Cinthia Lopes e Ramon Ribeiro
Com Amanda Costa (My Fair Lady) como Bibi Ferreira, superprodução
aborda a longeva carreira da “dama do teatro”, a partir de seus momentos
de virada
Tadeu Aguiar confessa que não foi nada fácil construir o espetáculo. “Contar uma história de 77 anos de carreira em 3 horas de espetáculo é muito desafiador!”, diz em entrevista à TRIBUNA DO NORTE. Mas o trabalho foi super valioso para ele, já que estava levando ao palco a vida e obra de uma artista que era sua amiga – Tadeu e Bibi trabalharam juntos em vários projetos, e na vida pessoal a artista chegou, inclusive, a dar uma ajudinha pra ele, ao ser fiadora do primeiro apartamento que o diretor viveu no Rio de Janeiro.
Bibi, antes de falecer, chegou a assistir uma das apresentações, momento marcante para o diretor. “Tem uma curiosidade muito grande quanto a isso. Porque foi a última vez que Bibi saiu de casa para ver uma peça de teatro. E foi justamente uma peça sobre a vida dela”, comenta Tadeu.
“Bibi, uma vida em musical” estreou nacionalmente em janeiro de 2018, no Rio de Janeiro. Desde então vem sendo apresentado por todo o Brasil, em grande parte por causa do patrocínio do Ministério da Cidadania e Bradesco Seguros, através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Para o diretor, espetáculos como este já não são mais possíveis de se produzir nas regras da Lei Rouanet
Confira a entrevista feita pela TRIBUNA DO NORTE com o diretor e ator Tadeu Aguiar:
Como artista, chegou a conviver com Bibi Ferreira? Poderia falar sobre essa relação e em que momento ela se deu?
Convivi mais de 30 anos com Bibi. Fizemos um espetáculo juntos quando ela completou 50 anos de carreira, o “Bibi in concert”. Ela me convidou pra cantar com ela com a Orquestra Sinfônica de Belo Horizonte. Depois ela inventou um projeto para a reinauguração da praça Paris, no Rio de Janeiro, chamado “Bibi Conta e Canta Piaf”. Esse espetáculo eu contava toda a história de Piaf e ela vinha cantando as canções. Até que no final eu fazia o personagem Théo Sarapo, que foi o último marido de Piaf. Depois precisei me ausentar para fazer uma novela e ela continuou com o espetáculo ao lado de Gracindo Júnior, e depois com Nilson Raman. Dividi muito minha vida com ela nesses momentos de ensaio, sempre muito especiais. E fiquei amigo dela por toda a vida. Aliás, o primeiro apartamento que eu tive no Rio de Janeiro, quem foi o fiador foi Bibi Ferreira.
Bibi foi muitas coisas, atriz, cantora, escritora, diretora. Quais acontecimentos da trajetória dela estão marcados no espetáculo?
Contamos a história a partir dos momentos de virada na carreira da Bibi, desde quando ela entra no palco pela primeira vez, com poucos dias de vida. Tem os momentos dela criança e adolescente, depois quando estreia como profissional. Ai vem uma série de fases, como quando funda sua própria companhia, depois quando monta musicais importantíssimos, como “My Fair Lady” e “Alô Dolly”, depois quando passa pelo teatro político, como quando fez “Brasileiro, Profissão: Esperança” e “Gota d’água”, e se casa com o autor Paulo Pontes. Depois vem a grande mudança que foi fazer “Piaf”, seguido por “Amália” [Rodrigues], depois, enfim, quando ela é homenageada na Escola de Samba [Viradouro], com uma música deslumbrante, que é com a qual nós terminamos o espetáculo.
Como foi a escolha do elenco?
A escolha do elenco se deu através de audições. Mas a Amanda Costa era minha convidada, porque eu já tinha trabalhado muitas vezes com ela. Conheci Amanda quando nós fazíamos juntos “My Fair Lady, e ela fazia Eliza Doolittle, que era o papel que a Bibi havia feito nos anos 60.
O texto do espetáculo foi uma construção colaborativa ou ele já existia?
A Luanna Guimarães veio com uma pesquisa muito bacana e bem estruturada, e o Xexéu construiu toda parte dramática do espetáculo, as cenas, tudo em cima dessa pesquisa. Luanna também colaborou com a construção de alguns diálogos. Foi um trabalho bonito dos dois.
A vida de Bibi Ferreira já foi tema de musical e enredo de escola de samba, mas a riqueza de sua história também é digna de um filme. Você acha que o cinema tem olhado mais para essas personalidades ricas da cultura brasileira?
Acho que o cinema tem olhado sim. Tivemos filmes de Wilson Simonal, Elis Regina, acho que está chegando a hora de termos um filme sobre a Bibi. Até para que não deixemos morrer essa figura tão importante para a arte no país. A Bibi foi construtora do Teatro Brasileiro.
Mudando o assunto para política cultural. Em que nível o contingenciamento de patrocínios e nas leis de cultura afetaram o segmento de espetáculos musicais?
Acho que as coisas ficaram complicadas a partir de agora. É impossível você produzir um espetáculo do tamanho do da Bibi Ferreira com um milhão de reais. Um espetáculo desse tem mais de 150 pessoas diretamente envolvidas. Costureiros, alfaiates, músicos, artistas, bilheteiros, operadores de som, luz, vídeo. Então, enquanto estivermos com essas regras na lei, não conseguiremos mais produzir espetáculos como esse.
Que outros projetos você pretende levar ao palco?
Nesta sexta (6), aqui no Rio de Janeiro, estreio um musical enorme chamado “A Cor Púrpura”. Um musical que vem em cima do livro da Alice Walker, que foi Prémio Pulitzer e filme de grande sucesso de Steven Spielberg.
Serviço
Espetáculo “Bibi, uma vida em musical”
Teatro Riachuelo
Dia 6, às 21h, e dia 7, às 17h e 21h.
Ingressos: R$ 75 (inteira) R$ 37,50 (meia)