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O Nordeste tem potencial

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Com quase seis décadas de história, poucos brasileiros conhecem e conseguem explicar para que foi criada a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O órgão, principal agente público indutor do desenvolvimento nordestino, foi criado para atrair investimentos e aplicá-los na atração de empresas e criação de empregos na região mais pobre do País. No governo Fernando Henrique Cardoso chegou a ser extinta, mergulhada em escândalos de desvios de recursos e considerada uma cabide de empregos com viés eleitoreiro.

Recriada no governo Lula, a Sudene incorporou um novo perfil de gestão, reduziu o efetivo de trabalho a 10% do que tinha e deixou para trás os vultosos gastos com manutenção da folha de pagamento de pessoal e custeio. Hoje, o órgão busca se adequar à nova realidade de desenvolvimento das regiões brasileiras, investindo em negócios rentáveis e dialogando com diversos setores da indústria e sociedade para aplicar, da melhor forma, o recurso público e privado. Na entrevista a seguir, Marcelo Neves, superintendente da Sudente, faz um histórico do que era a entidade e como ela mudou para se aproximar mais do nordestino, para ser reconhecida como incentivadora e executora de ações de desenvolvimento da região.
Após longos anos no limbo da ineficiência, Sudene muda perfil e volta a batalhar recursos e melhorias para o desenvolvimento dos estados da Região Nordeste
Após longos anos no limbo da ineficiência, Sudene muda perfil e volta a batalhar recursos e melhorias para o desenvolvimento dos estados da Região Nordeste

O que é a Sudene hoje?

A Sudene completou, este ano, 58 anos de vida. Desde a criação, a Sudene passou por uma série de transformações. Teve um período áureo nos anos 70, tendo sido muito importante para a região Nordeste, que tinha uma carência muito grande, do ponto de vista de apresentar a região às políticas públicas de planejamento, de organização dos estados e municípios, tratar, pela primeira vez, a questão do planejamento dentro dos estados, tratar do desenvolvimento econômico e melhorar os índices que no Nordeste, à época, eram muito ruins. Houve uma série de projetos, de implantações.

Mas também houve uma fase de desmantelamento?
Ocorreu no anos 80 e 90, uma desocupação, uma desorganização. A Sudene passou por uma série de problemas, até mesmo midiáticos. Isso ficou meio estigmatizado até chegar à extinção do órgão, no fim dos anos 90, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi um equívoco, uma ação equivocada. A Sudene foi recriada alguns anos depois. Na verdade, ela foi extinta só no papel, pois funcionou como a ADEN – Agência de Desenvolvimento do Nordeste. A Sudene foi recriada em 2007, mas sem os instrumentos da mesma época da primeira criação. A estrutura não tinha mais o mesmo orçamento e a Sudene, nesses últimos dez anos, tenta se recolocar dentro do sistema de planejamento e desenvolvimento econômico da região Nordeste.

O que mudou desde que o senhor assumiu a superintendência?

Desde que nós chegamos, há pouco mais de um ano, tentamos fazer algumas transformações, inclusive do ponto de vista físico. Nós mudamos de uma sede, que era um prédio simbólico em Recife. Era um prédio que foi o maior prédio público da América Latina. Mas estava em condições degradadas e não tinha condições de funcionar enquanto prédio público. Nós mudamos para outro local, fazendo uma economia substancial. Nossa intenção maior é modernizar a Sudene. Nós adotamos ações com foco no planejamento, principalmente no Plano de Desenvolvimento da Região Nordeste, que é a nossa principal meta e que já deveria ter sido feito há mais de dez anos. A Sudene tem, por obrigação, fazer e atualizar esse plano, além de transforma-lo em lei federal, o que ainda não aconteceu.

A ideia é transformar a Sudene num órgão mais próximo da população nordestina?

Na verdade, não só a Sudene, mas todos os órgãos que atuam no Nordeste – a Codevasf, o DNOCS – eles tiveram nos últimos 20 anos, um processo de desidratação. Eles perderam orçamento, passaram por diversas dificuldades. O que nós queremos é recolocar esses órgãos de volta no dia-a-dia das atividades do Nordeste.

Como a Sudene atua na formatação do FNE (Fundo Constitucional do Nordeste)?

Ele é operado pelo Banco do Nordeste, mas toda sua programação, reprogramação e aplicações são decididas pelo Conselho Deliberativo da Sudene. Ou seja, é o Conselho que aprova as aplicações, as áreas prioritárias. Um recorte: 50% do Fundo tem que ser aplicado no semiárido brasileiro. É a região de maior vulnerabilidade social, econômica, na área de saúde e acumula os piores índices. A Sudene já trabalha em conjunto com o Banco do Nordeste acompanhando as aplicações e fazendo um acompanhamento no sentido de ouvir as demandas. Recentemente, por exemplo, nós aprovamos uma linha chamada FNE Sol, para financiar a produção de energia solar. A eólica é uma realidade, com o Rio Grande do Norte sendo pioneiro. Recentemente também liberamos parte do Fundo para financiamento das linhas de transmissão.

O Nordeste passou a ter um novo modelo social a partir do Bolsa Família. Como o senhor analisa esse repasse de verba direta?

O Bolsa Família foi positivo em todo o país e, no Nordeste, não é diferente. Dada essa questão de pobreza. Mas, o grande salto do Nordeste foi quando, lá atrás, a Sudene entrou e saiu de um PIB de 14% para 16%. O Nordeste participava com 4% do PIB brasileiro e, com os projetos que foram implantados aqui e uma série de políticas que foram aplicadas, elevamos o percentual. Nesses anos todos de Bolsa Família, inclusive, de aumento de renda no Nordeste, nós não ampliamos esse PIB. Ele permaneceu, infelizmente, intacto, em torno de 14%. O Bolsa Família tem um impacto social fantástico, importante para a região, mas do ponto de vista da economia, na verdade, o país passou por um momento que o País estava bem e, consequentemente, o Nordeste também recebeu esses benefícios e cresceu mais que as outras regiões. Até porque era a região que estava mais atrasada em relação às outras regiões do País. Isso é um conceito da economia que, uma região mais atrasada, cresce mais que aquelas que estão estagnadas.

Por quais motivos não vemos grandes obras para mitigação da seca, com exceção da Transposição do São Francisco? Ela vai trazer alento?

A Transposição, por si só, não tem o condão de resolver o problema da seca. Na verdade, naõ se resolve. Nós somos uma região de semiárido e continuaremos sendo. O que a gente tem que trabalhar é a convivência com a seca no semiárido e melhorar as condições das pessoas que nós temos aqui. Eu acho que o grande desafio da Transposição é, primeiro, levar água para as populações, para o consumo humano. É o primeiro passo e o mais importante. Os ramais, a atuação dos Estados, também são grandes desafios. Não tenha que será importante, mas não será o único fator determinante do desenvolvimento da região. A água, aliada a uma série de outras políticas que precisam ser implantadas no Nordeste e, inclusive, o repensar da região. As energias renováveis tem uma força muito grande. Nós temos vento e sol em abundância e potencial para que isso possa produzir riqueza, que possa ser revertida em investimentos em saúde, educação.

Falta um olhar mais criterioso do governo federal para incentivar o crescimento do Nordeste enquanto pólo industrial?

A indústria, como qualquer outro negócio, se instala onde tem as melhores condições, quando se cria condições de atratividade. Estou falando de infraestrutura, energia, água, mão de obra especializada, internet, que a nossa região é mais carente. Esse é um elenco de necessidades. Ao governo federal, cabe ser o indutor de políticas públicas para atrair e mudar essa realidade. Até do ponto de vista logístico, nós temos condições melhores, inclusive, quando se pensa em mercados externos. Mas o grande mercado consumidor no país ainda é Sul e Sudeste. Então, produzir próximo ao mercado consumidor é um grande atrativo. Para que a gente consiga inverter essa condição, essa lógica, a gente precisa melhorar nossa condição de infraestrutura, investir em educação, que se transforma em produtividade; explorar mão de obra local e criar um círculo virtuoso. E, também, ficar atento às potencialidades e oportunidades. Nós temos dificuldades geográficas, estamos dentro de um semiárido que é uma área mais complicada. Mas nós temos atrativos que outras regiões não tem, como a energia eólica e solar, que é muito valorizada em qualquer lugar do mundo. O Nordeste tem potencial de ser um grande produtor de energia e, sendo um grande produtor de energia barata, esse é também um poder de atração. Cabe ao governo, cabe às entidades, criar condições para que esse projeto deslanche. Precisamos também atrair indústrias na área de tecnologia, que é hoje muito importante em qualquer lugar do planeta.

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