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O riacho do deputado

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A longa entrevista que o deputado Robinson Faria deu para o Poti, domingo que passou, tem a altura e a profundidade de um meio-fio. E valendo-me de uma figuração retórica usada pelo hábil condottiere da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, a entrevista tem a largura de um riacho. Melhor diria: de um corgo, aqui recorrendo à linguagem sertaneja de seus ilustres ancestrais. O deputado disse, respondendo a uma pergunta dos repórteres que queriam saber se ele já estava trabalhando no projeto para ser candidato a governador em 2010, que a sua trajetória política é guiada pela correnteza do riacho: “Vou seguir o rumo da correnteza do riacho. Por enquanto é um riacho, mas eu espero que se transforme em um grande rio”.´

É uma frase retumbante. Merecia uma placa dos dois lados da Reta Tabajara. Ou, talvez mais adequada, nas cabeceiras da ponte da Redinha. Aliás, a resposta inteira do deputado Robinson é prenha de sabedoria e sugere um almanaque de interpretações sociológicas e metafísicas. Quem sabe, até mesmo um simpósio. Vejamos a sua resposta na íntegra:

– Eu sou um péssimo cantor e um péssimo compositor, mas vou responder com uma frase de uma música de Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar”. Acho que a resposta que posso dar hoje é que quero seguir o caminho natural da política, e é ele que eu vou buscar. Sobrevivi na política quando poucos acreditavam que eu ira sobreviver. Então, esse percurso natural, se tiver de ser, vai ser. Vou seguir o rumo da correnteza do riacho. Por enquanto é um riacho, mas eu espero que se transforme em um grande rio”.

O receio é que o grande rio de Robinson vá bater na Pedra da Bicuda.

Durante toda a entrevista, que ocupou 80% da página três do principal caderno de O Poti, o deputado Robinson Faria, já lançado candidato a governador, só trata de seus problemas pessoais, de suas ambições, de seus projetos políticos. Não tira um fino sequer nas grandes questões que afligem o Rio Grande do Norte: a Segurança Pública, a Educação, a Saúde, o desemprego, a pobreza no campo, o inchaço urbano da Capital, a violência que já chegou também ao interior do Estado. Modesto, diz que é um péssimo cantor e um péssimo compositor. Discordo. Um cristão que se afina com o pagodeiro Zega Pagodinho: tipo “deixa a vida me levar”, tem a sua bossa. E a vida tem sido realmente generosa para com o ilustre parlamentar conterrâneo. Rico, bonito, sabido, chefe de um poder, logo o Legislativo, cercado de assessores e técnicos prestimosos, muitos jornalistas, toda a exuberante crônica social a disputar o seu sorriso benemérito.

Em outras trechos da longa entrevista, deambulando sua natural vaidade de Príncipe do Agreste, o deputado, canta loas à governadora. Tanto assim que até o jantar que dona Wilma ofereceu aos deputados de todas as bancadas foi mimoseado pelos adjetivos de Robinson,  como legítimo fidalgo renascentista, cavalheiro de refinada estirpe: “Foi um gesto nobre da governadora, que caracteriza mais uma vez uma mulher moderna, que não faz política de forma radical, e levou para a intimidade do seu lar deputados de todos os partidos (…) Acho que foi um gesto de grandeza de uma mulher que sempre quebrou barreiras como Wilma”

E sobre a sua reeleição para um novo mandato de presidente, faltando ainda 22 meses para terminar o atual, que foi engatado como os outros dois da legislatura anterior, o deputado Robinson sintetizou com uma frase simples, mas carregada de sinceridade: Eu fui surpreendido.

Não sei se algum parlamentar, da bancada governista ou da bancada oposicionista, já pediu para que a entrevista do presidente seja transcrito nos Anais da Assembléia. Se não foi, fica a sugestão.

Do Processo

De repente, no Dia da Poesia, que nesta terra de Poti mais alegre, é uma verdadeira quermesse, foram lembrados os 40 anos do Poema-Processo. Não sei se no pódio das homenagens, alguém se lembrou que o Movimento, naqueles agitados anos 60, quis queimar, aqui em Natal, os livros de Luis da Câmara Cascudo e, no Rio de Janeiro, os do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Poesia

E por falar em Poesia, lembro o que ensinava Gerardo Mello Mourão, que morreu sexta-feira passada aos 90 anos de idade, um dos maiores poetas e escritores do Brasil:

– Um poeta não se rege por  teorias literárias. Isto é coisa de literatos e de literatura, não de poetas e da poesia. O que a poesia pede ao poeta é que tenha um conhecimento profundo de cada letra e de cada palavra, e com a letra e a palavra conheça os músculos, os ossos, o pulmão e o sangue de sua língua. Mas é preciso distinguir a língua da linguagem. A língua é o campo de batalha da comunhão dos homens. O poeta, o escritor, é aquele que inventa, não uma língua, equívoco de Guimarães Rosa, mas uma linguagem. Lembro sempre Borges: “minha língua é a língua de Góngora, de Cervantes e Quevedo, mas minha linguagem é a linguagem dos compadritos dos arrabaldes de Buenos Aires”. Pois assim minha língua: é a língua de Camões e de Vieira; mas minha linguagem é a linguagem dos plantadores de cana e de mandioca no pé-da-serra da Ibiapaba. O escritor que não tem sua própria linguagem, sua linguagem crônica – telúrica e pessoal, não é escritor. Vira um acadêmico. E quanto tenta forjar uma língua ou mesmo uma linguagem artificial, também deixa de ser escritor e cai na mediocridade do texto acadêmico. O texto acadêmico é o texto que obedece a uma forma preestabelecida. Por exemplo: os concretistas. Criaram um molde, uma fôrma, uma fórmula. Isto é: fazem exatamente o que faz o acadêmico.”

Chuvas

Pelo boletim de ontem da Emparn só tem chuvas em 22 localidades do Rio  Grande do Norte. A maior delas foi em Lucrécia, na   região do Oeste: 25 milímetros. Em Martins, 24, Antônio Martins, 14. No Seridó tem chuvas em São Fernando, 18, Equador e Jardim do Seridó, 8. Aqui, pelos agrestes, Ceará-Mirim, 20, São Miguel do Gostoso e Touros, 12.

Tapete

Setores visíveis do governo começam a puxar o tapete mulçumano do do vice Iberê Ferreira de Souza. Basta conferir a assessoria intelectual chapa branca.

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