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“O RN pode perder investimentos”

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Karla Larissa – Repórter

Anos seguidos de enchentes, desvalorização do dólar e falta de incentivos fizeram com que uma das principais atividades econômicas do Rio Grande do Norte, a fruticultura, deixasse de viver os anos de fartura que atravessava para enfrentar uma crise. Há 16 anos no setor, o engenheiro agrônomo e diretor da WG Fruticultura, Wilson Galdino de Andrade, vivenciou os bons momentos do setor e agora está entre os produtores que lutam pela recuperação da atividade. Em entrevista, o presidente do Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte (Coex), uma das instituições que representam os produtores do ramo, avalia a situação atual da fruticultura no estado e fala sobre perdas de emprego, fechamento de fazendas e migração da produção para o Ceará, inclusive de grandes empresas como Del Monte. Ele alerta que se o Estado não conceder incentivos à atividade pode perder investimentos.

O senhor avaliaria 2009 como um ano difícil para a fruticultura?
O câmbio não está ajudando o produtor da fruticultura, assim como ao agronegócio. Os setores que exportam foram muito penalizados, principalmente quem trabalha com fruticultura.

Os números das exportações mostram que as vendas para outros países vêm diminuindo. A quanto chega a perda no faturamento?
Nós estamos acreditando que vai haver uma diminuição na área plantada, de melão e melancia entre 20% e 25% na região produtora do estado. A área destinada a produção dessas culturas era de 12 mil hectares.  Com relação às perdas no faturamento, acompanharia essa diminuição da área plantada, mas não sei dizer quanto.

A queda nas exportações dos principais produtos da pauta do estado, como melão, banana, castanha de caju é reflexo de quê?
Acredito que seja principalmente do câmbio porque a qualidade da fruta desse ano é superior à da safra passada. É uma fruta de boa qualidade.

Empresas de peso no setor como a Nolem e a Del Monte, maiores produtores de melão e de banana no país, sentiram fortemente o impacto da crise e das chuvas. Que reflexos a crise enfrentada por essas empresas teve e terá sobre a fruticultura do Rio Grande do Norte?
É uma perda grande, principalmente na geração de empregos. A Del Monte, por exemplo, está destinando parte dos investimentos na produção de bananas do Rio Grande do Norte para o Ceará, em Limoeiro do Norte e Quixeré.

E para o consumidor? A crise na Nolem e na Del Monte chegou ao mercado, aos preços?
Não acredito em reflexo no mercado interno. Não houve um aumento de preços. Pelo contrário, algumas empresas plantaram um pouco mais visando o mercado interno.

E como está a situação do mercado interno hoje?
O mercado interno sempre teve um grande potencial e nós como produtores não podemos perder de vista esse mercado gigantesco.

Como a carcinicultura, os fruticultores também buscaram no mercado nacional uma alternativa à crise no exterior?
Sem dúvida. Ninguém pode mais deixar o espaço do mercado interno aberto. Hoje as regiões Sul, Sudeste e até Nordeste representam um potencial de consumo alto. São Paulo continua sendo o grande consumidor do melão do Rio Grande do Norte, mas Rio de Janeiro e Belo Horizonte também são grandes consumidores.

O consumo de frutas, no Brasil, também foi reduzido, como em outros países?
O mercado interno da fruticultura tem se mantido estável, com o mesmo volume comercializado no ano passado. E como o  empresário deixa de exportar, colocou o produto no mercado interno, o preço referencial este ano tem ficado mais barato. 

O setor reclamou por vezes sobre dificuldades para escoar a produção pelo estado. Quais são os problemas de infraestrutura que os fruticultores enfrentam hoje?
Principalmente as estradas. Este ano a logística tem melhorado um pouco. Mas tem que melhorar mais. O Porto de Natal tem perdido volume de exportação para o Porto de Fortaleza, que tem sido mais eficiente. Mas como o Porto de Natal tem melhorado eu acredito que hoje as exportações da fruticultura do Rio Grande do Norte estejam 50% sendo escoadas pelo Porto de Natal e 50% pelo Porto de Fortaleza.

A Fapern vem financiando pesquisas para adaptar novas culturas, como café e kiwi no interior do estado. A fruticultura está realmente precisando de alternativas?
O tripé forte hoje na fruticultura do estado é o melão, banana e mamão, mas acreditamos em outras culturas. Mas tem que ter pesquisa, estudo, para ver se realmente esse negócio é sustentável. O mamão formosa, que há três anos vem sendo plantado na região de Baraúnas, ganhou área e qualidade, e hoje já exporta um volume representativo para Europa e regiões Sul, Sudeste e outros estados do Nordeste. A produção de mamão emprega 12 meses do ano, enquanto o melão é um período reduzido,  6 meses.

O desenvolvimento de novas culturas ameaça de alguma maneira a importância do melão?
Não. Pelo contrário, seria uma complementação, uma afirmação da região como produtora de frutas. Vem só a somar.

Por dois anos seguidos, o estado enfrentou enchentes. Que prejuízos foram sentidos pela fruticultura e o setor já conseguiu se recuperar desses prejuízos?
O prejuízo foi maior no cultivo da  banana, na região do Vale do Açu, principalmente por causa dos prejuízos da Del Monte. Mas na produção do melão não foi sentido tanto porque a fruta é plantada depois da estação chuvosa. E o mamão é cultivado em regiões  mais altas. Por causa desse prejuízo, muitas fazendas estão migrando da região do Vale do Açu para o Ceará. E isso pode ter efeitos nos próximos anos. Não sei dizer de quanto foi o prejuízo, mas foi um volume representativo.

O governo ajudou nessa recuperação?
O governo tem ajudado na parte de logística, com a recuperação de estradas, mas continuamos penalizados pela questão da segurança e também porque  o estado não conta com nenhum perímetro irrigado de consistência. O perímetro irrigado do Vale do Açu não funciona nem 50%  da capacidade. Grandes barragens do estado, como Santa cruz, Umarí e Upanema estão sem projeto de irrigação. Não está sendo investido nada. Se o estado não tiver habilidade vai perder investimento para outros estados.

O fechamento da Nolem foi um caso isolado no setor ou outras empresas fecharam as portas em função da crise ou dos danos provocados pelas chuvas?
Pelas chuvas não, mas pela questão do câmbio, endividamento e alto custo de produção das culturas, algumas empresas fecharam. Na região de Baraúnas, seis empresas produtoras de melão fecharam. No Vale do Açu, várias fazendas fecharam e migraram a produção para o Ceará. 

Quantos empregos foram perdidos na fruticultura este ano?
Acredito que algo em torno de 6.200 empregos diretos nas culturas de melão e banana.

Que impacto pode ter a perda dessas vagas? Êxodo rural?
As pessoas que  perderam esses empregos estão em uma situação difícil. Alguns trabalhadores migraram para empresas do Ceará. Mas não foram recuperados todos esses empregos, muitos trabalhadores rurais e  técnico continuam sem trabalho.

Que alternativas as empresas estão procurando para lidar com essa crise?
As empresas estão enxugando o quadro, procurando ter mais eficiência, produzir mais com menos, também estão investindo em tecnologia, e tentando comprar bem e vender bem. Além disso, estão mais conservadoras nas decisões com relação a  investimentos e estão fazendo opções por outras culturas.

Os fruticultores chegaram a ter alguma devolução dos pagamentos da Lei Kandir?
O governo tem acenado que vai cumprir a Lei. Estamos em processo de negociação, as empresas estão dando entrada na documentação, mas até agora, depois de quase três anos, nenhum valor foi pago.  No Ceará, temos a informação de que as empresas já estão recebendo o pagamento pela Lei Kandir que o produtor tem direito há algum tempo e com uma facilidade maior.

O senhor sabe informar o montante que o governo do estado tem que pagar aos fruticultores pela Lei Kandir?
Não tenho ideia do montante, mas é um volume grande.

E como esse dinheiro poderia ser investido pelos fruticultores?
Com certeza, o setor produtivo iria  investir forte na produção e gerar muitos empregos.

A falta de incentivos tem atrapalhado na concorrência com outros estados, como o Ceará?
Não chamo o Ceará de concorrente, mas eles evoluíram bastante na produção de banana, melão, melancia e abacaxi. Eles têm mais incentivos, uma região com volume de água maior, com bastante perímetros irrigados, agricultura mais organizada. Por isso, o Ceará tem crescido bastante, em velocidade grande.

Um dos pleitos antigos do setor  era estrada do melão, que finalmente saiu do papel. Como a estrada irá ajudar no escoamento da produção?
A estrada do melão foi uma luta do setor produtivo e hoje é uma  realidade. Com a primeira etapa concluída já tem sido importante para garantir nossa segurança e ajudar no escoamento da produção.

Qual o papel do Coex?
O Coex sempre teve o papel de de fazer o controle fitossanitário da área livre da mosca da fruta. O objetivo principal é de fiscalizar e manter essa área livre da mosca da fruta. Mas é uma entidade que representa os fruticultores que hoje têm o Sindicato dos Fruticultores do RN, que está em fase de gestação. Participam do Comitê as empresas do RN e algumas empresas do Ceará.

Que futuro o senhor vê para a fruticultura do estado?
Acredito que o setor da fruticultura vai ter dias difíceis. Mas os produtores hoje são mais eficientes, tem buscado mais tecnologia e outras culturas, como a banana e mamão. O produtor  que está de olho no futuro  tem que diversificar o cultivo.

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