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O RODA VIVA DA DEMOCRACIA

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Garibaldi Filho
Ex-senador da República 
Quem deixou de ver o programa Roda Viva de segunda-feira última não sabe o que perdeu. Eu diria que foi uma noite da democracia. O entrevistado, Fernando Henrique Cardoso, a apresentadora e os convidados, ex-apresentadores, homenagearam o programa da TV Cultura. Foram, até aquela data, 34 anos de “Roda Viva”, ininterruptamente, como se a própria sucessão de entrevistas, algumas memoráveis, significasse a continuidade do regime político que temos hoje no nosso país. Nesta entrevista com Fernando Henrique Cardoso, foram abordados os diversos assuntos que envolvem a nossa vida política, inclusive as qualidades e as mazelas, e não se poupou ninguém, nem mesmo o ex-presidente da República entrevistado.
Quem estava ali sentado no centro do “Roda Viva” não era aquele que tinha sido o mais alto dignitário do país, mas sobretudo o cidadão brasileiro, defendendo o que lhe é mais caro: a democracia. Cobrou-se dele, no alto dos seus quase 90 anos, uma autocrítica dos próprios atos e do partido, o PSDB. Ele não pestanejou, nem chegou a esboçar qualquer recuo. Colocado diante do passado, fez a reflexão de uma maneira altaneira. Os arrependimentos fluíram. Os erros foram atribuídos às fragilidades dos partidos, nunca ao regime democrático. O instituto da reeleição e a autocrítica não deixaram de ser abordados e o ex-presidente não se fez de rogado. Falou sinceramente que hoje já não saberia se lutaria pela introdução desta possibilidade de recondução, porque ficou evidenciado, no nosso país, que quatro anos são poucos; mas oito, excessivos.
E confessou que, ao cabo dos oito anos, já se sentia cansado do exercício do mais alto cargo da vida política do país. Porém, ao longo de quatro anos, estava ainda encorajado a fazer muito mais. Explicou que não afirma isso em função de quem está no poder. Ressalva necessária, porque não faltou, entre os entrevistadores, quem dissesse que a afirmação seria em função das chances de reeleição do atual presidente, Jair Bolsonaro.
Eu, se estivesse na bancada dos jornalistas, também perguntaria se três anos não foram pouco, no caso do mandato dos prefeitos das capitais, na transição para a democracia, no primeiro mandato por eleição direta, depois de vinte anos de “nomeações” que caracterizaram o período do regime militar. Foi o que ocorreu comigo e os demais prefeitos escolhidos pelo voto popular em l985.  Senti-me, algumas vezes, impotente para fazer face aos desafios que se acumularam ao longo do regime ditatorial, com o povo a cobrar soluções para tudo e para todos. Em situação totalmente contrária, ao longo de oito anos como governador, sentia-me cansado, no fim do segundo mandato, como também afirmou Fernando Henrique. Muito embora, no segundo mandato, tenha sido executada uma série de obras e programas, possíveis graças aos ajustes obtidos na primeira gestão.
O certo é que no caso dos prefeitos das capitais, que exerceram o curto governo entre janeiro de 1986 e janeiro de 1989, não foram muitos os que tiveram a carreira política continuada depois de uma gestão de três anos, sem possibilidade de reeleição.
Essas reflexões sobre o período dos mandatos nos Executivos e o instituto da reeleição, no país, certamente, merecerão discussões cuidadosas, embora acaloradas, que esperamos abordar em breve.
Neste momento, quero concluir ao afirmar que o Roda Viva prossegue com sua contribuição e uma das referências para o jornalismo de qualidade e na prestação de um serviço exemplar ao nosso Brasil. Afinal, são 34 anos  sustentando um dos pilares do regime democrático: A liberdade de expressão.
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