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O novo pastor

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Vicente Serejo
Lobo no meio de carneiros
Há anos, bem mais de dez, ainda cumpria nas salas de aula da UFRN a ousada convicção de ensinar aos outros, suspeitei da perfeição teórica do texto de uma aluna. Não revelo seu nome. Coloquei no Google, entre aspas, seu período bem erguido, e de lá veio a fonte de origem, com seu autor. Imprimi, chamei na aula seguinte e sugeri que refizesse. Encerramos a conversa rindo com o que ouvi, de tão puro e criativo: “Professor, o Google é o nosso pastor. Nada nos faltará”.  
Ora, qualquer bom aluno sabe que os fatos são gerados por circunstâncias que, por sua vez, são geradores de novas circunstâncias, e que estas não são necessariamente produtos nascidos do bem ou do mal, esse maniqueísmo que perdoa ou condena. Seriam, as circunstâncias, descontados os excessos de arranjo e adaptação, tingidas por aqueles cinquenta tons de cinza, sem que se leve ao limite dos fortes traços eróticos do romancista britânico, um sucesso nas telas do mundo inteiro. 
A inteligência humana, inconformada por não ter criado o universo real, resolveu criar o Universo Web e, nele, colocou, como vingança ou demonstração de poder, os modelos do bem e do mal, mas sob o jugo de quem domina seus usos e abusos. Não permitiu sequer o indispensável livre arbítrio que Deus concedeu à humanidade. Um universo draconiano que instalou um tribunal sem direito a recurso e apelação, sem garantia da presunção de inocência até que se prove a culpa. 
Mais grave é constatar o mundo sem porteiras que agora a humanidade dispõe como forma de exercer o que antes escondia, a não ser aqueles que têm a coragem serena de assumir o dito e o não dito com sua assinatura ou sua voz. E mesmo quando assumidas, abrigam-se numa impunidade livre de limites. E como não é justo controlar a liberdade de expressão, e fazê-la prisioneira da boa fé no trato com a verdade, restou esse feio pugilismo que sequer tem as leis dos lutadores de box. 
A CPI da Pandemia, sem que se negue o direito da minoria questionar a condução da vida pública ao ordenar os dinheiros da sociedade, é o retrato perverso no qual se transformou o uso da palavra, exatamente pela instituição que deveria bem exercê-lo que é o parlamento. Ninguém questiona com o instrumento da palavra. Passa carão, condena a opinião de quem responde, agride e ameaça, num espetáculo que muito antes de esclarecer, destrói; bem antes de revelar, obscurece.   
Do jeito que vem sendo encenado o espetáculo, o pior dos crimes que é o genocídio de mais de meio milhão de mortos por falta das vacinas não compradas, jamais terá a punição justa dos culpados. O imbróglio tomou conta de acusadores e acusados, como se o patronato do parlamento não fosse a Nação, mas um réu entre açodados acusadores e defensores. Estes a serviço dos chefes e não da sociedade. A política e a CPI mostram: vivem seu inferno conduzido por todos os seus demônios. 
ARENA – Com sua volta aprovada à unanimidade, a ressuscitada CPI da Arena das Dunas retorna com todo gás. Até início de julho elege o relator que substituirá o ex-deputado Sandro Pimentel.  
NOMES – Os deputados Subtenente Eliab, do Solidariedade, e Kleber Rodrigues são os suplentes que irão substituir Alysson Bezerra e Sandro Pimentel na CPI da Arena das Dunas. É regimental.
MOLHO – Já as decisões para início dos trabalhos da CPI da Pandemia ficam no molho gordo da espera das mudanças dos blocos partidários. Mas o PT não está sozinho. Também tem lanceiros.    
‘VISITA’ – O cerimonial do Palácio do Planalto taxa de ‘visitas técnicas’ as viagens do presidente Jair Bolsonaro e assim foge ao bom hábito de conviver com governadores e prefeitos adversários.
FALSO – Na prática, as visitas não têm nada de ‘técnicas’. Nelas, o presidente faz comícios, ataca seus adversários, lança impropérios contra a ciência e usa camiseta com slogan político para 2022. 
FAKE – Mesmo contra o expurgo de livros promovido por instituições culturais, a escritora Rosa Freire D’Aguiar nunca se referiu a um sentimento de ‘náusea e repúdio ao nazismo tupiniquim’. 
REDES – Esta coluna pede desculpas e registra que as expressões atribuídas à escritora não são do seu uso pessoal. O que demonstra, mais uma vez, que as redes sociais não primam pela verdade. 
TEATRO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, de ouvido nos murmúrios da Praça Sete de Setembro: “As CPIs revelam os grandes atores e grandes fantoches. Como na vida real”.
FORÇA – O Papa Francisco, nas suas conversas com o vaticanista Domenico Agasso, reunidas no livro ‘Deus e o Mundo que virá”, às páginas 55 e 56, cita a famosa frase de Dom Hélder Câmara, originalmente publicada pela revista ‘Atualidade Teológica’ e no livro de Dom Marcelo Barros.  
FRASE – É esta a citação de Dom Hélder que anda pelo mundo: “Quando cuido dos pobres, dizem que sou santo; quando pergunto a todos sobre as causas de tanta pobreza, me chamam comunista”.  Jesuíta de formação, o Papa lembra o exemplo de pobreza de Cristo, mas hoje adianta muito pouco. 
GAME – Está na Folha de S. Paulo: mesmo declarando-se vítima de um orçamento apertado, este ano, o Exército quer gastar R$ 4 milhões de reais com ao desenvolvimento de um jogo eletrônico. Enquanto o próprio Ministério do Exército reclama do sucateamento que sofre por falta de grana. 
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