Ramon Ribeiro
Repórter
Artistas de vários lugares vivenciam a relação da arte com a
comunidade. O cearense Hirlan, do festival Concreto, traduz a cultura da
área
Essa relação carinhosa também pôde ser vista pela reportagem do VIVER em frente a casa de Dona Creuza. Para ela e as netas, o grafite mais bonito é o do maranhense Rocha. “Todo dia escuto pela janela alguém passando na rua e dizendo ‘olha que massa esse desenho!”’, comenta Creuza, que vai completar 73 anos na próxima sexta-feira. “Vou dar uma festa já aproveitando a pintura. Vamos botar uma iluminação. O povo vai todo fazer foto”.
Um pouco adiante, numa casa em frente ao rio Potengi, o artista Pomb, de Brasília, retratou um pescador da comunidade. Segundo a curadora do projeto, Sayonara Pinheiro, o artista conversou com o pescador, fez uma fotografia dele e pintou algo relacionado à conversa. Em outra situação, um outro pescador que desde as outras edições pedia um peixe no muro de sua casa, desta vez foi atendido. E ele ficou acompanhando o trabalho do grafiteiro com sorriso no rosto.
O artista Rocha pinta enquanto papeia com a moradora
“Esse contato com as crianças me influenciou a fazer um segundo grafite. Um dos pilares do meu trabalho são meus filhos, que me trazem um cenário lúdico, por isso gosto de usar bastante cor, bastante alegria nos desenhos, gosto de desenhar crianças”, comenta Digo, que revela estar vivenciando algo único. “Em Chapecó, onde eu moro, não existe cena do grafite. Agora que está aparecendo uns garotos. E já me envolvi com alguns projetos em periferia, mas não como o que estou vivenciando aqui. Por isso essa sede de viver isso. É uma realidade bem distante pra gente”.
Exposição na Capitania das Artes
Quem também teve um contato muito próximo com a comunidade foi a artista pernambucana Amanda Pietra. Ela se envolveu com a Associação de Mães e de Rezadeiras para desenvolver seu trabalho, que poderá ser visto apenas na exposição do INarteurbana na galeria da Capitania das Artes (Cidade Alta). A abertura será na próxima quinta-feira (13), às 17h, com pocket shows, apresentações de danças e, claro, uma série de obras dos 20 artistas participantes desta edição do projeto. A entrada gratuita.
Trabalho do coletivo Nata Família valoriza cenário simples
De acordo com a produtora do projeto, Agathae Montecinos, a exposição é uma mostra do que é desenvolvido durante os dez dias de residência no Passo da Pátria. Os trabalhos produzidos para a mostra são fiéis ao trabalho de rua e utilizam como suporte materiais encontrados na própria comunidade. O projeto INarteurbana é uma realização da associação franco-brasileira Pixo, e do ponto de cultura e residência artística Casa Vermelha, patrocinado pela Fundação Air France.
Digo Cardoso, de Santa Catarina, se inspirou em Dona Dilma
Quem desce o Viaduto do
Baldo em direção à entrada do Passo da Pátria verá um muro da Cosern
todo grafitado. O trabalho está praticamente pronto e o autor é o
grafiteiro Miguel Carcará. Mas ele faz questão de ressaltar que não fez
tudo sozinho. “Estou aqui com outros cinco garotos. Formamos o Coletivo
08, da [comunidade] África, da Redinha”, conta o artista potiguar.
Também pudera, o muro tem 260 metros de comprimento.
Carcará tem
feito esses trabalhos de grafite nas substações da Cosern, sempre
retratando temas referentes à segurança com a questão elétrica, mas
pontuando com o cenário e aspectos da cidade. “Já fiz três. Mas este sem
dúvidas é o maior que já fiz. Estamos há três semanas aqui. Acredito
que nesta quarta a gente termina”, diz o artista.
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