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O sábado de inaguração no Parque da Cidade

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MÚSICA - Dominguinhos traz recordações sobre Natal e amigos como Elino

O cheiro de tinta fresca e o friozinho em plena tarde de sábado davam o clima da inauguração do Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte. A festa estava marcada para 17h, e as pessoas começaram a chegar bem mais cedo. O acesso à torre arquitetada por Oscar Niemeyer estava permitido só até a entrada. Para subir ao local estavam à disposição um trenzinho e algumas vans. Outro acesso aberto ao público era a Escola de Educação Ambiental — a primeira de Natal — por onde passava a escadaria.  Público chegando cada vez mais, muitas crianças, idosos, jovens, adultos circulavam e presenciaram  o início de um novo olhar sobre a cidade. Aquele olho gigante, a área verde com 64 hectares, a paisagem urbana de Natal ao fundo. O local  será uma das principais fontes de recarga do aqüífero de Natal – a cidade tem 70% do seu abastecimento por água do subsolo.

Depois do discurso do Prefeito Carlos Eduardo, da Governadora Wilma de Faria, dos familiares de Dom Nivaldo Monte e da secretária de Meio Ambiente Ana Míriam Machado, a expectativa maior ficou focada nas apresentações de Roberta Sá e de Dominguinhos, que subiram ao palco para um público de mais de sete mil pessoas (estimativa de policiais presentes), mesmo debaixo de chuva.

O funcionário público Francisco Valentim e sua filha Stefani Alcântara chegaram cedo para garantir um bom lugar. “Tivemos curiosidade de conhecer a obra e nós moramos aqui bem perto acompanhamos toda a construção. Fico já imaginando vir com minha família fazer trilha, ir ao Memorial e ao observatório. Percebo que será importante para a valorização do bairro e além disso traz uma força ambiental e cultural que permanecerá por anos a fio, um grande vulto”, contou Valentim.

O casal Regina e Janilson Guanabara estavam aguardando o início do show de Roberta Sá, enquanto observavam a obra ainda inacabada. “Hoje é um dia importante para todos nós. Independente de qualquer coisa é um patrimônio cultural de valor inestimável”, disse Regina.
De valor inestimável também foram os shows de Roberta Sá e Dominguinhos. Embaixo de muita chuva Roberta Sá, como uma diva, pela primeira vez de vestido longo, subiu ao palco por volta das 19h,  e deu início a sua apresentação que reuniu canções dos dois últimos discos “Braseiro” e “Que Belo e Estranho dia para se ter Alegria”. Numa sintonia fina com a banda que reunia violão, guitarra, programações, sample, bateria e percussão, Roberta parece cada vez mais madura no palco. E o público,  sabia as letras na ponta da língua. Na platéia, seu marido Pedro Luís assistia atento a cada canção, enquanto algumas pessoas pediam para que ele subisse para cantar junto, o que não aconteceu. A última canção “Braseiro” levantou até os que estavam nas cadeiras brancas em frente ao palco, enquanto muitos já estavam ensopados pela chuva.

Dominguinhos

Nos camarins improvisados, antes de entrar no palco, o VIVER conseguiu conversar com o mestre  Dominguinhos. Enquanto Roberta Sá se preparava para entrar em cena, ele perguntou. “Essa menina não deveria entrar agora para cantar. Eu sei que sou depois dela”, disse com sua calma inabalável e um terno preto elegante. O homenageado do Prêmio Tim desse ano contou sobre o início de sua carreira, quando se mudou aos 13 anos para o Rio de Janeiro para conhecer de perto Luiz Gonzaga. E se emociona ao lembrar que foi aplaudido de pé no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em maio desse ano, 50 anos depois do início de sua jornada que ganhou o mundo. “Receber uma homenagem daquela é cair em si, é uma emoção grande. As pessoas participando, todo o Teatro Municipal do Rio de Janeiro em pé me aplaudindo. Ano passado eu vivi uma sensação parecida no prêmio de Melhor Cantor com o disco e esse ano ganhei com Yamandú, mas agora foi algo fora do comum, porque quem estava recebendo suas premiações era um cabeça chata. Estar ali no Rio de Janeiro, o mesmo lugar que comecei a vida”. O sanfoneiro lembra com carinho o momento em que foi pai aos 17 anos, e quando sua companheira na época chamada Anastácia descobriu nele um compositor em potencial.  “O autor compositor na década de 60, vivia muito bem mostrando suas músicas e o interprete ia gravando, mas hoje tudo mudou. Quem tem suas músicas grava, mas é mais difícil oferecer música para os cantores”, conta. 

Conversa encerrada, chegou então sua vez de subir ao palco. A platéia permaneceu, a chuva estiou e não parava de chegar gente. No palco, o seguidor de Luiz Gonzaga abriu um sorriso que poucos músicos maduros conseguem emanar. Mesmo com uma maratona de shows que o faz se apresentar diariamente em várias cidades,   Dominguinhos parece não perder a calma um segundo sequer. Mostrou a que veio, e levantou a multidão. Canções como “Forró no Escuro”, de Luiz Gonzaga e “Eu só quero um Xodó” foram embalando  as horas até que o show passou de meia-noite com Domiguinhos sem parar o fole, incansável.

Entrevista / Dominguinhos

Como foi para o senhor ser o homenageado do Prêmio Tim de Música 2008, quando foi recebido de pé por todos os músicos contemporâneos e antigos da Música Popular Brasileira?
Dominguinhos:
Foi uma coisa muito bonita, porque teve muita verdade. Existem homenagens que a gente recebe e sabe que não tem essência. O nordestino que vive no Rio de Janeiro e em São Paulo traz algo diferente, por mais que você seja querido tem aquele tempo diferente, as pessoas olham para a gente de outra forma. E imediatamente lembro de Gonzaga, ele sempre teve muita dificuldade para provar, sempre mais do que os outros artistas, que ele merecia estar ali cantando na Rádio Nacional.  Isso tudo fez com que os nordestinos que iam atrás de alguma coisa tivessem mais força como eu tive. Ele sempre dizia para mim e para Gonzaguinha: olhe, vocês têm que respeitar o povo, porque é o povo que lhe dá caminho para prosseguir na sua luta. Se você não respeita esse povo, a vida é curta. E isso me serviu a vida inteira. Toquei na Rádio Nacional, toquei em bares, toquei no início da televisão, na Tv Tupi e a vida foi se desenvolvendo naquele lugar e as pessoas vão marcando, fazendo um trabalho de uma forma que você está deixando um rastro. Não é uma coisa efêmera. Nessa parte é que eu tive muita sorte.

E com a tecnologia, o que mudou na sua história? 
Isso tem os dois lados. Tem a contribuição importante que está impulsionando as produções, mas por outro lado as pessoas estão se apoderando de muita coisa que você tem, da sua obra e isso não é legal. Aí fica uma dúvida será que essa tecnologia realmente é uma coisa benéfica. Eu acho que até certo ponto é, mas da forma que estão fazendo as coisas a gente acaba sendo dominado. É igualzinho uma casa que se você não pagar os impostos o dono toma, é a mesma sensação.

E seus trabalhos na estrada agora?
Tenho dois discos agora o “Conterrâneo” que tem a participação da minha filha Lígia de Morais e Guadalupe, a mãe dela. E tenho o disco com Yamandú. Chamado “Yamandu Costa e Dominguinhos”. Estão ajeitado aí para eu gravar com João Donato. Meu produtor está descobrindo ajuntamentos que vão dando certo e vou só agradecendo essas parcerias.

Depois de tudo isso, o que o senhor deseja agora?
A única coisa que eu desejo é poder continuar tocando e fazendo o que sempre fiz, não é nada demais, só continuar a vida, tocar minha sanfona e fazer música.  Quero lembrar que sou um cidadão aqui de Natal como sou também de Martins e em 1957, quando estava com Borburema e Miudinho, o primeiro trio nordestino e viemos bater aqui em Natal, foi a primeira vez que peguei avião.  Natal está no meu coração. Aqui lembro de Elino, que conheci novinho no Rio de Janeiro e acompanhei suas primeiras gravações, assim como acompanhei a Marinês e sua gente, o Trio Nordestino, Genival Lacerda, todo mundo.

E a saudade desse tempo?
Sinto…muita. O tempo é infalível mas eu vivi uma época boa, a época de ouro do rádio, na música, no futebol os programas de auditório. Tudo valeu.

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