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O poder da sustentabilidade

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Renata Moura e Cledivânia Pereira
Repórteres e editoras

Práticas que ajudam a reduzir desperdícios e o descarte inadequado de produtos no meio ambiente “brotaram”, no Rio Grande do Norte, dentro de uma  cozinha que fornece refeições “em escala industrial” e no dia a dia de salões de beleza. O resultado veio em forma de menos custos e mais competitividade para os negócios, inseridos no setor que mais tem empresas e empregos no estado: comércio e serviços.

A busca por ações de sustentabilidade, que reduzam  impactos no meio ambiente, pode ser impulsionada no mundo dos negócios por vários tipos de necessidades. Há empreendedores que se identificam com o conceito, outros que buscam por  questões econômicas, por obrigação ou, ainda, porque querem mais competitividade e espaço no mercado. Esse último caso é o da Nutriti, uma pequena empresa potiguar que  transformou práticas do dia-a-dia para obter certificações e novos contratos dentro e fora do estado.
Em uma pequena empresa da área de alimentação no RN, óleo e gordura já não são jogados no ralo
Diariamente, 18 mil refeições saem de cozinhas da empresa no Rio Grande do Norte para a mesa de “restaurantes populares” do governo e de outros clientes em segmentos como o hospitalar e o de construção civil.

Centenas de quilos de arroz, feijão, carne e outros alimentos são preparados por dia, com   mudanças no processo de produção que reduziram desperdícios de ingredientes, custos de produção e o descarte inadequado de resíduos. “Implantamos ações que podem parecer básicas, mas que têm feito a diferença na nossa rotina e nos nossos resultados”, diz a gerente técnica e nutricionista Umbelina Assunção.

Em uma das investidas, a empresa eliminou, segundo ela, o óleo no preparo de frituras. Como resultado, 20 mil litros do produto deixam de ser jogados no ralo, por ano, evitando contaminação de água e outros danos ao meio ambiente.

Os ganhos, resultados de um novo sistema de produção, vieram com a substituição de fornos convencionais por “fornos combinados”, que assam e cozinham ao mesmo tempo acelerando a produção e dispensando a necessidade do óleo no alimento. “A medida gera uma economia anual de R$ 60 mil a R$ 80 mil à empresa. Foi o que investimentos nos fornos e era o que gastávamos com óleo por ano”, estima o diretor, Martinho Ferreira.

A pouca gordura ainda gerada na cozinha é resultante do frango, mas o descarte dos resíduos da carne já não é o mesmo. Em vez de irem parar na lata do lixo, desde o ano passado eles são doados a uma organização não-governamental que processa a gordura e vende a fábricas de sabão e sabonete instaladas no Rio Grande do Norte e na Paraíba.

Investimento
Nos últimos dois anos, a empresa calcula ter investido cerca de R$ 200 mil em compra de equipamentos para melhorar a eficiência e a qualidade na produção e distribuição das refeições.

A adoção das novas práticas foi orientada por um consultor do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e  rendeu ao negócio este ano a ISO 9001:2008, uma certificação  de qualidade na gestão. Outra certificação, a ISO 14000 – que  atesta a adoção de um sistema de gestão ambiental na empresa – está em processo de implantação e deve ser oficializada, segundo expectativa da Nutriti, até meados do próximo ano.

#SAIBAMAIS#O diretor da empresa, Martinho Ferreira, afirma que o desembolso requerido no processo é compensado em médio e longo prazos. “Tudo o que você vai fazer para melhorias tem custo, mas um custo que você sabe que dá retorno. É um custo necessário”, diz. “E se soubéssemos antes do ganho de imagem e da redução de custos que ia nos proporcionar, teríamos feito há mais tempo”.

Apesar de não serem obrigatórias, as certificações já têm feito a diferença na disputa por mercados. “Numa licitação de determinado órgão ficamos em segundo lugar, mas acabamos vencendo porque, apesar de não termos o menor preço, nos posicionamos melhor na avaliação técnica”, diz Umbelina Assunção. “Muitas empresas já cobram essas certificações nos processos de escolha”.

Óleo de restaurante também vira sabão
Restaurantes do RN também têm demonstrado preocupação com o descarte de resíduos e, há ao menos cinco anos, dão um destino final diferente ao óleo: Uma fábrica de sabão.

Cerca de 80 estabelecimentos em Natal destinam, juntos, 20 mil litros por mês do líquido a uma empresa que o recolhe, o transporta até um depósito na Paraíba, penera para retirar resíduos e traz de volta ao Rio Grande do Norte para a fábrica Guarani, localizada em Mossoró, município a 285 Km da capital.

“Os restaurantes têm prazo para usar o óleo na cozinha. Quando atingem esse limite  armazenam o produto em um tambor que nós recolhemos e substituímos por outro vazio no estabelecimento”, diz Izael dos Santos, comprador e representante da RCW, empresa que realiza a coleta em Natal e nas cidades de  Salvador (BA), Maceió (AL), Recife (PE), João Pessoa (PB) e Fortaleza (CE). Em Natal, diz ele, o maior volume sai das redes de fastfood McDonalds, Pittsburg e Bob´s, mas estabelecimentos de outros segmentos também participam da iniciativa. Por cada litro de óleo, o restaurante recebe uma taxa de R$ 0,50 a R$ 0,70 da empresa.

Programa
O novo jeito de destinar o produto está previsto no projeto “Papa Óleo”, desenvolvido há cinco anos pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no estado. “Temos 100 associados participando (alguns deles tem o óleo coletado por outras empresas que não a RCW)”, diz o presidente da Associação, Max Fonseca, afirmando que, antes, o destino desse produto era o ralo, “por desconhecimento ou por falta de projetos na área”. “Agora, ele tem a destinação correta”, frisa.

Cerca de 90% dos bares e restaurantes do estado, segundo ele, são micro e pequenas empresas. “A gente sempre trabalha a importância da sustentabilidade na associação, mas ela ainda não é generalizada”.

Gestão baseada em sustentabilidade é postura para grandes empresas? Implantar ações de sustentabilidade custa caro? A consultora do Sebrae-RN, Fabiana Gondim, respondeu a essas perguntas de forma prática com um novo método de trabalho que reduz desperdícios e custos de operação em um segmento formado, basicamente, por pequenos empreendedores: o de salões de beleza.

O novo método – denominado “HairSize” – foi criado por Fabiana enquanto ainda era empresária do setor. “Não sabíamos explicar qual a quantidade ideal de produto para cada tipo de cabelo. Trabalhávamos no ‘olhômetro’. Comecei então a buscar uma solução e me assustei quando descobri que, em alguns casos, havia um superdimensionamento de até 70% na quantidade de produto que deveria realmente ser usado”, observa a consultora.

Com base nas análises que fez , ela desenvolveu ferramentas que medem o tamanho, a espessura e o volume dos fios de cabelo. Com a ajuda de réguas e uma tabela o profissional descobre então a quantidade correta a ser aplicada no procedimento. “No mínimo,  conseguimos reduzir em 30% a quantidade de material usada nos procedimentos”, explica.

A metodologia nasceu no Rio Grande do Norte, onde 50 microeempreendedores foram treinados para aplicá-la, mas já chegou a vários estados do país e deve ser nacionalizada por meio do Sebrae Nacional, diz o gerente da Unidade de Tecnologia e Inovação do Sebrae-RN, João Bosco Freire Cabral. Ao todo, 300 salões de Pernambuco, Goiás, Roraima e Maranhão já participaram de consultorias na área, e no início de 2015 o projeto deve chegar também ao Rio de Janeiro.

Impacto
E para quem pensa que o impacto de boas práticas em uma pequeno salão de beleza não fazem diferença no meio  ambiente, números do setor podem ajudar a provar o contrário: até junho deste ano, o Sebrae tinha registro de 3.535 cabeleireiros no estado. O número correspondia a 16,61% do total de microempreendedores individuais no Estado e só estava atrás, em quantidade, do de comerciantes  de vestuário e acessórios. No Brasil, são mais de 240 mil salões – público em potencial em que boas práticas podem proliferar.

“Ações na área fazem diferença, sem dúvida. O salão trabalha com muitos produtos poluidores, como tintas, produtos para alisamento, entre outros. E a medida usada na hora de aplicar esses produtos era a palma da mão, sem muitos critérios. Se o cabeleireiro muda a forma de fazer isso, otimizando o uso desses recursos, ele está investindo em sustentabilidade”, analisa o gerente da Unidade de Tecnologia e Inovação do Sebrae-RN, João Bosco Freire Cabral.

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