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O papel dos residentes nos hospitais

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HOSPITAL - Médico Raphael Pinto fala sobre sua rotina no

Todos os dias Raphael Pinto de Mendonça vai à enfermaria do Hospital Universitário Onofre Lopes para visitar seus pacientes internos. São em média dez, dependendo do dia. Depois o médico atende a cerca de 20 pessoas no ambulatório: diagnostica e discute tratamentos com colegas de mais experiência na área.

Raphael é residente de endocrinologia no hospital. Depois de passar seis anos fazendo seu curso universitário, ele sentiu a necessidade de dedicar mais quatro anos para especializar-se em uma área da medicina. Só depois de dois anos de residência em clínica médica, ele conseguiu todos os pré-requisitos que precisava para fazer uma pós-graduação na área em que se especializa há um ano.

Os residentes de hospitais são médicos formados que já podem exercer sua função, mas que se utilizam do ambiente hospitalar para aprimorar seus conhecimentos através da prática, supervisionados como alunos, mas com autonomia para responder pelas reações (positivas ou não) dos pacientes ao tratamento que sugeriram.

A residência pode ser oferecida tanto por hospitais públicos quanto privados, sendo que nos últimos a oferta de vagas é bem menor. Um motivo é que alguns deles não têm convênio com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), que avalia a possibilidade de uma instituição de saúde ter um programa de residências, observando necessidades que vão desde a aparelhagem disponível até o pessoal, para que o aval seja dado. É também o MEC o maior fornecedor de bolsas de estudos para residentes em todo o país, sendo que elas também podem ter origem nas Secretarias de Saúde.

Também pode-se explicar a escassez de médicos residentes em instituições privadas  pelo fato de não haver lucro para o hospital a presença desses alunos de especialização, sendo que a instituição ainda teria que dispor uma equipe para avaliá-los e conduzi-los constantemente. Outra explicação é que alguns pacientes não querem ser atendidos por estudantes, ignorando que residentes já são formados.

O ex-coordenador do estágio supervisionado e da residência em medicina clínica, professor Francisco de Assis de Lima, aponta que, por outro lado, a presença de residentes pode ser muito positiva para o hospital, no sentido de manter sua equipe mais qualificada para determinados trabalhos o dia todo, pois é exigência que os alunos passem 60 horas semanais em regime de estágio, atendendo a pacientes. Existe também a vantagem da mão-de-obra mais barata, já que não há despesas com o residente por parte do hospital. “De um modo geral, como o atendimento é quase todo feito pelos residentes, eles se desdobram muito mais para assistir aos pacientes que o profissional”, completa o médico clínico e professor de turmas de graduação e residência da UFRN.

Raphael Pinto se diz muito realizado com a experiência, e diz: “eu tinha duas opções. Poderia ter acabado a faculdade de medicina e ser médico de família ou fazer a residência. Quando faz a residência você é mais cobrado, o que te força a estudar. Você atende pacientes pré-referenciados de unidades, então você é forçado a se especializar”.

Mas existem também problemas. Um exemplo é a falta de reajuste da bolsa do MEC, que hoje tem um valor bruto de aproximadamente R$ 1.400. O valor vem gerando desmotivação em outras regiões do país, e uma paralisação geral já foi anunciada para o próximo dia 24 pelos residentes de São Paulo. O valor, no entanto, não parece ser um grande problema para os natalenses. “Em São Paulo o custo de vida é muito maior. Aqui, com esse valor dá para viver melhor”, comenta Rogéria Noga, residente de clínica geral do HUOL que pretende se especializar em nefrologia. Ela diz que a paralisação não deve atingir os hospitais  da cidade do Natal.

Atividade tem alta concorrência

A residência médica teve seu início no Brasil no século passado. Desde sua implantação, sofreu algumas mudanças, mas permanece prioritariamente com as mesmas características que tinha quando foi introduzida no país.

As primeiras vagas oferecidas no Estado foram pela Maternidade Januário Cicco. Depois o Hospital Universitário Onofre Lopes abriu vagas para gastroenteorologia, e posteriormente para clínica médica e cirurgia geral.

Para fiscalizar, estabelecer planejamento, execução e avaliação do ensino de pós-graduação em medicina, surgiu ao final da década de 60 a Comissão Nacional de Residência Médica, que por sua vez abriu os Conselhos regionais em Residência Médica (Coreme) em cada estado no Brasil.

Em pleno crescimento no RN, a residência médica ainda não consegue suprir as necessidades de acordo com a procura por vagas. O resultado é uma alta concorrência brigando por um espaço como aluno nos hospitais. Ainda é preciso que algumas áreas se desenvolvam e abram suas portas para pós-graduandos, a exemplo da cardiologia, genética e imunologia, de grande crescimento em todo o mundo e que ainda não provou ser lucrável no Estado, que por sua vez ainda sofre com a falta de tecnologia aplicada. O resultado desses entraves é que muitos médicos acabam saindo do Estado para poder se especializar.

Mesmo assim, para o professor de graduação e residência da UFRN, Francisco de Assis de Lima, o fato de a UFRN possuir hospitais próprios capazes de fornecer prática na área para seus alunos já é um ponto bastante positivo, tendo em vista que em muitos estados as universidades federais não os possuem.

Até poucos anos atrás a residência era realizada apenas em hospitais do Estado, e a bolsa de estudos que hoje é oferecida não era privilégio de todos. Pelo contrário, os alunos eram voluntários e em algumas entidades a experiência era até cobrada do aluno. Hoje entidades privadas já oferecem vagas para médicos estudantes, e não apenas para a residência, mas também para o estágio, no qual o aluno não recebe dinheiro pelo trabalho que presta, tem menos horas obrigatórias de serviço e pode prestar a prova que lhe dá o título de especialista em uma determinada área, sendo que o estágio ainda não é muito comum no Estado.

Atualmente a residência médica já é prática tão comum que gerou o enxugamento da grade curricular do curso de graduação, e passou a ser mais um complemento do curso de graduação, pois é só através dela que os médicos têm acesso a matérias que farão deles profissionais mais aptos, como a complementação das práticas. A residência, que não é obrigatória, passou a ser fundamental para formar bons médicos, com experiência e mais embasamento teórico.

Para o professor de graduação e residência da UFRN, Francisco de Assis de Lima, isso significa que o governo não se preocupa com a educação sensu lato, e posterga a qualificação. E ainda diz que “o docente que está com eles transfere o trabalho e até coloca os residentes para monitorar os graduandos”. Na sua opinião isso faz com que o aluno da residência fique sobrecarregado, tendo que às vezes trabalhar bem mais que as 60 horas semanais exigidas pelo programa de bolsas de estudos, fazendo com que volte sua atenção mais para o trabalho e menos para a aprendizagem. Das horas exigidas, 80% devem ser dedicadas à prática e 20% a atividades teóricas.

Saúde pública entra no currículo

O trabalho dos médicos residentes acontece basicamente dentro de seis grandes grupos, que são a cirurgia, a traumo-ortopedia, a pediatria, a toco-ginecologia, a clínica médica e a saúde pública, sendo que a última está entrando no currículo dos cursos de graduação pela necessidade de ensinar os alunos a respeito do atendimento em postos de saúde.

Dentro de cada um deles estão ramos mais específicos da ciência médica. Por exemplo, antes de fazer a especialização em endocrinologia, bem como psiquiatria, neurologia, cardiologia, nefrologia, pneumologia, reumatologia e dermatologia, é necessário que o médico pela residência em clínica médica por dois anos. Só então fará outra prova que avaliará sua condição de fazer a pós-graduação nas áreas mais específicas. Assim, cada residência dura um período que vai de dois a quatro anos, aproximadamente.

Para conseguir uma bolsa de estudos como residente em um dos hospitais do país, o candidato deve passar por uma avaliação teórica de conhecimentos de medicina, uma mais específica abordando seus conhecimentos na área para a qual se candidatou, exame curricular e entrevista. A concorrência é similar à de uma prova de vestibular, pois para cada vagas são dezenas de candidatos, tornando sua aquisição bastante disputada. “O número de alunos é muito grande. Para ser aprovado tem que ser bem preparado”, diz o professor de residência médica da UFRN, Francisco de Assis de Lima.

Uma vez dentro dos hospitais, todo residente tem uma equipe de supervisão, os preceptores, que lhe auxiliarão na tomada de decisões, mas não responderá por erros cometidos pelos pupilos. “A gente não se sente órfão”, comenta Raphael Pinto de Mendonça, residente em endocrinologia do Hospital Universitário Onofre Lopes.

Os alunos são avaliados constantemente. Em cada área de pós-graduação possível existem sub-especialidades pelas quais cada estudante deve passar a fim de aprender a respeito de todos os ramos em que poderá atuar dentro da sua especialidade. Desde que entra no programa de residência o médico passa por um rodízio, que lhe dá a oportunidade de exercer cada sub-especialidade por um determinado período. A cada etapa é feita uma avaliação prática e, por vezes, teórica.

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