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O prazer de nadar

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Vicente Estevam
Repórter de Esportes

Os nadadores da Praia de Ponta Negra conquistaram uma grande vitória essa semana, depois de um ano de muitas idas e vindas, a Associação dos Nadadores conseguiu a aprovação da Capitania dos Portos do RN para instalar um novo píer de apoio aos atletas que têm como hobby, cair no mar, e dar algumas braçadas. A liberação ocorreu na última terça-feira. Agora com o novo equipamento de apoio à disposição, já foi iniciado os preparativos para realização da Travessia ligando as Praias de Cotovelo a de Ponta Negra, com dez quilômetros de extensão e prevista para ocorrer em março.

Balsa para o apoio aos nadadores foi aprovada após um grande processo burocrático
A Associação de Nadadores da Praia de Ponta Negra é um grupo formado por 200 membros e que resolveu se juntar para criar as suas próprias competições e promover uma integração cada vez maior entre os amantes da natação. Ou seja, para maioria dessas pessoas que flutuam na faixa entre 10 e os 85 anos, o esporte por lazer é encarado, na verdade, como uma grande terapia.

Terapia essa que fez o militar reformado, Eduardo Azevedo, que nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu por 28 anos e que morou outros 33 anos em São Paulo onde se casou e teve os filhos e diz, brincando, que foi “domesticado na capital paulista”, adotar Natal para morar e passar o resto dos seus dias, uma vez que, mesmo viúvo, já disse que não tem plano algum de deixar de viver na capital potiguar.

Ele praticamente assistiu todos os movimentos da formação da Associação de Nadadores, já que frequenta o mesmo pedaço em Ponta Negra, vizinho ao Morro do careca, há 22 anos, além de manter uma barraca com cadeiras para receber os amigos que fez praticando não apenas natação, mas também o frescobol na praia.

Amante da natação, Eduardo Azevedo esbanja saúde aos 85 anos
“Realmente me sinto muito bem aqui em Natal, sou natalense por opção, acompanhei todo o movimento dessa turma e sou o membro mais antigo do grupo. Aos 85 anos não tenho como participar de provas, mas continuou dando as minhas braçadas em distâncias curtas e jogando o meu frescobol. Tenho o respeito dos demais companheiros e isso me gratifica muito. Todos vêm me ver a falar comigo, o que posso querer mais na minha idade se não a consideração dos amigos?”, ressalta Maurício Azevedo.

A vida regrada e dedicada ao esporte e com boa alimentação, rendeu ao militar reformado uma terceira idade saudável. Fora um aparelho marcapasso que teve de implantar no peito em novembro passado, motivado por um cansaço estranho que passou a sentir ao realizar algum esforço, nada mais afeta a saúde de Maurício Azevedo.

“Eu como de tudo, mas sempre de forma regrada. Nunca tomei um remédio para dor de cabeça, nunca senti uma dor de cabeça, nem enjoo ou qualquer tipo de mal-estar. E o segredo disso é viver feliz, onde a gente gosta e respeitando os nossos limites. Sei que agora não posso mais me arriscar tanto na água, pois tenho o limite da idade. Então procuro adaptar a situação a minha limitação e continuou praticando o esporte que iniciei aos 19 anos, na Praia da Urca, junto com meu irmão no Rio de Janeiro”, destacou.

Pela hierarquia, a presidente da Associação de Nadadores é Madalena Nunes, 58 anos, mas como tem a voz sempre escutada dentro da entidade, Maurício é considerado como uma espécie de presidente de hora do grupo e um dos grandes articuladores pela vivência e o trato com os demais integrantes. 

O amor pela natação foi um dos elos de ligação para unir um grupo de pessoas de hábitos saudáveis, com a finalidade de contemplar a vida, a natureza e as belezas da capital potiguar, que todo dia é apreciada por um prisma de alguém que se apaixonou pela cidade.

“Essa praia de Ponta Negra encanta qualquer visitante, ao chegar aqui pela primeira vez essa paisagem me deixou maravilhado. Não canso de parar aqui de baixo da minha barraca, próximo ao Morro do Careca, para contemplar toda essa beleza divina. Eu lamento apenas que a especulação imobiliária tenha afetado tanto a vista daqui, mas fazer o quê? É o progresso”, afirmou.

Como nunca gostou de ficar parado, no tempo de sua adolescência ele disse que praticou vôlei e futebol, pelo Botafogo, uma vez que morava próximo a sede do clube e diz que teve a honra de frequentar o local no mesmo tempo de Garrincha.

Estilo de vida

Para Madalena Nunes, vencida a batalha da implantação do flutuante de apoio aos nadadores, a nova etapa agora será continuar promovendo eventos e difundido a natação, bem como focar no sentido de estabelecer no calendário esportivo potiguar uma prova de travessia permanente, que com o apoio das autoridades possa ser organizada anualmente e atrair atletas de outros locais para vir a Natal, fortalecendo a campanha para exploração do turismo esportivo no estado.

Madalena Nunes nada há 53 anos e coleciona medalhas em casa
Madalena é um exemplo de pessoa que tem a natação correndo no sangue, daquelas que não medem esforços para disputar uma prova. Tanto que em 2017, chegou a gastar R$ 10 mil do próprio bolso para poder disputar uma prova nos arredores de Lisboa, em Portugal. Ciente de que atleta amador e, principalmente veteranos, possuem muita dificuldade de conseguir algum patrocínio, ela disse que sequer gosta de perder tempo procurando alguma empresa interessada em, ao menos, dividir as despesas dessas viagens.

“Nessa área é tudo muito difícil. É complicado junto a iniciativa privada, bem como perante as nossas autoridades municipais e estaduais. Não há verbas para patrocínio. Então as competições que realizamos têm apenas o apoio dos próprios nadadores que se articulam e cada um ataca um ponto, para que as coisas saiam como devem”, disse Madalena.

Segundo a presidente da Associação de Nadadores, o apoio público mesmo só vem de órgão isolados como a Capitania dos Portos, Corpo de Bombeiros e do serviço de ambulâncias. 

“A Capitania dos Portos sempre acompanha as provas, desde a elaboração e nos orienta em relação as condições do mar, avisam se há risco de ressaca no dia e essas coisas. Também conseguimos apoio do Bombeiros que disponibilizam as embarcações e acompanham todo o trajeto para agir rápido em caso de algum problema. Já em relação as ambulâncias, sempre contamos com o auxílio delas em dias de provas, os vereadores que dispõem de ambulância própria, também costumam colocar a nossa disposição nos eventos”, explicou Madalena Nunes.

Ligada ao esporte aquático desde a infância, a história de Madelena Nunes iniciou na natação igual a de milhares de crianças. Com problemas respiratórios provocados pela asma, a partir dos 5 anos ele iniciou a prática atendendo conselho médico, gostou e decidiu não largar mais. Tanto que aos 53 anos depois de dar as primeiras braçadas, ela continua em plena atividade e conquistando medalhas.

“Eu não tenho ideia do número de medalhas que já ganhei. Em casa eu não tenho mais onde colocar, então eu passei a colecionar apenas as medalhas que considero mais representativas. As outras distribuo com os amigos. Minha vida sempre foi nadar, comecei nas piscinas, disputando provas rápidas e hoje estou me dedicando as provas de longa distância no mar”, frisou.

Meta

Inquieta, sempre buscando estar em movimento, depois de superada a batalha da implantação do flutuante definitivo na praia de Ponta Negra, que segundo ela exigiu muita paciência dela e dos demais membros da associação devido ao longo processo burocrático na Capitania dos Portos, agora chegou o momento de planejar as competições que serão realizadas no restante as temporada, bem como a sua próxima viagem com a finalidade de garimpar novas medalhas.

“Conquistei a medalha de bronze no último Sul-americano realizado no Paraguai e estou pensando em tentar algo melhor na próxima edição dos jogos, que está marcada para Colômbia. Só que para participar dessa prova eu gastei seis mil reais com passagem e hospedagem. Para Colômbia sei que vou ter de gastar um pouco mais. Mas estou em fase de planejamento e vamos ver no que vai dar”, salientou Madalena Nunes.

Indagada sobre a grande diferença entre disputar provas em piscinas ou no mar, habituada bem aos dois cenários, Madalena ressalta que a piscina exige mais técnica e para que uma pessoa consiga ser um atleta de ponta na Natação, ele não pode dar margem ao erro. Nas provas tudo deve ocorrer de forma perfeita, mergulho, respiração, braçada e as viradas. Qualquer falha pode ser determinante. Já no mar as principais características são que as provas exigem resistência e também velocidade. Além do mais por ser considerada uma água mais leve, no mar fica mais fácil nadar”, explicou.

A presidente da Associação dos Nadadores de Ponta Negra, participa de provas consideradas de grandes travessias desde 2000. Ciente do interesse dos atletas por esse tipo de competição, ela tem como meda na administração de sua entidade, a organização de um grande e ousado projeto neste sentido. Só que para fazer qualquer coisa neste sentido, terá de contar com a colaboração das autoridades municipais e estadiais, pois sem garantias, fica complicado se organizar um projeto de magnitude internacional. 

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