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O RN pode perder atratividade

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Ricardo Araújo
Editor de Economia

Principal destino brasileiro dos investimentos da multinacional Voltalia, o Rio Grande do Norte ganhou, na semana passada, mais um complexo eólico administrado pela empresa. Os 36 aerogeradores instalados com capacidade de geração de energia em torno de 520 GWh por ano, estão fincados no entorno do município de São Miguel do Gostoso, no litoral Norte. Juntos, eles poderão  abastecer, aproximadamente, 270 mil famílias com energia elétrica.

O matemático e engenheiro, Robert Klein
                                             
O matemático e engenheiro, Robert Klein

A geração da energia está garantida. O escoamento, porém, poderá sofrer reveses caso o Governo Federal não amplie as linhas de transmissão existentes. Novos empreendimentos deverão chegar nos próximos anos, além dos que estão em construção, pois novos leilões ocorrerão ainda este ano. A expectativa, com o certame de energia renovável que será realizado em dezembro deste ano, é que a Voltalia amplie os investimentos no estado e passe a produzir energia fotovoltaica, a que aproveita o potencial da luz solar.

O country manager da companhia no Brasil, contudo, alerta para o risco do estado do Rio Grande do Norte perder atratividade em decorrência da limitação das linhas de transmissão de energia.

O que representa, para a Voltalia, a inauguração deste novo parque eólico?
A inauguração do Complexo Eólico de São Miguel do Gostoso, no norte do Rio Grande do Norte, representa um grande estímulo aos nossos negócios e contribui não somente com geração de energia limpa, mas também com o abastecimento de uma região que vive constante déficits de geração de energia elétrica. Atingir a marca de 429,30 MW em operação no país reforça ainda mais a nossa ambição em ser um grupo com atuação significativa no pais na produção de energia a partir de fontes renováveis e que enxerga no Nordeste do país, em especial o estado do Rio Grande do Norte, uma região com um potencial enorme de desenvolvimento.

Como a Voltalia atua na geração de energia no mundo?
A Voltalia é uma companhia internacional produtora de energia elétrica a partir de fontes renováveis (eólica, solar, hidroelétrica e biomassa) e que presta serviços a clientes terceirizados. A empresa está presente em 15 países espalhados pelos 4 continentes e é cotada na bolsa de valores Euronext Paris desde julho de 2014 (VLTSA).

Como se deu o processo de escolha do RN pela Voltalia? Quanto tempo essa prospecção demorou e quanto a empresa já investiu no estado?
O Brasil representa o maior mercado para a Voltalia em termos de investimentos e capacidade instalada. O Rio Grande do Norte é uma das melhores regiões para construir e operar um complexo eólico, devido à sua topografia e, claro, ao seu regime de vento extremamente favorável. Nossos investimentos no Brasil chegam à casa de R$ 2,5 bilhões e o Rio Grande do Norte é o principal destino desses investimentos, pois aqui estão localizados todos os nossos cinco complexos eólicos. Identificamos o potencial desta região já em 2007, quando ainda o setor eólico era incipiente no Brasil. Prospectamos áreas, firmamos contratos de arrendamento, medimos o vento. Desenvolvemos muitos projetos, sempre torcendo para que o governo desse a chance para esta fonte de energia limpa. Foi o que aconteceu com o primeiro leilão em 2009.

Quais foram as dificuldades (jurídicas, estruturais, ambientais) para instalação dos parques?
No geral, posso afirmar que a implementação do projeto foi um grande sucesso. Porém, tem que admitir que não faltaram dificuldades que apareceram ao longo do nosso caminho. Mas, com um trabalho sério, paciência, profissionalismo, perseverança e um pouco de sorte, conseguimos superá-las e chegar ao resultado que conhecemos.

A Voltalia pretende ampliar a participação na geração de energia via RN? De que forma? Quanto pretende investir no leilão programado para dezembro?
Sem dúvida. Trabalhamos e investimos há muitos anos para ampliar a nossa participação no RN, assim como em outros estados. Temos uma carteira importante de projetos que só espera ganhar um leilão para serem construídos. Temos diversos projetos eólicos e solares cadastrados no próximo leilão de dezembro, e como são extensões dos nossos parques já em operação, esperamos que sejam competitivos.

Além da energia eólica, a Voltalia tem planos de explorar energia solar no RN? A partir de quando e por qual município?
Sim, estamos construindo nosso primeiro parque solar no Brasil. Este parque integra o Projeto Híbrido que possuímos em Oiapoque (AP), onde ainda envolve geração de energia térmica e de uma PCH – Pequena Central Hidrelétrica -, cuja construção está prevista para se iniciar no segundo semestre de 2018. Um dos motivos de termos adquirido a Martifer Solar no ano passado foi diversificar nosso portfólio e sermos mais atuantes em energia solar no mercado brasileiro.

Em relação à transmissão da energia produzida localmente, como a Voltalia tem conseguido escoá-la? Qual o principal cliente da empresa?
Como apostamos em construção de parques de grandes portes (cluster), tivemos que construir uma linha de transmissão de grande capacidade capaz de escoar uma grande parte dos nossos parques. Quem compra a energia gerada por nossos parques são a maioria das distribuidoras do Brasil, de Norte a Sul, assim como preveem os leiloes de energia nova.

Qual o potencial do RN em relação aos demais estados brasileiros nos quais existem parques eólicos instalados? Esse potencial é pouco explorado? Por quais motivos, do ponto de vista da Voltalia?
Em termos de regime de vento e radiação solar, o Rio Grande do Norte é um dos estados com mais capacidade instalada hoje e potencial para o futuro. Porém, o estado pode perder muito rapidamente a sua atratividade devido às restrições de margem de escoamento, ou seja, a falta de investimento em linhas de transmissão que impede muitos projetos do Rio Grande do Norte participar de leilões. Os Estados do Rio Grande do Norte e Bahia são os mais afetados com essas restrições devidas, principalmente, ao atraso na construção de novas linhas.

Quais são os reflexos disso?
É uma pena, pois isto pode ajudar o estado a beneficiar-se de novos investimentos, sabendo quanto são importantes, na medida em que os projetos eólicos são acompanhados de projetos sociais que beneficiam as comunidades. A nossa contribuição neste aspecto foi muito grande ao longo dos últimos anos com o nosso envolvimento em numerosos projetos sociais, também com o apoio do BNDES.  Nossos empreendimentos não contribuem apenas com a geração de energia limpa, de empregos e melhora da economia, também implantamos projetos sociais que visam proporcionar melhores condições de vida aos habitantes da região.

Existem novos parques no portfólio da Voltalia para o RN? Onde serão instalados e quanto custarão?
Há bastante, mas o sucesso dos nossos empreendimentos depende diretamente da política nacional sobre as energias renováveis, assim como no reforço do sistema de transmissão no estado do Rio Grande do Norte, como falado anteriormente. Há praticamente dois anos não acontecem leilões de energias renováveis e o leilão de dezembro se torna ainda mais importante para quem continua apostando e investindo em projetos de energia limpa.

Faltam políticas públicas estaduais voltadas ao fomento do setor de energias renováveis? Como o tema é tratado entre empresários do setor e representantes do Estado?
A modernização do setor elétrico brasileiro precisa ser realizada de forma cautelosa pelo governo. A Voltalia procura sempre contribuir com a regulamentação para proporcionar segurança ao setor. Ao nosso ver, o papel da indústria de energia elétrica brasileira é contribuir com o desenvolvimento econômico da região do ponto de vista energético, mas também social e ambiental. O governo do Estado sempre ficou atento e proativo sobre a evolução do desenvolvimento do nosso setor no Rio Grande do Norte, e continuamos contando com o seu apoio.

Quem
Robert Klein é graduado em Matemática pela Aix-Marseille University, e em Engenharia pela Centrale Marseille. Possui MBA em Administração pela IAE FRANCE – Écoles Universitaires de Management. Iniciou sua carreira na exploração marítima de petróleo no Brasil, e participou da configuração e do desenvolvimento de companhias francesas, em particular nos Estados Unidos, Oriente Médio e Ásia, ligadas, predominantemente, ao setor de energia.

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