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O que escolher: etanol ou gasolina?

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Carla França – repórter

A popularização dos carros com motor tipo bicombustível (aquele que aceita tanto etanol como gasolina), tem deixado o consumidor mais atento na hora de abastecer o veículo. Isso se deve aos sucessivos aumentos no preço do combustível vegetal. De acordo com a pesquisa do Procon Natal, no acumulado dos primeiros 11 meses deste ano, o etanol subiu 4,53% contra 4,32% da gasolina. Em novembro, o preço médio do litro de álcool era R$ 1,947 e da gasolina R$ 2,674.
Rendimento de um motor movido a álcool é 30% menor que motor a gasolina. Se o preço do álcool for menor do que 70% do da gasolina, o etanol deve ser a escolha
Um bom parâmetro para saber qual a melhor pedida é o Índice de Preços Ticket Car (IPTC), que analisa o valor na bomba em postos de todo o país. De acordo com a última publicação, o etanol é mais vantajoso em apenas seis Estados (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Tocantis). No Rio Grande do Norte, se levarmos em consideração o custo/benefício, o melhor é a gasolina. Em novembro o consumidor pagou, em média, R$ 2 por litro.

Para o coordenador de Produto do Ticket Car, Eduardo Lopes, a alta do etanol é uma questão sazonal. “Nos meses de outubro e novembro acontece o final da safra da cana de açúcar. De novembro até março, é o período de entressafra. Ou seja, nesse período há uma menor produção da matéria prima e aí passa a valer a lei da oferta e da procura. Quanto menos produto circulando, maior é o seu valor de mercado”, explica Eduardo Lopes.

O aumento nas vendas dos carros flex também influencia o aumento do preço do combustível. Para ter uma ideia, o número de carros bicombustíveis circulando no Rio Grande do Norte é quase duas vezes maior em 2010 do que em 2008. Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RN) mostram que até o último dia 16, eram 140.062 veículos flex (álcool-gasolina) contra 75.422 no ano de 2008. Esse crescimento também é observado no restante do país.

“O pensamento é o mesmo: mais carros flex circulando aumenta a demanda pelo etanol. Como estamos na entressafra e não temos grande quantidade do produto, aumenta o valor. Mas a tendência é que a partir de abril – período da safra- os preços voltem a cair”, diz Lopes.

Ainda segundo o coordenador de Produto do Ticket Car, parte da produção da cana de açúcar no país é exportada, o que fica no Brasil ainda é divido entre a produção do açúcar e do etanol. O ideal seria incentivar os produtores a plantar mais cana de açúcar para tentar equilibrar a demanda. 

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou o Sindicato do Comércio Varejista dos Derivados de Petróleo do RN para saber o que provocou o aumento do preço do Etanol no Estado, que se pronunciou através da seguinte nota:

“A diretoria do Sindicato do Comércio Varejista dos Derivados de Petróleo do Rio Grande do Norte, através da Assessoria de Imprensa, informa que não tem qualquer gerência sobre os preços de combustível. Questionado sobre a que se devia o aumento do preço do álcool, a direção da entidade frisou que o preço do combustível é livre e cada revendedor define o valor de acordo com sua planilha de custos”.

De onde vem?

A ALE Combustíveis, uma das maiores distribuidoras do país  informou que durante o período de safra da cana de açúcar, a produção de etanol é adquirida nas usinas do Rio Grande do Norte e dos demais Estados do Nordeste, por transporte rodoviário. Já na entressafra, às vezes, é necessário buscar o produto na região Centro-Oeste e Sudeste, também por transporte rodoviário.

No RN, o etanol representa 8,08% da venda de combustíveis da ALE, seguido pelo Diesel, 44,06% e gasolina, 47,86%.

Calcule a diferença e faça a escolha

Mas, como saber qual tipo de combustível é mais vantajoso? Basta estar com qualquer valor mais barato para que o etanol seja a melhor opção? A resposta é “não”. Primeiro, é bom saber que com gasolina o motor entrega menos potência. Em compensação, roda mais antes de abastecer de novo. Portanto, para valer a pena utilizar o álcool, o preço desse tem que ser até 70% do preço da gasolina.

Para saber com certeza qual vale na hora de abastecer, faça a seguinte conta: divida o valor do álcool pelo valor da gasolina e multiplique por 100. Se o resultado for até 70% (0,70) é mais vantajoso abastecer com o etanol. Se o valor for superior, coloque a gasolina.

“Como o rendimento médio de um motor a álcool é 30% menor que o do motor a gasolina, a diferença de preço é da mesma proporção. A gasolina deixa de ser vantajosa quando passa a custar 30% mais que o álcool”, orienta Eduardo Lopes.

Sendo assim, de acordo com o IPTC, no RN é financeiramente mais vantajoso abastecer com gasolina. Isso porque a diferença entre o etanol e a gasolina é de 72,8% já que o preço médio do primeiro combustível é R$2,021 e do segundo, R$2,775.

A administradora Aluênia Medeiros Alves costuma colocar os valores na ponta do lápis e calcular qual o mais vantajoso. E nos últimos meses ela tem optado pela gasolina. “Pelo preço que está sendo comercializado o álcool, para mim sai mais em conta a gasolina. Prefiro abastecer com 10 litros de gasolina do que com15 litros de álcool”, diz Aluênia.

Apesar das vantagens financeiras,  o técnico em automação industrial, Carlos Soramento, prefere utilizar o etanol para abastecer o seu veículo flex. “Quando estou em Natal eu utilizo o álcool porque gasto menos, cerca de R$ 250 por mês, mas quando estou no Rio Grande do Sul, compensa mais utilizar o GNV. A gasolina só em último caso.

O veterinário Diogo Araújo também dá preferência ao combustível vegetal. E não é apenas por questões financeiras. “Não sou mecânico e não tenho nada tecnicamente comprovado, mas observo que o desempenho do meu carro é melhor com álcool do que com a gasolina. E como o valor é mais baixo para mim, compensa mais o etanol”, diz Diogo Araújo.

Calcule abaixo qual combustível é mais vantajoso

Diminui número de conversões para Gás Natural Veicular

O Gás Natural Veicular (GNV), que teve um ‘boom’ no início dos anos 2000, hoje não é mais tão atrativo para o consumidor, com exceção daqueles que rodam bastante. Isso porque o preço do metro cúbico do GNV (R$ 1,789), está muito próximo ao do etanol (R$ 1,947).

Soma-se a isso o alto investimento para instalar os kits gás nos veículos – que varia entre R$ 1,9 mil e R$ 4,5 mil – e os custos de inspeções periódicas. “Chegamos a realizar cerca de oito conversões por dia e hoje a média é de uma. Acredito que o atual preço do GNV tem influenciado essa baixa. Antes o metro cúbico custava R$ 0,55 e hoje está quase quatro vezes mais caro”, diz o empresário Leonardo Oliveira Barreto, que está no ramo há 10 anos.

A empresa dele foi uma das poucas que resistiram às turbulências no mercado. Para se ter uma ideia, em 2002, o número de empresas registradas para instalar os kits chegou a 32, atualmente está em torno de três oficinas. Para Leonardo Barreto, o alto valor do GNV não tem justificativa, já que, segundo ele, o combustível utilizado vem do município de Guamaré, aqui no RN. “O gás chega aos postos por R$ 0,55, como ele vem do próprio Estado, não precisaria ter um aumento tão grande”, diz Leonardo.

Os taxistas, que atuam desde a época do ‘boom do GNV’, hoje não estão muito satisfeitos com os valores do combustível. “No meu carro eu posso usar os três combustíveis, mas ainda estou dando preferência pelo gás. Como eu rodo bastante pela cidade, sai mais em conta o GNV. Por mês, gasto uma média de R$ 700 com combustível. Se fosse utilizar a gasolina seria R$ 2,4 mil e R$ 2,7 mil se fosse o álcool”, diz o taxista Erivan Batista. Segundo o presidente da Cooperativa dos Proprietários de Táxis de Natal (Cooptaxi),  Genário Torres, dos 1.010 táxis que circulam na capital, cerca de 85% a 90% rodam com GNV. “Quem tem o kit mantém, mas quem vai trocar de carro está preferindo não instalar”, diz.

O taxista Ivan Batalha é um desses. Ele comprou um carro recentemente e, por enquanto, não vai colocar o GNV. “Como o meu carro é flex, prefiro abastecer com o álcool porque se eu fizer a conversão eu perco a garantia de motor e de outras peças de reposição quando é convertido. Além disso, o carro perde potência”.

Uma decisão que vai além do preço

Para os especialistas, na hora de escolher o combustível para o carro, o consumidor deve levar em consideração não somente a questão financeira, mas também ambiental. E nesse ponto, o álcool leva vantagem. A gasolina é um combustível fóssil, derivada do petróleo, que emite dióxido de carbono (CO2) ao ser queimada nos motores e contribui para o aquecimento global. O etanol, ao contrário, é um combustível renovável, feito de cana-de-açúcar. Embora o álcool também emita CO2 na sua queima, os canaviais absorvem esse gás no processo de fotossíntese. Por isso, do ponto de vista do aquecimento global, o álcool é considerado um combustível limpo.

“O etanol é proveniente da cana de  açúcar, que pode ser plantada novamente, ou seja, é uma energia renovável. Além disso, ele reduz as emissões de gases de efeito estufa em mais de 80% em substituição a gasolina. Outra vantagem é que ele ajuda na redução do gás carbônico da atmosfera, através da fotossíntese nos canaviais”, explica o engenheiro químico Luzidelson Baracho Ribeiro.

Diferente do petróleo que é um produto finito, proveniente de fósseis de vegetais e animais que habitaram a Terra há alguns milhões de anos, portanto é uma energia não renovável.

Além disso, algumas substâncias químicas presentes na composição da gasolina reagem na combustão  – reação do combustível com o oxigênio presente na atmosfera com liberação de energia – formando outros compostos. “Um exemplo é o enxofre, que reage com o oxigênio ou hidrogênio formando SO2 (gás bastante tóxico e corrosivo, responsável por acidificar a atmosfera) e H2S. A combustão incompleta também produz óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos, aldeídos e particulados, além da fuligem preta típica dos motores mal regulados”, diz o engenheiro.

Vale lembrar que todo produto tem algum tipo de impacto ambiental e social, mas o consumidor pode optar por aqueles que têm mais impactos positivos .  “Essa questão de qual é o mais vantajoso é muito relativo. Para o carro não posso afirmar qual o melhor combustível porque desde que ajustado ele promove a combustão de forma adequada. Os impactos maiores são para o meio ambiente e para as pessoas -empregabilidade, integração social”, diz Luzidelson Ribeiro.

Bate-papo: Elias Silva – Procon Natal

No acumulado do ano, o etanol mostrou um aumento maior do que a gasolina (4,53% contra 4,32%). A que se deve esse aumento?

O preço do etanol no mercado interno está vinculado não só a demanda interna, mas também aos preços dos derivados da cana-de-açúcar no mercado internacional. O produtor/usineiro procura o que é mais vantajoso para o seu negócio: se o preço do açúcar está mais competitivo no mercado internacional, ele vai direcionar sua produção para o açúcar (exportação) em detrimento do etanol para o mercado interno. Lembramos ainda que estamos no período da entressafra, que perdurará até abril do próximo ano.

Pelo último levantamento do Procon, 54 postos (dos 128 pesquisados) praticava o mesmo preço, R$1,990. Isso pode ser considerado cartel?

Podemos considerar que há indícios de cartel, mas não podemos afirmar com certeza. Para isso é necessária uma investigação aprofundada, com o concurso de outros órgãos, como, Procon’s, Ministério Público, Delegacia do Consumidor, e os próprios consumidores (através de denúncias).

Como o consumidor pode denunciar os postos?

Sem dúvida, o consumidor é nosso maior aliado. Ele pode denunciar, inclusive anonimamente, caso venha a ter conhecimento de elementos que comprovem a fraude. Os telefones do Procon Natal são 3232-9050 e 3232-9051.

Qual a orientação do órgão para que o consumidor não seja prejudicado?

O consumidor deve dar preferência aqueles postos onde o preço é menor, mesmo que a diferença seja mínima. Mas, o consumidor também deve ter cuidado ao abastecer, procurando identificar a procedência do combustível, evitando abastecer em postos que não ostentem “bandeira” de alguma distribuidora.

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