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“O problema dele é que era falso”

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Felipe Gurgel
repórter de Esportes

Um dos grandes ídolos do América, na última década, o volante Júlio Terceiro está longe do futebol desde o mês de abril. Depois de uma longa batalha judicial contra o Ipatinga/MG, o jogador, finalmente, conseguiu a liberação do time mineiro. Mas, muito tarde, já que o prazo para inscrição na CBF tinha se encerrado. Agora, espera pela próxima temporada para voltar a jogar. Nessa entrevista exclusiva para a TRIBUNA DO NORTE, Terceiro falou sobre seu atual momento, futuro da carreira, bastidores e sua saída do América, proposta de Alecrim e ABC, a briga com Lula Pereira e deu sua opinião sobre o que acha da possibilidade de Alex Padang ser o futuro presidente do alvirrubro.
Júlio Terceiro, jogador de futebol
Muita gente pergunta por onde anda Júlio Terceiro. Você parou de jogar?

Não parei, nem vou parar. Tive um problema judicial muito sério com o Ipatinga/MG e fique seis meses tentando minha liberação e o presidente de lá não me liberava. Nisso, recebi várias propostas de times para disputar a série B do Brasileiro, sendo que o clube só me liberava se eu abrisse mão do que tinha direito de receber e eu não queria deixar tudo com eles. Por isso que decide entrar na justiça e o tempo foi passando, as coisas foram afunilando e acabei perdendo espaço.

Tanto que, depois de você conseguir sua liberação, o prazo de inscrição na CBF se esgotou, não foi?

Consegui minha liberação no dia 10 de setembro e no dia 20 do mesmo mês se encerrava o prazo de inscrição. Tive apenas 10 dias para negociar com os times, sendo que, a grande maioria, já estava com os elencos fechados. Chegou uma hora que eu percebi que tinha perdido o ano. Agora, é dar sequência para a próxima temporada.

Seu problema com o Ipatinga já está resolvido?

Ainda bem que sim. Não tenho mais nada com eles. Mas, é uma pena essa política do futebol, tudo é bastante complicado, mas, estamos sujeitos a isso. Agora estou livre e procurando clube para a próxima temporada.

Existem propostas?

Estou esperando os campeonatos acabarem. Tenho que ver como vão ficar os times, se os técnicos vão continuar. O que posso fazer é esperar, por enquanto.

O mais difícil foi ficar quase um ano sem jogar por uma contusão ou esse tempo parado, por um problema extra-campo?

Com certeza foi na época da contusão, porque eu não podia fazer nada para acelerar o processo de volta. Agora não. Ainda estou novo, tenho apenas 28 anos. Quando me contundi, foi um momento tenso. Os médicos falavam que eu não ia voltar a jogar, minha família ficava nervosa, triste. Mas, ainda bem que Deus pôs a mão em mim e me recuperou.

Sua briga com o Ipatinga foi por causa de salários atrasados ou você queria sair do clube?

Foi mais por causa de salários mesmo. O clube não estava pagando e decidi sair. Quando deixei o Ipatinga, estava jogando bem, aparecendo muitas propostas. Foi quando pensei em sair de lá esperando que as coisas fossem acontecer. Infelizmente, deu tudo errado e agora é recomeçar em janeiro.

Esse relacionamento entre jogador e dirigente é complicado?

Demais, principalmente para  jogador que não tem empresário, como é o meu caso. Só depois desse caso com o Ipatinga, que decidi ter um empresário, que por coincidência, é daqui do Rio Grande do Norte. Sempre negociei direto com o presidente do clube ou com os gerentes de futebol e, por causa disso, tive muito atrito. Quando você tem um empresário, você fica livre dessas obrigações e pensa apenas em jogar bola. O empresário é ruim para o futebol, mas é bom para o jogador. Você precisa dele. Hoje, é um mal necessário.

Você acha que vai conseguir melhores contratos com um empresário?

A tendência é essa. Mas, tudo depende do seu rendimento dentro de campo. Se você está jogando bem e seu empresário trabalhar do lado de fora, junta o útil ao agradável e tem tudo para dar certo.

Como você está fazendo para manter a forma?

Estou fazendo academia, correndo e quando posso jogo bola com os amigos de noite. É uma diversão, mas serve para manter um pouco o ritmo. Lógico que não é a mesma coisa, mas vai servir para, quando começar a pré temporada, não vou estar muito atrás dos outros jogadores.

Fora manter a forma, você aproveitou para voltar a estudar. Como está sendo isso?

Estou fazendo um curso técnico de Educação Física, porque a faculdade não tem como dar uma sequência. É sempre bom estudar e essa é uma área que eu vou querer seguir depois que parar de jogar bola. Não quero ser treinador, nem nada disso. Quando parar, vou querer ter uma profissão fora do futebol e aproveitar a família. Na nossa profissão, ficamos muito tempo longe deles.

É difícil ficar sem jogar?

Muito. Fico assistindo os jogos pela televisão, vejo como está o futebol hoje e acho que tenho muita qualidade, muita coisa para mostrar. O momento que vivo hoje, jogaria até de graça, só para estar de volta ao ambiente do futebol, que é muito bom. Quando você cresce no meio do futebol, se acostuma com isso e fica difícil ficar sem.

Você falou da saudade do ambiente do futebol, mas parece que no ano passado, no América, esse ambiente não era bom…

Uma das grandes decepções na minha carreira foi como saí do América.

Você tem mágoa de alguém de lá?

Tenho de algumas pessoas, mas isso faz parte de vida, acontece. Na época o América vivia uma situação conturbada, pressão da torcida. Acho que faltou um pouco de cabeça para resolver os problemas.

Faltou cabeça de quem? Dos jogadores, dirigentes, comissão técnica?

Quem manda são os dirigentes. Eles deveriam ter sido mais centrados. Mas, era um momento difícil, o clube estava em um momento complicado, sem dinheiro. Mas, que fique bem claro que o América me pagou tudo que devia, nunca tive esse tipo de problema com eles. Foi um momento triste, porque deixei o clube por causa de um treinador, que vem mostrando realmente o que é. Ficou muito tempo parado, antes de acertar com o América e depois que saiu de lá, continua sem clube. Mas, faz parte, são ossos do ofício. Só tenho a agradecer ao América. A torcida gosta muito de mim e isso é gratificante.

O técnico ao qual você se refere é Lula Pereira. Você teve alguma discussão com ele?

Jamais. Esse é o meu maior arrependimento. Acho que as coisas teriam sido mais fáceis para mim se tivesse enfrentado ele. Ele me colocou para treinar separado, com os juniores, me tirou de treino e eu nunca reclamei. Acho que errei nesse ponto. Deveria ter batido de frente.

Ele chegou a conversar com você?

Quando  ele chegou no América, estava ao lado de Souza (ex-jogador) e Ricardo Bezerra (atual vice presidente de futebol) e disse que contava comigo para montar o time, que eu era um dos líderes do elenco. Eu estava jogando a Copa do Nordeste, porque estava me recuperando da lesão. Comecei a evoluir, jogar bem, recuperando minha confiança e ele sempre me incentivando. Sendo que, do nada, depois da partida contra o Botafogo/PB e foi e me afastou do grupo.

Sem explicação?

São coisas que acontecem no mundo do futebol que só resolvemos internamente. Hoje em dia eu  os motivos para que isso acontecesse. Fica uma grande mágoa, porque queria sair do América bem e não tive essa oportunidade. Nem a série B do ano passado cheguei a jogar.

Lula Pereira era limitado como técnico?

Por incrível que pareça, ele não era ruim não. O problema dele é que era falso. O dia a dia era produtivo.

Você disse que existem coisas que acontecem nos bastidores do futebol que só quem vive no meio é que sabe. Jogador derruba técnico?

Um só não. Mas, com a força de outras atletas, acontece sim. Isso não engana ninguém. Jogador derruba técnico. E, ao mesmo tempo, time ruim, quando quer vencer, jogar sério, consegue os objetivos. Na garra, na união.

Você disputou três temporadas pelo América. Em algum momento faltou união ao elenco?

O América conseguiu montar grandes times. Em 2008, o Alex Padang (conselheiro do clube), montou um timaço, não perdíamos um jogo em casa. Em 2009 começamos a série B muito bem. Ficamos entre os quatro melhores e depois tivemos alguns problemas com o técnico (Guilherme Macuglia) e isso acabou refletindo dentro de campo.

Aconteceram problemas de relacionamento entre jogadores?

Tiveram muitos e isso acabou influenciando demais nosso rendimento.  Nosso time era muito forte. Jackson, Somália, Ricardo Oliveira, Thoni, Rodolpho, Edson Rocha, Lúcio, todos no auge da forma física. Pecamos, porque em 2009 tínhamos todas as chances para subir e não fizemos por onde. Já em 2010, o problema foi a falta de dinheiro mesmo.

Existem jogadores que acertam com o time apenas para ganhar dinheiro, pouco importando o rendimento dentro de campo?

Isso é normal. Por isso que o clube deve manter nos seus elencos, jogadores que gostam do clube, da torcida. Porque assim, quando chegar um reforço que venha para “roubar”o time, ele vai cobrar desse atleta.

Você também não acha que os jogadores querem sair de Natal, para disputar outros estaduais, pela pouca visibilidade que têm aqui?

Existe um pouco isso. Mas, eu tenho a seguinte opinião: todo jogador tem mercado em São Paulo e Rio de Janeiro, que são os melhores estaduais. Mas lá, os contratos são de apenas três meses. É muito mais interessante você ficar aqui em Natal, ganhando menos ou a mesma coisa e assinar um contrato de um ano. América e ABC sempre estão disputando os campeonatos brasileiros e disputando o título estadual.

Existiu a proposta do Alecrim?

Não. O que aconteceu foi que, o vereador Aquino Neto, que é dirigente do Alecrim, me procurou para tentar me levar para lá, como presente de aniversário. Mas, eu estava muito abaixo dos outros jogadores, fisicamente e não tinha tempo para me recuperar. Eles queriam me apresentar no dia do aniversário do clube, que era uma segunda-feira e eu teria que entrar em campo no sábado. Não tive como aceitar. Eram apenas três jogos e se o time não se classificasse, eu que iria ser cobrado, mesmo estando abaixo do meu rendimento físico. Se eu estivesse bem, fisicamente, tinha aceitado. Mas, não existiu nenhuma proposta oficial. Foi mais uma conversa.

E do ABC?

Esse ano não recebi nenhuma proposta do ABC. Tive sim, na época em que o Judas Tadeu era presidente.

Tinha algum problema em defender o ABC?

Acho que não. Mesmo eu tenho um vínculo muito forte com a imagem do América, estamos sujeito a tudo e preciso trabalhar. Do mesmo jeito que deixei uma boa imagem no América, tento fazer o meu melhor nos clubes que passo. Não podemos fechar as portas. E, tudo depende da diretoria de cada clube. Ás vezes, o presidente não quer você no time, mas, muda a direção e tudo pode mudar. O mundo do futebol dá muitas voltas.

Salário atrasado atrapalha o rendimento dentro de campo?

Demais. Não é que faça corpo mole, mas no subconsciente, você fica pensando nas contas atrasadas, no colégio dos filhos, aluguel de casa, IPVA do carro. É muito complicado. A maioria dos jogadores vive sem a família e a situação complica ainda mais.

Jogador cobra premiação para tirar o time de uma zona de rebaixamento, por exemplo?

No América, nunca tivemos esse problema, porque os dirigentes sabem a hora certa de conversar com os jogadores e oferecer premiação por vitórias. O Alex Padang é mestre nisso. Sempre chegava e dizia: “Tem tanto de premiação para não ser rebaixado”. Os dirigentes do América sempre foram espertos nesse ponto. O que tem que ter é sinceridade. Nunca tive problema atrasado no América. Uma vez o ex-presidente José Rocha chamou os jogadores mais antigos e disse que não tinha dinheiro para pagar e que íamos ficar dois meses sem receber, mas depois pagaria tudo de uma vez só. E foi o que aconteceu. A sinceridade é o que vale.

Jogador baladeiro, que gosta de festa, atrapalha o ambiente do clube?

Acho que não. Jogador tem que render dentro de campo. Mas, sempre que um jogador ultrapassa os limites, os mais experientes, que estão mais tempo no clube, tem a liberdade de chegar e cobrar, pedir para dar uma maneirada. Jogador tem que saber a hora de sair. Se o time ganha, está bem no campeonato, o jogador tem todo direito de sair, comemorar. Mas se o time está na zona de rebaixamento, perdendo, o atleta tem que ter a noção e ficar em casa.

O que você acha dessa possibilidade de Alex Padang ser presidente do América?

Se acontecer, vai ser muito bom para o clube. Ele fala a língua do boleiro, que é o dinheiro. Ele brinca com o jogador, mas, cobra. Entra no vestiário reclamando, xingando até, mas na hora do vamos ver, aparece com o dinheiro. Aí, não tem como o jogador fazer corpo mole. Está recebendo em dia, tem que correr.

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