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O pioneirismo de Alzira Soriano

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Ramon Ribeiro
Repórter

Não foram poucos os insultos que a potiguar Alzira Soriano ouviu ao se candidatar a prefeitura de Lajes, em 1928. Se em pleno 2018 o ambiente político é extremamente masculino, naquela época a situação era absurdamente pior, sobretudo em anos de Coronelismo no sertão nordestino. Mas Alzira, então com 31 anos, viúva,  mãe de duas meninas e grávida da terceira, tinha sempre uma resposta para as hostilidades – e quando as palavras não bastavam, ela partia para as bofetadas. Com tamanha firmeza e articulação, ela entrou para a História do Brasil ao ser a primeira mulher eleita para um cargo executivo no país. Seu feito repercutiu para além das fronteiras nacionais, ganhando inclusive às páginas do New York Times, que a registrou como a primeira prefeita eleita da América Latina. Alzira se elegeu com 60% dos votos, fazendo com que seu adversário deixasse não só a cidade, mas o Estado.

Alzira Soriano em seu gabinete em Lajes. Incentivada por Bertha Lutz, tornou-se a primeira mulher eleita do país

Alzira Soriano em seu gabinete em Lajes. Incentivada por Bertha Lutz, tornou-se a primeira mulher eleita do país

Nos 90 anos desse feito, Alzira Soriano (1987-1963) tem sua história relatada em livro “Alzira Soriano – Uma guerreira potiguar”, do escritor paraibano Irani Medeiros, que será lançado neste sábado, das 9h às 12h, no Sebo Vermelho. Irani é autor também de uma biografia do poeta Fabião das Queimadas. “Do mesmo modo que Fabião das Queimadas estava por merecer um livro que reunisse um pouco de sua história, a biografia de Alzira estava carente de registro”, diz Irani, que levou dois anos e meio de pesquisa para escrever o livro.

“Falta muita informação sobre a primeira mulher eleita para um cargo executivo no país. Os perfis disponíveis são pequenos demais diante da importância dela. Seu feito é um fato histórico nacional”, comenta o escritor, que chegou a visitar Lajes. “Alzira é uma ilustre desconhecida na cidade em que administrou e que a tornou notícia internacional. Na rua em frente a prefeitura, que leva seu nome, não encontrei nenhuma placa. Poucos na cidade conhecem a história de Alzira. O prefeito do município, um professor de História, não deu a menor importância a pesquisa sobre ela”. Embora prefeita de Lajes, Alzira nasceu em Jardim de Angicos.

Alzira tomou posse como prefeita no dia 1º de janeiro de 1929. Seu tempo no cargo foi curto. No ano seguinte, com o golpe de estado de Getúlio Vargas, a potiguar renunciou ao mandato, por não concordar com as posições do governo Vargas. Irani conta que mesmo com apenas um ano no cargo, sua gestão foi competente. “Ela melhorou a cidade em várias aspectos. Construiu estradas, o mercado público, tratou da iluminação pública”, diz. Após a renúncia, a potiguar somente retorna a política em 1947, como vereadora de Jardim de Angicos, por duas legislaturas consecutivas.

Irani Medeiros e sua ligação com o RN: Assim como Fabião das Queimadas, a biografia de Alzira Soriano estava carente de registro

Irani Medeiros e sua ligação com o RN: ”Assim como Fabião das
Queimadas, a biografia de Alzira Soriano estava carente de registro”

Feminismo
A articulação para a candidatura de Alzira Soriano é resultado de lutas travadas no cenário nacional pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que buscava, via projeto no Senado, conseguir o direito ao voto. Uma das líderes do movimento sufragista nacional, a paulista Bertha Lutz, se aproximou de Juvenal Lamartine a fim de conseguir mais apoio. Juvenal havia renunciado ao Senado para tentar o Governo do RN.

A convite do potiguar, Bertha visita o Estado, chegando, inclusive, a sobrevoar Natal lançando panfletos em defesa do voto feminino. Numa viagem ao sertão, ela encontra em Alzira as possibilidades de ver a primeira mulher eleita prefeita no Brasil e aposta todas as suas fichas. A família da potiguar ver com bons olhos a proposta e Lamartine dá seu apoio a candidatura.

“Alzira já participava das atividades políticas do pai Miguel Teixeira. Era uma mulher muito ativa, também cuidada da fazenda da família. Em sua campanha já pedia mais protagonismo das mulheres na política”, comenta Irani, reconhecendo o ideias feministas da potiguar.

Livro: Alzira Soriano - Uma Guerreira Potiguar, do escritor paraibano Irani Medeiros

Livro: Alzira Soriano – Uma Guerreira Potiguar, do escritor paraibano Irani Medeiros

Para o escritor, Alzira deveria ser bem mais reconhecida no RN. “Ela é um símbolo de luta das mulher por mais espaço na política. Deveria ter sua história mais presente na sociedade potiguar. Depois dela, outras mulheres foram eleitas no RN e mesmo assim se fez silêncio quanto ao pioneirismo de Alzira. Talvez por ciúme, machismo. Mas também é notória a falta de compromisso com a própria memória no RN”, argumenta o pesquisador paraibano.

Três potiguares pioneiras
Um ano antes de Alzira Soriano se eleger prefeita de Lajes, chamando a atenção nacional, em Mossoró, a professora Celina Guimarães se tornava a primeira mulher a ter direito ao voto no país. Os dois fatos históricos dão ao Rio Grande do Norte posição de destaque na memória política brasileira e da trajetória de luta feminista.

Mas o pioneirismo das duas deve em grande parte ao papel importante de outra potiguar, que como as duas, merece ter sua memória mais divulgada: Nísia Floresta. Que no início do século XIX, abriu as portas do feminismo no Brasil.

Serviço
Lançamento do livro “Alzira Soriano – Uma Guerreira Potiguar”, de Irani Medeiros

Dia 27 de fevereiro, às 9h

Sebo Vermelho (Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta)

Preço: R$ 30

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