quinta-feira, 28 de março, 2024
33.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

O papel do pai no desenvolvimento dos filhos

- Publicidade -

Profª. Drª. Celina Guerra Dore
*Professora Universitária, Doutora em Bioquímica e Biologia Molecular, Pós-doc em psicobiologia (@celinamguerra).

Biologicamente se atribui os cuidados de prover nutricionalmente e promover o desenvolvimento do bebê à mãe, isso se dá principalmente pela simbiose existente entre a mãe e o filho durante o desenvolvimento uterino. Entretanto o que se percebe é que as mudanças sociais vêm contribuindo cada vez mais para as mudanças nesse quadro (felizmente!).  Essas mudanças se tornaram mais marcantes após a da II Guerra Mundial, onde as alterações sociais foram marcantes: os pais empregados, as dificuldades econômicas, e a inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, modificou o papel do pai na família. Novos arranjos familiares foram gerados, com significativa mudança nas relações entre homens e mulheres. Esta nova redistribuição tornou mais igualitária a distribuição dos papéis masculino e feminino, e nisso tudo o homem como marido e como pai tem sido o principal alvo de transformação. Apenas a partir da década de 50 que vários investigadores têm se debruçado sobre o papel do pai na vida do bebê, sobre a relação pai e filho e o processo de vinculação.

A relação entre pai e filho é de suma importância para o desenvolvimento da criança no futuro

A relação entre pai e filho é de suma importância para o desenvolvimento da criança no futuro

O pai tem um papel de fundamental importância no fortalecimento da empatia dos filhos. O psicólogo Richard Koestner, da Universidade McGill, analisou um estudo com 75 homens e mulheres acompanhados por pesquisadores da Universidade Yale em 1950, quando os voluntários eram crianças. Koestner e seus colegas examinaram diversos fatores que poderiam afetar a capacidade empática na fase adulta, mas um em especial lhe chamou a atenção: o tempo que o pai passava com os filhos. Foi visto claramente que os resultados não estavam relacionados ao tempo da mãe e do pai com a criança em conjunto, e sim dos momentos sozinhos entre pai e filho.

Pesquisadores da Universidade Estadual da Califórnia em Fullerton, também descobriu que filhos com boas lembranças do pai eram mais capazes de lidar com as tensões cotidianas da vida adulta. Na mesma época, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Toronto submeteu um grupo de adultos a um scanner de ressonância magnética funcional para avaliar as reações quando observavam o rosto dos pais. Imagens da mãe provocaram, de imediato, maior atividade em várias regiões cerebrais, algumas associadas ao processamento de características da face. Já o rosto do pai acionou, em primeiro lugar, circuitos no núcleo caudado, uma estrutura relacionada a sentimentos de amor.

O pai e a mãe têm as mesmas respostas fisiológicas diante da sua prole: alterações na frequência cardíaca, respiração e temperatura da pele. Assim como as mulheres, homens vendados conseguem distinguir seus bebês em meio a uma fileira de outros, numa enfermaria, apenas tocando suas mãozinhas. Psicólogos da Universidade Memorial de New-foundland, no Canadá, descobriram recentemente que o nível de testosterona dos pais diminuiu em um terço nas primeiras semanas após seus filhos terem nascido, uma mudança que sugere que o homem fica menos agressivo e mais acolhedor nesse período. Alguns representantes do sexo masculino podem até sofrer de depressão pós-parto: em uma avaliação de 2005 com 26 mil pais e mães, o psiquiatra Paul G. Ramchandani, da Universidade de Oxford, verificou que 4% dos homens apresentavam sintomas da patologia até oito semanas após o nascimento dos filhos.

Com todas as transformações ocorridas e que ainda estão ocorrendo na sociedade relacionadas à figura paterna, atualmente, ao seu papel de autoridade é agora adicionado o de fornecedor de carinho (muitas vezes o papel de durona é da mâe!), sendo que participa, cada vez mais, ativamente da vida das crianças e, brinca com elas, atuando na sua educação e formação.

Estudos de uma pesquisadora em Psicologia da USP mostraram que independente dos autores, filósofos ou estudiosos na área de comportamento e psiciologia, a evidência é unânime: A presença paterna na família é diferente e complementar à materna. Destaca-se que a figura paterna pode ser representada por um tio, um avô ou outro adulto do sexo masculino que participe da vida da criança e que tenha um vínculo satisfatório com ela.

Um pai é muito mais do que 23 cromossomos presentes em um espermatozoide. As mudanças sociais tornaram essa figura cada vez mais fundamental. Um pai divide com a mulher as tarefas domésticas, vai às reuniões da escola, leva os filhos ao pediatra, ao dentista, às aulas de natação, futebol, dança, ou ainda, ficam em casa quando os filhos estão doentes, conta histórias antes de dormir, preparam o jantar… Tanto o pai quanto a mãe assumem os papéis de autoridade (impondo regras e punições) e dos afetos (fornecendo carinhos e recompensas). O pai que era super-herói sem capa, o capitão fantástico, o que resolvia os problemas, agora também se tornou o melhor cozinheiro e conselheiro.

Tenho a sorte de conviver com um pai fora de série, que construiu parte da pessoa que sou, e me deu critérios altíssimos para escolher o pai dos meus filhos. Sr. Otávio Guerra e Marcel Dore, vocês já podem receber a capa de super-heróis!

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas