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O ocaso do DER

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José Narcelio Marques Sousa
Engenheiro Civil

Cada unidade de Federação conta com uma entidade responsável pela supervisão, implantação, pavimentação e manutenção de sua malha rodoviária. Tratam-se dos Departamentos de Estradas de Rodagem.  Pela atividade desenvolvida, esse ente governamental se reveste de capital importância para a sociedade, por promover a implementação da infraestrutura rodoviária de cada Estado.

A falta de outros modais de transportes eficientes no Brasil, tornou o transporte rodoviário o principal meio de locomoção. Tanto é verdade, que 75% de toda a produção do país é escoada pela malha rodoviária. Somente esse dado já seria suficiente para enfatizar a necessidade de um departamento de estradas proficiente no apoio de um governo que queira impulsionar o progresso do seu Estado. Afinal de contas, ainda é válido o lema de campanha de Washington Luís quando buscava a presidência do país em 1920: “Governar é abrir estradas”.

O Rio Grande do Norte também conta com o seu DER. Até aí, tudo bem! Acontece que o nosso órgão rodoviário caminha a passos largos para a total desintegração física e técnico-profissional. Exagero? Vejamos, então. Quem pode imaginar hospital sem médico, tribunal sem juiz ou escola sem professor?

Nessa linha de raciocínio, como um departamento pode administrar estradas de rodagem sem engenheiros suficientes com experiência para tal tarefa? Como podemos cobrar o bom funcionamento de um departamento de estradas sem lhe oferecermos condições de planejar suas linhas de ação ou estratégias para o futuro?

O quadro técnico do DER-Rn está minguando e tende a zerar a curtíssimo prazo. Há mais de trinta anos nenhum engenheiro foi ali admitido mediante concurso público. A preocupação reside no fato de quando contratarem – se contratarem -, novos profissionais ou técnicos rodoviários, esses não contarem com colegas que possam lhes repassar as suas experiências acumuladas durante a labuta no ramo.

Isso mesmo! Na atualidade, apenas 9 engenheiros do órgão cuidam dos 3.200 quilômetros de estradas pavimentadas, dos quais, pelo menos 60% deles com tempo suficiente para aposentadoria. Frise-se: os DERs são, na sua essência, casas de engenheiros especializados em rodovias.

Eu falo com conhecimento de causa porque pertenci ao corpo técnico daquela instituição em duas oportunidades distintas. A primeira vez de 1962 a 1973 nos governos de Aluízio Alves, Walfredo Gurgel e Cortez Pereira; a segunda, durante a administração de Geraldo Melo, no período de 1987 a 1991.

Em ambos os momentos trabalhei numa repartição com engenheiros qualificados – boa parte deles professores da UFRN -, distritos rodoviários bem equipados, cursos de especialização oferecidos a técnicos de diferentes áreas, planejamento plurianual, motivação funcional e, o mais importante, apoio e reconhecimento de cada um daqueles governadores pelo trabalho ali desenvolvido.

Quase meio século passado, desde que deixei o órgão, o que existe hoje é de cortar coração. Uma paisagem surreal em comparação ao DER de antigamente. De tudo falta muito, a começar pela escassez de recursos. A maioria das estradas esburacadas e sem perspectivas de recuperação, mas, o pior é ver quase extinto o seu maior patrimônio: o quadro técnico de engenheiros especializados.

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