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O rei do Carimbó

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PINDUCA - Compositor paraense volta a Natal

O carimbó do paraense Pinduca volta a Natal depois de mais de duas décadas longe. Comemorando os 40 anos de estrada, ele se apresenta amanhã, a partir das 22h, no Forró do Pote, localizado na estrada que liga Pium a Parnamirim.

Com lançamento do primeiro DVD da carreira previsto para a próxima semana, Pinduca diz que vai aproveitar a estada na cidade do sol para matar as saudades do tempo em que, como ele mesmo diz, “eu e o Carlos Alexandre (cantor potiguar criado na Cidade da Esperança, autor do clássico brega `Feiticeira´) saíamos pela noite, zoando, e parávamos nos bares que tinham aquelas radiolas de música, comprávamos as fichas e colocávamos as nossas próprias músicas para tocar. Depois saía de perto para ninguém ver que era a gente”.

Pinduca vai mostrar como se dança o carimbó e seus vários sucessos, como “Carimbó do macaco”, “Tia Luzia Tio José”, “O pinto”, “Sinhá Pureza”, “Bala de rifle”, “Depois da chuva”, “Dona Mariana”, “Garota do tacacá”, “O caçador”, “Ponta de pedras”, entre outros.

Nesta entrevista por telefone ao VIVER, Pinduca fala do show, de Natal e da carreira:

Tribuna do Norte: O que você preparou para o público no show de amanhã?

Pinduca: Vai ser um show de Carimbó com outros gêneros musicais, como a lambada, xote… vai ser um show pesado, quente, não vai ficar ninguém parado. É um montado para fazer de acordo com o local onde a gente toca. Tem uma hora e meia e a aceitação vem sendo muito boa porque é um dos shows mais bonitos do Brasil. 

Você tem uma banda muito grande, vai trazer todo mundo?

P: São 19 pessoas! Não dá para trazer todo mundo porque fica muito caro para os empresários que nos trazem para cá. Dessa vez não trago as bailarinas, mas é bom porque pego as meninas no público para dançar com a gente (risos).

Há quanto tempo você não vem a Natal?

P: Ih, rapaz… faz tempo para caramba, acho que na década de 80. Esse show vai servir para matar a saudade também. Vamos recordar tempos antigos como uma música que eu fiz para Natal que dizia assim: “cidade do sol e do sal” (cantarola ao telefone). Sempre que ia, ficava uns três dias tenho amor pelo povo natalense…

Chegou a fazer amigos na cidade? Alguma passagem te marcou naquele tempo?

P: Era muito amigo do Carlos Alexandre, do Giliard… lembro que eu e o Carlos Alexandre saíamos pela noite, zoando, e parávamos nos bares que tinham aquelas radiolas de música, comprávamos as fichas e colocávamos as nossas próprias músicas para tocar. Depois saía de perto para ninguém ver que era a gente (risos). Dá uma saudade danada…

Você toca amanhã numa casa que tem tradição em apresentar bandas de forró. Que parentesco você vê entre o carimbó e o forró?

P: O carimbó se assemelha muito ao forró, motivo de que o carimbó não caiu mais, é uma irmandade, principalmente no Norte e no Nordeste…

Mas o forró chegou mais longe, em termos de distância geográfica mesmo, que o carimbó…

P: É porque o forró tem muita gente, né? O forró é o irmão mais velho, tem time muito grande, no caso do Carimbó sou eu, e em Belém tem uma meia dúzia…

Você também é conhecido por ter criado a lambada embora algumas pessoas tenham tentado pegar paternidade da criança para si. Você ainda se sente frustrado com isso?

P: Não, não. A coroa ficou mesmo com o Beto Barbosa, mas somos muito amigos, praticamente fui eu quem o lançou para o mercado. Aquilo deu uma polêmica danada, mas acabou quando o Luís Caldas foi ao Faustão e disse que quem tinha inventado a lambada era o Pinduca do Pará. Não tem frustração nenhuma.

Apesar do carimbó representar a música do Pará, nos últimos anos o grande produto de exportação do estado para o país foi a banda Kalypso. Como você vê o momento deles?

P: É um fenômeno que veio de Belém do Pará. Eles tiveram sorte e inteligência para mudar de Belém para São Paulo, que é o grande centro musical do Brasil. E eles trabalham mesmo em conjunto, viram que se ficassem seriam apenas mais um.

Mas o sucesso da banda foi conquistado apenas por conta dessa mudança para São Paulo?

P: Existia uma carência musical muito grande no Brasil e de vez em quando acontece um fenômeno da música brasileira. E foi a vez deles. Como o Brasil estava sem novidade, o grupo cresce.  

Em 40 anos de carreira, qual sua maior decepção e a maior alegria?

P: Decepção posso dizer que não tive nenhuma. Não lembro de alguma vez ou lugar que tive problema. Mas a maior alegria, sem dúvida, foi tocar o carimbó na Alemanha. Já tinha ido na África e mandaram me chamar lá da Alemanha. Me apresentaram até como um “show diferente da Amazônia”.

Serviço:
Show de carimbó com Pinduca, amanhã, a partir das 22h, no Forró do Pote, localizado na estrada que liga Pium a Parnamirim. Ingressos: R$ 15 (na hora) e R$ 12 (antecipado)

E a voz da  Tecnomacumba

A maranhense Rita Ribeiro une o tambor dos terreiros de macumba com a tecnologia em “Tecnomacumba”, registro em CD do show homônimo que a artista faz desde 2005 pelo Brasil, lançado no final do ano passado pela gravadora Biscoito Fino. O disco, como Rita faz questão de ressaltar, é um manifesto de brasilidade e evoca os orixás de tudo quanto é referência africana que o país agregue.   

Nesta entrevista ao VIVER por telefone, Rita Ribeiro fala sobre o trabalho, sincretismo religioso e desmistificação da macumba na sociedade.

Tribuna do Norte: O Caetano Veloso falou que o tecnomacumba pode vir a dizer no futuro mais do que parece agora. O que você entendeu do comentário? É um trabalho futurista?

Rita Ribeiro: (risos). Não… Entendi que um artista como o Caetano, que já se lançou muito no mercado e é consciente dos riscos que se corre, sabe que às vezes um trabalho não é compreendido de imediato. O tecnomacumba, que fala do sincretismo na musicalidade brasileira, da religiosidade cultuada no povo, cria uma certa negação à princípio. A macumba sempre foi usada de forma pejorativa. E isso limita a questão religiosa, as pessoas pensam logo que estou levantando a bandeira.

Então o nome technomacumba é uma provocação…

RR: É uma provocação consciente, não é solta. O Tecnomacumba é um manifesto de brasilidade, um orgulho do que a gente tem, do povo negro que trouxe essas referências todas.

Esses elementos sempre estiveram presentes na sua vida de alguma forma?

RR: Sou extremamente fervorosa, devota de Santa Rita de Cássia. E me sinto meio que “escolhida”, acho que foi me dado essa possibilidade e comunicação através da música.

Então é herança de família…

RR: Minha família sempre foi muito ecumênica (risos). Meus pais eram extremamente católicos, mas meu irmão era evangélico, hoje é pastor na Paraíba, outro é macumbeiro. Fomos criados por liberdades, com o livre arbítrio garantido a todos. Lá em casa, Oxalá, Jesus e Buda foram tratados da mesma forma. O problema é que na sociedade, a macumba foi muito mal interpretada, ligada a trabalhos negativos, ao preto e ao pobre. Mas todo mundo tem um terreiro perto de casa. E no tecnomacumba uso o imaginário das cantigas populares, o que na macumba seria chamado de pontos, no budismo de mantra e no cristianismo de hinos. Mas, no fundo, é a mesma coisa, só muda o nome, são cânticos de louvação à vida.

Com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Dorival Caymmi no repertório do tecnomacumba você ratifica a importância da Bahia como o principal ponto explícito desse sincretismo religioso no país? 

RR: Eu me respaldei de compositores consagrados que traduzem o sincretismo na religiosidade. Tem Dorival, Gil e Caetano, mas também tem o Jorge Ben Jor e o Nei Lopes, do Rio de Janeiro. A Bahia e o Rio são duas regiões importantes no cenário nacional, mas acho que o Nordeste, o Brasil tem essa relação.    

O Nei Lopes, inclusive, tem um trabalho de pesquisa muito forte ligado ao sincretismo religioso…

 RR: O Nei, o Geraldo Pereira, o Noel Rosa, a Carmem Miranda, que cantou muito, os próprios compositores das antigas abordaram muito a figura do malandro,  o universo da umbanda…

Mas digo em relação a um trabalho que vai além da música, registrado em livro. Você usou essa pesquisa dele para chegar ao resultado do technomacumba?

RR: Antes de gravar meu primeiro disco em 1997, recolhi um ponto da cabocla Jurema num terreiro e achei interessante a batida do tambor. Foi quando perguntei ao pai de santo se eu podia botar aquilo num disco e ele me autorizou. E fiz um coisa meio disco music, com influência dos anos 80, que não era essa coqueluche que é hoje. Usei como mais uma ferramenta musical, fiz a fusão da mata com a batida e deu super certo.  Só que a imprensa queria uma explicação e acabei caracterizando aquilo como uma tecnomacumba porque misturei aqueles tambores com um programa de computador. E desde então, sempre coloco uma referência disso num disco novo. Mas sempre tive vontade de lançar um projeto dedicado exclusivamente à isso. Até que resolvi fazer uma temporada de shows e decidimos registrar esse momento num CD agora.

E quando o natalense poderá ver o show do tecnomacumba?

RR: Já gostaria de ter ido a Natal a mais tempo, o público é  super carinhoso e espero que com o disco abra essa possibilidade. Estamos com um planejamento feito agora para o primeiro semestre, onde faço no Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Brasília, Maranhão e espero estar aí em Natal rápido porque sempre que vou me sinto em casa.

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