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O que se falou em 2019 na Cultura potiguar

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Ramon Ribeiro e Cinthia lopes
O ano de 2019 mostrou que muro não é para separar, e sim servir de tela para ser pintado. Mostrou também que a arte natalense pode transformar um estreito beco num cartão postal. Fez reconhecido nacionalmente um dos nossos mais ativos grupos de teatro. Mostrou que revisitar um dos episódios mais marcantes da história de Natal pode mexer positivamente com a cidade e arredores, trazendo coisas positivas. O ano de 2019 também colocou Parelhas no mapa do cinema mundial. Fez o Brasil se surpreender com um baixista dançarino de sotaque potiguar. Este também foi um ano de grandes shows na cidade. E foi, infelizmente, mais um ano com o Forte dos Reis Magos fechado, com a Biblioteca Câmara Cascudo fechada e com outros importantes equipamentos culturais sem previsão de funcionamento.
Nesta retrospectiva do ano de 2019 para a cultura de Natal, confira quais foram os principais destaques positivos e o negativo.
1– O ANO DO GRAFITE
O grafite conquistou um espaço nunca antes visto na cena cultural de Natal em 2019. Ao longo do ano, vários foram os projetos que deram cores e traços novos aos muros de Natal, movimentando dezenas de artistas e revigorando áreas que andavam meio capengas – como o Beco da Lama, que com as cores novas virou lugar sensação na cidade.
Os grafites mostraram que muros podem transformar um lugar
Os grafites mostraram que muros podem transformar um lugar
A prefeitura de Natal foi uma das maiores apoiadoras do grafite no ano, investindo por meio de editais – algo até então inédito –, em ações como a do corredor do Espaço Cultural Ruy Pereira e a do paredão da Praia de Areia Preta. No fim do ano lançou mais quatro editais, prevendo a contratação de um total de 20 grafiteiros para intervenções no bairro Nordeste, Guarapes, Ribeira e Candelária.
O Inarteurbana, projeto  que chegou a sua 5ª edição, manteve acesa a chama artística na comunidade Passo da Pátria, onde sempre realiza suas ações. Em 2019 foram mais de 20 artistas de diferentes localidades participando, incluindo Seth, um dos principais nomes da arte urbana francesa. Também tivemos o grafite integrado ao segmento da arquitetura, como na reforma do Juvino Barreto e do Varela Santiago. No Baldo, mais precisamente no muro da Cosern, mais mutirão de grafite. E em Parnamirim, cerca de 80 artistas de 18 estados do Brasil se reuniram no 1º Potigraffiti (Encontro Nacional de Graffiti do Rio Grande do Norte).
2– O RENASCIMENTO DO BECO DA LAMA
Em 2019, Natal viu ganhar fôlego novo um de seus redutos boêmios mais tradicionais: o Beco da Lama, na Cidade Alta. O lugar nunca chegou a morrer, mas estava há anos carente de cuidados. Com o mutirão de grafite nas suas paredes, somado as iniciativas culturais que já existiam nas adjacências, mais a agenda de eventos implementada por edital da Prefeitura específico para a área, o lugar bombou.
O Renascimento do Beco da Lama a partir da arte urbana: case de sucesso
O Renascimento do Beco da Lama a partir da arte urbana: case de sucesso
Na quinta, sexta e sábado o local passou a receber um fluxo de visitantes (incluindo alguns turistas) que há décadas não se via. Isso ajudou a levantar a circulação de pessoas na Cidade Alta como um todo, fazendo aparecer novos bares, lojas, galeria de arte e projetos culturais. Em compensação, assistimos a um grave esvaziamento da Rua Chile, na Ribeira, lugar que por anos se apostou como reduto cultural, mas que agora amarga o desinteresse do poder público e população.

3– CARMIN ARREBATA PRÊMIOS BRASIL AFORA
Lançado em 2018 com vários elogios da crítica especializada, o espetáculo “A Invenção do Nordeste”, do Grupo Carmin, teve um trajetória de premiações em 2019. O espetáculos foi um dos mais premiados do ano no Brasil. Foi agraciado com o título de Melhor Espetáculo no prêmio Cesgranrio, o de Melhor Texto, no Prêmio Shell, o de melhor autor e ator coadjuvante, no Prêmio da Associação de Produtores de Teatro do Rio, e o de melhor texto, direção e peça, no Prêmio do Humor do Rio de Janeiro. As premiações em dinheiro já estão ajudando na próxima montagem do grupo, cujo embrião é o livro “A Ralé Brasileira”, do sociólogo potiguar Jessé de Souza.
Foi o ano do Grupo Carmin, o mais premiado do Brasil
Foi o ano do Grupo Carmin, o mais premiado do Brasil
Mas as artes cênicas potiguares também foram destaque com o espetáculo “Meu Seridó”, que rodou o Brasil pelo projeto Palco Giratório, do Sesc. Dos fatos tristes, tem a censura da Caixa Cultural ao espetáculo “Abrazo”, do grupo Clowns  de Shakespeare. A instituição cancelou as temporadas no Recife e em Curitiba sem dar muitos detalhes. Quem também foi censurado foi a S. E. M. Companhia de Teatro, que viu a prefeitura de Curitiba cancelar a apresentação da peça “A Mulher Monstro” em um dos equipamentos culturais da cidade. Depois, no Recife, o ator José Neto Barbosa escapou por pouco de levar uma pedrada na cabeça durante uma apresentação.
4- 2ª GUERRA REVISITADA EM NATAL E PARNAMIRIM
Foi o ano em que as instituições voltaram a falar sobre o tema “Segunda Guerra em Natal”. O maior incentivador foi o  Sebrae-RN, que pelo segundo ano seguido incluiu a temática no seu edital de Economia Criativa. Como resultado, foram lançados vários livros sobre o assunto, foi remontado o musical “Bye, Bye, Natal” (ambientado naquela época) e realizada uma exposição de Marcelus Bob com pintura de aviões de guerra.
Falou-se muito sobre a Segunda Guerra e aviação em Natal
Falou-se muito sobre a Segunda Guerra e aviação em Natal
O Sebrae também realizou um mapeamento com os principais pontos de interesse histórico e cultural de Natal relacionado ao tema. O trabalho foi disponibilizado por meio de um site que ainda contou com a disponibilização de uma websérie documental.
Outro ponto que merece grande destaque é o lançamento, por parte da Prefeitura de Parnamirim, da 1ª etapa do Centro Cultural Trampolim da Vitória, iniciativa que deu nova vida ao subutilizado Aeroporto Augusto Severo, por meio de um museu que trata da origem de Parnamirim, diretamente ligada à 2ª Guerra. Por outro lado, o aguardado Museu da Rampa, em Santos Reis, em Natal, segue sem previsão de abertura. 
5- BACURAU, DE PARELHAS PARA O MUNDO
Filmado em Parelhas e Acari, o longa “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles foi motivo de orgulho para os potiguares em 2019. Nunca uma obra audiovisual colocou tão em evidência o estado. Ao longo do ano foram inúmeros elogios e prêmios conquistados, sendo o mais importante o Prêmio do Juri no Festival de Cannes, na França.
Bacurau tornou-se o filme do ano, e não apenas pelos prêmios e qualidade, mas pelo ‘timing’
Bacurau tornou-se o filme do ano, e não apenas pelos prêmios e qualidade, mas pelo ‘timing’
Todo sucesso da produção foi dividido com o povo potiguar quando os diretores e a atriz Sônia Braga vieram lançar “Bacurau” na zona rural de Parelhas, exatamente em uma das locações do filme. Cerca de 2 mil pessoas assistiram a obra sob uma noite de céu estrelado. O evento de cara entrou para a história do cinema potiguar.
6- O GROOVE QUE CONQUISTOU BRASIL
Rapaz humilde da periferia de Natal, Junior Groovador de repente se viu alçado a um dos palcos principais do festival Rock in Rio e não tremeu na base. Com seu contrabaixo invocado em mãos, mostrou seu jeito único de tocar e dançar, conquistando com simpatia e talento fãs por todo o país e pelo mundo – dentre os quais, o ator e músico Jack Black e o líder do Foo Fighters, Dave Grohl.
A projeção enorme que teve também revelou as dificuldades de ser artista numa cidade pequena. Mesmo diante das adversidades que precisou enfrentar na vida, Groovador não desistiu dos seus sonhos e soube aproveitar a chance de mostrar seu trabalho quando a oportunidade apareceu.
7– ANO DOS EVENTOS
A prefeitura decidiu investir com força nos eventos. Segundo dados da prefeitura, para o Carnaval 2019 foi desembolsado R$ 6 milhões de verba pública. Para o  São João, R$ 2 milhões, e para o Natal em Natal, R$ 4 milhões. Os recursos permitiram a população assistir aos shows de Carlinhos Brown, Paralamas do Sucesso, Sidney Magal e Alexandre Pires, no carnaval; Xand Aviões, Simone & Simaria e Cesar Menotti & Fabiano, no São João; e Ney Matogrosso, Saia Rodada, Martinho da Vila e Elba Ramalho, no Natal em Natal. Outras atrações de peso também estiveram por aqui. Existe uma confiança nas pesquisas da Fecomércio para seguir nos investimentos altos. No Carnaval de Natal, por exemplo, as pesquisas apontaram como resultado uma circulação de R$ 71 milhões na economia natalense durante a festa. Comparado aos grandes eventos, os recursos direcionados à produção artística desequilibram a balança. O pacote de editais da Funcarte foi de R$ 2 milhões (incluído teatro, cinema, música, artes visuais, literatura, dentre outros). Soma-se a isso os editais específicos do Carnaval e do São João, o Fundo Municipal de Cultural e a Lei Djalma Maranhão, com a renúncia fiscal.
Mais do que recursos, a cadeia produtiva da cultura natalense necessita também de articulação. É preciso mais empenho para aproximar a população dos nossos artistas. Falta ainda criar algo como o Salão de Artes Visuais de Natal (parado há pelo três anos), só que mais moderno. Falta também  algo como o Festival Literário de Natal, sem realização há dois anos. 
DESTAQUE NEGATIVO:
EQUIPAMENTOS CULTURAIS CONTINUAM FECHADOS
Forte dos Reis Magos, Biblioteca Câmara Cascudo, Pinacoteca Potiguar, Teatro Alberto Maranhão, Escola de Dança do TAM, todos importantíssimos equipamentos culturais do Rio Grande do Norte fechados. Alguns estão em obras, como o TAM, o Forte, a Pinacoteca, e a EDTAM. Mas não há prazo definido para que esses equipamentos sejam entregues em pleno funcionamento para a população.
O principal monumento de Natal continua fechado e sem previsão de reabertura
A impressão que dá ao término deste ano, é que a Fundação José Augusto, gestora desses espaços culturais, não vê urgência na reabertura desses espaços. Não se viu nenhuma ação para colocar a Biblioteca Câmara Cascudo em funcionamento. O Museu Café Filho, reinaugurado há dois anos, está sem programação. E o Memorial Câmara Cascudo (reaberto há um ano), com exceção das aulas de dança, não tem agenda.
O Forte tem papel essencial no trade turístico; EDTAM e TAM ajudam a dar vida à Ribeira (bairro que passa por um grave fase de esvaziamento); Pinacoteca é a principal casa das artes visuais do Rio Grande do Norte; Memorial Câmara Cascudo, espaço para uma série de atividades e com potencial para movimentar ainda mais a Cidade Alta; Museu Café Filho, pedacinho da nossa Natal… Não colocar esses equipamentos em funcionamento, ou seja, não ter isso como prioridade, passa a imagem de descaso.
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