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‘O novo curso de Medicina fortalece a interiorização da UFRN’

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Entrevista – Ângela Paiva Cruz
Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Nadjara Martins
repórter

Há quatros anos, quando a primeira reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ângela Paiva Cruz, assumiu a instituição, ela definiu duas ações para o seu mandato: internacionalizar e interiorizar. Ambos os processos avançaram, na avaliação atual da reitora: hoje, cerca de mil estudantes complementam a formação no exterior por meio de acordos de cooperação ou do programa Ciências sem Fronteiras. Já o crescimento dentro do RN se deu com a implantação do curso de Medicina Multicampi de Caicó, em julho, e a perspectiva de abertura do curso de psicologia em Santa Cruz, no próximo ano.
Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Ângela Cruz traça um panorama sobre os avanços da universidade desde a implantação do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), iniciado em 2007, e as perspectivas para os próximos anos. “Internacionalização e Interiorização: Desafios e Oportunidades” é tema da 21ª edição do seminário Motores do Desenvolvimento, a ser realizado dia 8 de setembro, no Auditório Albano Franco, na Fiern. Eis a entrevista:
Ângela Paiva Cruz, reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Quais os avanços da universidade nos últimos seis anos de Reuni?
Primeiramente tivemos um projeto muito orgânico no sentido de ter as condições para uma infraestrutura, ampliando as vagas com sustentabilidade. Foi permitido que planejássemos a abertura de mais de 20 cursos de graduação, 2.700 novas vagas. Isso representa mais de 11 mil matrículas nesse período. Um outro avanço foi o novo modelo de formação que incrementamos, o bacharelado de Ciência e Tecnologia, com a formação em ciclos. Esse novo modelo convive com o tradicional.

O que possibilitou o sucesso?
Uma diferença da nossa universidade foi planejamento. O nosso PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) é um esforço da universidade em prospectar cursos que poderiam ser abertos. Quando o Reuni foi anunciado, nós já tínhamos uma proposta de 13 cursos que haviam sido aprovados na Câmara de Graduação e não implementados por falta de técnicos, professores e infraestrutura. Quando o Reuni veio, eu coordenei a discussão, apresentando a proposta aos cursos. Nós agora temos a satisfação de ver que estes cursos estão sendo avaliados e recebendo notas quatro ou cinco (pelo Inep). Isso mostra que um bom planejamento e recursos dão  resultado.

O que era a UFRN antes do programa de reestruturação? Tinha recursos em expansão?
Um pouco antes do Reuni tivemos uma expansão de primeira etapa em que novos cursos foram criados, mas nada tão amplo. Neste momento começamos a trabalhar a reestruturação do campus de Santa Cruz, com a criação do curso de enfermagem. Com a chegada do Reuni, conseguimos complementar, abrindo os cursos de fisioterapia a nutrição. Construímos, com o Reuni, mais de 50 mil metros quadrados de área, tanto aqui quanto no interior. Algumas obras estão em fase de conclusão e falta ainda, como parte do nosso projeto, um centro de eventos de grande porte, que virá no programa de consolidação do Reuni. Nós tivamos uma dificuldade de projeto. Foi uma programação muito sistemática e bem feita por causa do planejamento.

O que seria esse plano de consolidação, especificamente? Segundo a pró-reitora de Planejamento, a UFRN solicitou cerca de R$ 340 milhões ao MEC para essa fase…
No Reuni, nós conseguimos recursos para novas obras, mas algumas partes mais antigas a gente precisa fazer uma reestruturação, como as reformas de acessibilidade, por exemplo. Consolidar é trabalhar com toda a estrutura da universidade e fazer com que ela tenha a mesma qualidade das obras novas. Nós trabalhamos com a revisão do plano diretor do campus central e a criação dos planos para os campi de Caicó, Currais Novos, Santa Cruz e Jundiaí. Qualquer expansão deles precisa ser ordenada e adequada à questão de sustentabilidade. Por que não utilizar água da chuva, por exemplo? Quando eu falo de consolidação, é também atender ao que falta no interior: expansão das residências em Currais Novos e Caicó, construção de restaurantes universitários e espaços de convivência de esporte e lazer. Em Santa Cruz, por exemplo, já começamos a construção de uma área de convivência. Campus universitário não se faz apenas com sala de aula, laboratório e biblioteca. Também precisamos de ambiência para esses lugares.

Essa consolidação também prevê a criação de novos cursos?
Sim. Pós-Reuni nós já implantamos novos cursos, como o de Medicina, que tem pactuação própria pelo programa Mais Médicos. Nós também pactuamos a abertura de dois cursos em Santa Cruz, de psicologia e terapia ocupacional, que deve estar começando em 2015. O concurso para professores de psicologia já está começando. Precisamos de recursos para infraestrutura. Existe a prospecção para outros cursos, mas eles só vão ser implementados com pactuação (com o MEC) garantindo que haverá dotação orçamentária.

A Proplan informou que há possibilidade de reabertura dos campi de Macau e Nova Cruz…
Sim, isso está nos nossos planos se houver um aporte. Nosso compromisso é trabalhar com esses campi quando observamos as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), em que as universidades estão sendo demandadas para abertura de vagas. Mas o nosso compromisso é avaliar as condições para fazer essa reabertura com qualidade. Nós temos uma presença muito forte no interior com a educação à distância, apesar de a educação presencial também ser muito requerida nestes espaços. Não dá para fazer a reabertura com precariedade. Só faremos isso quando o Governo Federal apontar com um plano com recursos.

Sobre a interiorização, quais são as metas da universidade?
Nós elaboramos um plano com Ufersa, IFRN e Uern para que possamos levar o ensino para o interior do estado sem superpor esforços, recursos para os mesmos cursos na mesma região. Foi assim com medicina. Sabíamos de uma solicitação para um curso em Assu, mas mostramos à população que se a Ufersa já atende à região, não faz sentido a UFRN sair da sua área de atuação.  Há um curso previsto pela universidade do semiárido para aquela região até 2016. Agora com o PNE aprovado, nós teremos que aperfeiçoar o projeto, para saber em que medida cada um de nós vai crescer. Aumentar o ingresso ao ensino superior no Rio Grande do Norte vai demandar muito esforço, de instituições públicas, privadas, mas precisamos ver a questão do financiamento.

Qual a avaliação sobre o Enem?
Estamos democratizando sem sair do estado. Um receio dos estudantes era que alunos de outros estados tomassem as vagas, mas isso não está acontecendo. Os cursos de alta concorrência continuam assim e temos alunos para todos os cursos. Não há diferença no nível de estudantes. E também temos, agora, uma grande presença dos alunos do RN. Criamos o argumento de inclusão regional, que dá 20% a mais na nota do Enem para alunos da microrregião do campus. O nosso objetivo de desenvolver o interior, acredito, está em bom caminho. É formar bem no interior o aluno que é do interior. Se ele faz o curso lá, há uma tendência de ele continuar lá. Levar cursos como medicina é fortalecer esse processo de interiorização.

Por dois triênios consecutivos, a UFRN foi eleita a melhor universidade do Norte-Nordeste. Como manter essa avaliação?
É trabalhar desde quando recebe o resultado. Todas as instituições trabalham com o plano onde um dos itens é a avaliação da qualidade. Uma boa avaliação dessa natureza se dá pela qualidade dos professores – hoje, 75% deles são doutores –, pela melhora nos projetos pedagógicos, cuidado com a infraestrutura. Ter uma avaliação dessas deixa a universidade satisfeita, mas é apenas um item para nos manter trabalhando para ser a melhor em qualquer coisa.

Mas em rankings nacionais, a UFRN ainda ocupa o 28º lugar…
É importante olhar para ranking e ver onde você está inserido em cada item em que você foi avaliado. Cada ranking escolhe alguma coisa para avaliar, nos dá elementos para olhar se eu posso ser melhor dentro daquilo, não é uma coisa que a gente precise levar em conta e dizer que estamos muito mal. As instituições são muito diferentes pelo seu perfil de área de atuação e da região.

No ranking, a UFRN também aparece, no quesito internacionalização, em 39º, com  nota 3,98. Como a universidade pretende melhorar esse índice?
Temos trabalhado a internacionalização como um fator gerador de qualidade. O pesquisador ou professor que tem um período fora do país, essas experiências não vão ser só naquele ano, elas ficam para muito tempo. Professores trazem projetos novos de interação com seus alunos. Casa pessoa que vai é um vetor dele mesmo: tem outra percepção de mundo, universidade e cultura, enriquece a formação. Isso gera um ciclo. O aluno que passa um tempo fora vai procurar outras atividades quando voltar. A internacionalização da universidade também foi um esforço desta questão, buscando convênios e termos de cooperação.

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