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O poder de parar

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Vicente Serejo
Não é tão difícil, mesmo para quem desdenha da teoria estratégica, ainda quando se move por acaso, perceber que a pandemia acabou, dialeticamente, ou, contraditoriamente, dando a Jair Bolsonaro o poder de parada. Aquilo que os americanos chamam de ‘stop power’. Ou seja: parar a queda que parecia vertiginosa, e revertê-la. E não foi por mérito ou força do neoliberalismo tão defendido pelo ministro Paulo Guedes, mas pelo retorno forte e decisivo do velho papel do Estado.
Foi a crise o útero fértil desse retorno do Estado, quando o temor de uma desorganização política e social já ameaçava sua estabilidade. Naquela hora, dois fatos estancaram a velocidade da vertigem que parecia inevitável: a retomada do diálogo com o Congresso Nacional, portanto, com o poder político; e a decisão de financiar os estados que sozinhos não enfrentariam a urgência com o estrago da peste que abriram o cofre da União com elevadas transferências a fundo perdido. 
Se por seu lado, com a decisão do Supremo, o governo federal foi obrigado a respeitar a autonomia dos governadores e prefeitos, dentro do princípio federativo, só o governo da União teria condições de criar e implantar rapidamente o auxílio-emergência. O que pôs em suas mãos não novo bolsa-família, muito mais forte, como veloz e capaz de chegar ao bolso de mais de duas dezenas de milhões de famílias carentes sem mais emprego e renda. Ali estava o estado-protetor.
Basta ter um mínimo de isenção para se constatar a falência da blindagem tão arquitetada pelo neoliberalismo da área econômica. A grande lição da crise foi levar o governo a não mais ter a fixação de uma idiossincrasia que nutria um modelo a prescindir do estado assistencialista como forma de modernidade. Um país de profundas desigualdade sociais não tem como suprimir o papel do estado, sob pena de promover a inquietação social, algo mais forte, às vezes, do que o capital. 
Essa volta à proteção inundou a boca do governo e molhou as suas papilas gustativas de um sabor que o metabolismo coletivo processou como doce. E o presidente que vinha despencando em todas as pesquisas, sentiu que estava estabelecendo uma parceria direta com os contingentes mais vulneráveis da sociedade a ponto de abriga-lo como parceiro. O auxílio-emergência teve a força de não só parar sua queda, como impulsioná-lo, reforçando o velho e claro modelo populista. 
A modernidade de Jair Bolsonaro, convenhamos, não passou de uma bem urdida ficção do ministro Paulo Guedes. O estado voltou, protetor e solidário, como nunca. E não se ponha nos carentes o pecado da fraqueza interesseira. O povo, ao longo de sua história, sempre reagiu assim. Ontem, com o bolsa-família, hoje com o auxílio-emergência, ambos nascidos de fontes ideológicas frontalmente opostas. Procurar, pois, ideologia na fome, é enxergar chifre em cabeça de cavalo. 
MARCA – O Instituto de Medicina Tropical da UFRN ultrapassou vinte mil exames dos testes do Covid-19. O IMT atende a dezessete municípios que enviam seus testes, além de Natal e Mossoró.
ALIÁS – Volto a insistir: o jornalismo provinciano não conhece o papel do IMT e da professora Selma Jerônimo, um nome respeitado pela comunidade internacional na área de medicina tropical.
GRATIDÃO -Defender Natal, Daliana, apoiado em Cascudo, seu avô, é dever de todo natalense. A Câmara Municipal, jejuna de sua obra, não sabe e nunca leu. Disponha desta pequena trincheira.
AQUI – Se o óleo que poluiu as praias de Natal veio da Europa e as correntes marítimas trouxeram até aqui, a tese de Lenine Pinto pode ter sentido. E o Brasil ter sido descoberto no RN. É esperar.
FONTE – Marcelo Holanda, no Agora, cita pesquisa do Instituto de Pesquisas Espaciais: óleo foi despejado nas águas do Golfo da Guiné e trazida às nossas costas pelas correntes. Lenine revive!
HUMOR – Surgiu nas redes sociais um Batman, vestido a caráter, tocando bandolim para ganhar um dinheirinho.  Abaixo, numa tirada de bom humor, a frase: “Não está fácil nem para os heróis”. 
ESPIÕES – O pesquisador Rostand Medeiros, depois das trilhas de Lampião no RN, já trabalha no novo livro: a espionagem em Natal durante a Segunda Guerra. Dos alemães e dos americanos.
ATÉ – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, depois de ouvir uma crítica feroz contra o jornalismo de alguns blogs: “Tem de tudo, é inegável. Até o despudorado jornalismo patronal’.  
TRADIÇÃO – A Câmara Municipal ainda não compreendeu, e não compreenderá tão cedo: a tradição de luta se forja no calor da própria luta. Os edis desconhecem que a tradição de defesa de Natal pertence ao jornalismo, à sua história de vigilância que venceu as velhas tramas dos poderes.
VÍCIO – O nosso poder legislativo, sem que se negue a presença das raras exceções, nunca quis exercer aquele papel honroso do pequeno Senado, criado para defender a comunidade que o elege diretamente e espera dos legisladores municipais a transparência de um jogo aberto e democrático.  
EXEMPLO – Não faz muito tempo, envolveu-se, sem legitimidade, na formulação das regras do edital de concorrência do transporte púbico, perdendo, ali mesmo, a isenção para julgar o melhor para a cidade. Vem ai o debate do Plano Diretor que, no passado, fez de alguns edis os novos réus.
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