – Voltaram a realizar obras – pelo menos na parte externa – da Biblioteca Câmara Cascudo. Sinais de que pode ser reaberta cinco governos depois, desde Wilma de Faria. É uma esperança. 
  
VENCIDOS – Macaíba não sabe encerrar a luta política, mesmo depois de apuradas as urnas e os eleitos empossados. Virou uma guerra de vencidos. E o povo da cidade é hoje é sua grande vítima. 
ELITES – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, olhando nossos políticos sentados nas almofadas interesseiras: “A elite de hoje é rica de ricos e pobre de líderes”. E virou sua dose.     
MISTÉRIO – A Cosern não cortou energia do posto de saúde de Macaíba. Nem corta de nenhuma instituição médica desde início da pandemia. O prejuízo de 170 vacinas contra o Coronavírus tem duas versões: roubo dos fios ou represália ao prefeito, mas cobrando o preço de 170 vidas humanas.
BRASIL – O ‘Dicionário do Folclore’, um clássico de referência da cultura brasileira, foi proibido na biblioteca da Fundação Palmares. A estupidez, agora, no Brasil, tem um nome próprio: Sérgio Camargo. O presidente da instituição que, sendo federal, foi nomeado pelo mito Jair Bolsonaro.    
RISO – O bom humor do dia dos namorados ficou por conta das redes sociais. O texto pede evitar as aglomerações; que Santo Antônio atenda, prioritariamente, a quem nunca sequer namorou; que Santo Expedido proteja os perdidos de amor e Santa Rita de Cássia cuide dos amores impossíveis.     
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