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O que a crise tem a ver com você

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MERCADO - Crise gerada nos Estados Unidos se espalha pelo mundo e chega ao seu dia-a-dia

Enquanto especialistas de todo mundo tentam iluminar o escuro buraco que se formou na economia mundial e enxergar o fundo de uma crise que afeta bolsas de valores e caixas de governo, o consumidor comum torce o nariz diante das notícias que parecem ter pouco a ver com ele. Porém, apesar de declarações negando que o Brasil sofreria com a recessão, ela já chegou ao país. E não atingiu só na Bovespa (a bolsa de valores de São Paulo, a maior da América Latina); está no dia-a-dia, mais perto do que se pode imaginar. Do pão francês com margarina do café-da-manhã, passando pelo carro financiado e até mesmo na viagem de férias, todo o consumo pode sofrer as implicações das mudanças que se anunciam.

O presidente Lula até tentou tirar o Brasil do jogo mundial da globalização: “Crise? Pergunte ao Bush”, afirmou em uma de suas entrevistas. Em seguida, afirmou que os efeitos no país seriam “quase imperceptíveis”. Por fim, declarou que a crise era “séria e profunda”. O economista Zivanilson Silva, especialista na área de globalização, condena a postura: “Não se pode dizer que o Brasil está blindado da crise internacional”. Ele explica que o país será sim influenciado pela recessão mundial. E os problemas chegam ao consumidor comum – aquele que não investe em ações, mas que está atento ao preço do feijão na prateleira do supermercado – embora ele não perceba ou não relacione alguns acontecimentos com a conjuntura internacional.

Silva explica que o primeiro afetado será o crédito, o que de fato já está acontecendo. Isso atinge principalmente as compras de eletrodomésticos, imóveis, veículos e outros produtos que explodiram em consumo nos últimos meses graças ao “milagre econômico”. Outra mudança é com relação aos prazos das prestações. “A quantidade de parcelas começam a ser cada vez menores para evitar riscos”. Os juros também estão aumentando, fator que tem sido percebido, principalmente, no comércio de automóveis.

Mesmo assim o diretor regional da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave RN), Tomás Filho, diz que ainda é cedo para fazer qualquer análise. “O mercado ainda está especulativo, tem muita coisa acontecendo e as pessoas têm muito medo do que vem pela frente”. Segundo ele, alguns bancos já subiram a tabela de juros que atualmente são praticados de 1,6% a 2% ao mês. As prestações passaram de 72 para 60 meses. “Isso já vinha acontecendo há uns quatro meses, por reflexo de outras situações. Não sabemos dizer quais serão os efeitos daqui há duas semanas”.

Dólar

Durante meses seguidos, a moeda americana em baixa viveu uma depreciação em relação ao Real. O dólar chegou a patamares abaixo de R$ 1,70 provocando euforia de compras de importados que ficaram com preços mais baratos. Porém, a festa do consumo acabou há algumas semanas. O câmbio voltou a subir e, na data de fechamento desta edição, chegou a R$ 2,30.

Por isso, quem quer comprar artigos como MP3 players e notebooks precisará correr se quiser encontrar produtos ainda com um bom preço. Não se sabe em quanto tempo, mas os importados fatalmente voltarão a subir.

O abalo não será apenas nos eletrônicos. Alimentos comuns no dia-a-dia poderão ter variações positivas de preço. É o caso do pão francês e a margarina, visto que 50% do trigo consumido pelo país – matéria-prima destes dois produtos – é importado.

Os moinhos já deram sinais de preocupação esta semana, mas a representação local do Sindicato da Indústria de Panificação no Estado (Sindipan RN) diz que ainda é muito prematuro para falar em alterações no preço. “O setor vive um momento de instabilidade. Com a crise monetária internacional e a alta do dólar, vários insumos da panificação devem sofrer reajustes. Não sabemos até quando essa situação irá se prolongar, por isso devemos nos preparar para superar esses desafios”, informou o presidente da entidade, Evandro Galdino, através de sua assessoria de imprensa.

Clima é de incertezas, dizem especialistas

Mesmo observando que a crise já está presente e provoca mudanças no cotidiano de compras, o economista Zivanilson Silva explica que é ainda não é possível prever quando chegaremos ao fundo da crise. Ou seja, este momento que já assusta os mercados pode não ser o pior. “Podemos chegar a uma recessão semelhante a de 1929”, cita lembrando a quebra das bolsas de Nova York que, de tão marcante, virou assunto hoje dos livros de História.

O consultor Renato Garcia, da RGarcia Consultoria, também destaca que este é um momento de incertezas. “Não é possível prever até onde a crise se estenderá. Na verdade, só há uma certeza neste momento: todas as previsões se mostrarão erradas”. Ele explica que, a razão para que tudo ainda esteja em um campo obscuro, é que as medidas tomadas pelos governos e bancos centrais mundiais levarão tempo para surtir efeito. “Como essa crise é inédita, ninguém realmente sabe quanto tempo levará”.

Ele faz também outra análise sobre o efeito para os empresários. “O crédito será afetado pela escassez de dinheiro na praça e pelo alto custo desse dinheiro. Portanto, com o crédito para o consumo mais escasso e caro, as vendas cairão trazendo as conseqüências previsíveis”.

Cuidado

Renato recomenda ao consumidor cautela. “Esta postura é sempre a melhor nesse momento. Novos endividamentos são desaconselháveis, mas os investimentos previstos não devem ser revistos até que o cenário econômico geral fique mais claro”.

Zivanilson Silva também orienta um caminho de prudência. Para quem gostaria de financiar um carro ou comprar um produto a prazo, ele sugere uma boa entrada, para reduzir as prestações que já ficarão altas com a diminuição do número de parcelas.

Alimentos sofrerão com a crise

Observar o andamento dos preços nas prateleiras do supermercado pode ser um bom exercício para quem quiser evitar que a crise econômica atinja o orçamento familiar. A repercussão dos problemas mundiais ainda não foi observada de maneira explosiva no varejo, mas pode chegar nas próximas semanas. Para o diretor comercial da Rede Mais, Eugênio Medeiros, se houverem as alterações nos preços poderão vir em cerca de 30 dias.

“Por enquanto, não observamos nenhuma mudança e nem sabemos se ela virá. Pessoalmente, acredito que haverá uma repercussão”, declara. Medeiros explica que, pelo fato do setor trabalhar com estoques, a alteração não deve ser súbita. Um ponto importante que deve ser observado é que os produtos da cesta básica – segundo pesquisa do Procon Municipal – vêm aumentando nas últimas semanas e já acumulam alta de 2,18% em 30 dias.

Porém, Eugênio Medeiros argumenta que o fenômeno da alta dos produtos não é de hoje. “Há uma crise dos alimentos mundial onde faltam produtos como soja, trigo e arroz, por exemplo. As produções não acompanham o consumo e preço sobe. O que estamos vendo é que, com o problema nos Estados Unidos, isso pode continuar”.

Ele revela que nesta semana, os fornecedores já sinalizaram com aumentos no preço da carne. O reajuste já era esperado, mas o diretor comercial da Rede Mais declara que não é possível avaliar até onde a mudança tem ligação com a crise. Entretanto, ele é categórico: “a não ser que o mercado se recupere rapidamente, como os governos estão esperando, os alimentos vão sofrer”.

Comércio exterior

O efeito mais imediato deve vir para os produtos importados. O empresário anuncia que, se a situação se prolongar, provavelmente a mesa da ceia de Natal estará mais cara este ano. Itens como bacalhau, vinhos, azeites e frutas compradas no exterior, certamente, estarão mais caros com o dólar valorizado.

Por outro lado, itens que o Brasil costuma exportar para os Estados Unidos como sucos, castanha de caju e lagostas poderão ter o preço reduzido, favorecendo o consumidor brasileiro. Isso ocorre também com outros itens da pauta de exportações e é provocado porque muitos empresários que exportam já começaram a perceber a retração do mercado externo em todo mundo. Para não terem prejuízo estão vendendo seus produtos no mercado interno, deixando-os no mesmo patamar de artigos mais básicos. O fenômeno já vem ocorrendo em alguns estados, mas ainda não foi observado aqui no estado, segundo Eugênio Medeiros.

Viagens para o exterior são antecipadas

Com a escalada rápida do dólar, viajar para o exterior pode deixar de ser uma das novas conquistas da classe média brasileira. O valor do câmbio em alta está deixando as viagens menos atrativas a cada dia que se passa. Mas, ao contrário do que se esperava um movimento intenso tem sido registrado nas agências de viagem nas últimas semanas. Isso porque, para fugir de preços ainda mais altos, os turistas estão apressando a compra dos pacotes.

A presidente da regional da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav RN), Ana Carolina Costa, declara que o brasileiro tem memória curta. “No ano passado, nessa mesma época, o dólar estava em torno de R$ 2,08. O que aconteceu é que a moeda caiu muito nesse ano e as pessoas se assustaram com alta súbita”. Ela confirma a “corrida” dos interessados às agências, além dos indecisos que – temendo novas altas – estão cancelando os planos de viajar.

Ana Carolina diz que a torcida dos empresários é para que a moeda não continue a aumentar. Ela relata que, mesmo com a crise, o mercado turístico no Nordeste voltou a ter atrativos para quem deseja conhecer a terra do Tio Sam. Recentemente, dois vôos das empresas American Airlines e Delta tiveram a confirmação de que voltarão a operar em Recife e Fortaleza. “São vôos diretos para os Estados Unidos que o Nordeste tinha perdido e voltam em novembro e dezembro”, afirma a presidente da Abav.

Outra mudança é que o Consulado americano aumentou o número de diplomatas no órgão para atender a grande demanda de brasileiros que estão viajando par aos EUA. De acordo com Ana Carolina, também está se cogitando aumentar a validade dos vistos de cinco para dez anos. Caso haja quedas, ela explica que as agências terão prejuízo com o turismo internacional. Desde a queda do dólar, houve um incremento de 30% no setor de pacotes turísticos internacionais. “Não acredito que se tiver algum prejuízo seja na mesma proporção. Ainda tem preços bons para viajar”, avalia.

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