sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

O recrudescimento da fome

- Publicidade -

Antoir Mendes Santos
Economista

Caracterizada pela baixa ingestão diária de calorias, em relação às recomendações da Organização Mundial de Saúde(OMS), a fome continua atormentando o ser humano em todo o mundo, inclusive no nosso país.

Em 2017, estudo publicado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação(FAO) sob o título “A Segurança Alimentar e a Nutrição no Mundo”, constatava que apesar de apresentar uma tendência de queda em dez anos, a fome tinha voltado a crescer no mundo, penalizando cerca de 11% da população mundial. Em 2015, eram cerca de 784 milhões de pessoas atingidas pela fome, número que em 2016 evoluiu para 804 milhões  de pessoas subalimentadas, das quais 479 milhões vivendo em países afetados por conflitos.

Na visão da FAO, “a incapacidade de se reduzir à fome no mundo, naquele momento, estaria estritamente relacionada com o aumento dos conflitos e à violência em várias partes do planeta, e que às diversas iniciativas para combater à fome, deveriam estar juntas com as propostas para se manter à paz”. Em 2016, só nas áreas conflituosas da Somália, Iêmen, Nigéria e Sudão do Sul havia 20 milhões de pessoas ameaçadas pela fome.

Com relação ao Brasil, os especialistas advogavam que, como país produtor de alimentos, teríamos condições de alimentar toda nossa população, o que não acontecia, haja vista que os mais pobres não tinham renda para consumir. Em 1990, nosso país tinha 25 milhões de subnutridos e, em consequência, passamos a integrar o primeiro Mapa da Fome, elaborado pela FAO. Com a implantação de políticas públicas, à criação de programas de transferência de renda, de alimentação escolar e de aquisição de alimentos da agricultura familiar, foi possível melhorar o perfil da nossa população mais desassistida: de 1990 para 2012 à parcela dos mais pobres regrediu de 25,5% para 3,5%, em relação do total da população, fazendo com que em 2014 o Brasil saísse do Mapa da Fome.

Em 2018, um novo estudo da FAO sobre a segurança alimentar, com a participação de outras organizações da ONU, sinaliza para uma tendência de crescimento da fome no mundo, na medida em saímos de 804 milhões em 2016 para 821 milhões de pessoas com carência alimentar em 2017, ou seja, uma em cada nove pessoas no planeta está sujeita à fome. Essa situação se verifica na Ásia, em quase todas às sub-regiões da África, cuja população de famintos saltou de 241 milhões para 256 milhões, e na América do Sul, onde à  população de subalimentados saiu de 20,7 milhões para 21,4 milhões, no mesmo período.

Todavia, se considerarmos à insegurança alimentar grave, veremos que a África apresenta uma prevalência alimentar (percentual de pessoas subnutridas em relação à população total), cuja taxa passou de 25,4% de sua população em 2016 para 29,8% em 2017, o mesmo acontecendo na América do Sul, onde à taxa evoluiu de 7,3% para 8,7%, no período analisado. Para o Brasil, os dados da FAO apontam para uma estagnação da fome no país, haja vista que em 2012 tínhamos 4,9 milhões de pessoas famintas, chegando a 5,1 milhões em 2014 e atingindo a 5,2 milhões de indivíduos com carência crônica por alimentos, em 2017.  

O estudo também aborda o sobrepeso infantil e à obesidade em adultos, como consequências da fome. Em 2017, o sobrepeso afeta mais de 38 milhões de crianças menores de 5 anos, das quais 25% estão na África e 46% na Ásia, sendo que crianças afetadas pelo baixo peso, apresentam maior risco de não sobreviver. Por outro lado, a ingestão de alimentos de alto aporte calórico e baixo valor nutricional leva a adaptações metabólicas e à carência de micronutrientes, contribuindo para a obesidade de adultos. Atualmente, um em cada oito adultos no mundo, cerca de 671 milhões, são obesos, e uma em cada três mulheres, em idade reprodutiva, sofre de anemia. 

O fato é que produzir alimentos para atender às necessidades de ingestão de calorias, para uma população de 821 milhões de indivíduos subalimentados, e que estão submetidos às mais diversas condições de adversidades climáticas, é um desafio que deve ser compartilhado por todos os países e nações, sob pena de não atingirmos às metas estabelecidas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas