sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

O samba lavrado de Andiara Freitas

- Publicidade -

Gabriel Gagliano*
Especial para a TN

O Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, da Fundação José Augusto, abriu suas portas na quarta-feira passada (8) para uma brilhante apresentação do repertório de sambas regionais produzidos por eminentes talentos de nossa música. Interpretou-os, ao lado de seu grupo, a cantora Andiara Freitas, que também produziu o evento, por ocasião do lançamento de seu segundo álbum de sambas, intitulado “Todos os Sambas”. Não foi por acaso que este lançamento ocorreu justamente no dia internacional da mulher: Andiara, que já dedica sua carreira ao samba do RN desde o seu primeiro álbum (“Samba da Minha Terra”, gravado em 2014), demonstrou uma atuação impressionantemente multifacetada: se, por um lado, dividiu-se em distintos ofícios, pelos quais ela mesma tomou para si incumbências como a criação do roteiro e planejamento da apresentação, a concepção cênica e de figurinos, a produção meticulosa do evento, sem mencionar que ela mesma houvera confeccionado a arte do seu álbum; por outro lado, devemos com muita justeza acrescentar que, para além de todos estes esforços, Andiara de fato logrou uma desenvoltura artística de elevado nível, certamente honrando toda a arte carreada pelos grandes mestres que o samba fez nascer ao longo deste século de história.
Espetáculo apresentado no TCP mostra versatilidade de Andiara
Com uma voz suave e equilibrada, de agudos sonoros e graves expressivos, a cantora foi acompanhada por um grupo bem entrosado, formado pelo violonista Jubileu Filho, que, desde o primeiro álbum, foi também autor dos arranjos e diretor musical, o violonista de 7 cordas Arthur Canuto, o cavaquinista Paulo Pereira, o flautista e saxofonista Jane Eyre, e os percussionistas Toninho Melé, Andrey Feitosa e Aluízio Pizão. Arranjos criados na medida certa, sem extravagâncias, artificialismos estilísticos ou maneirismos alienígenas ao gênero, transcorrendo sob uma voz branda, porém expressiva, trouxeram-nos os ares, ora jocosos, ora lúdicos, ora românticos, tão fielmente característicos do samba brasileiro, como o ouvimos desde o teto humilde da Tia Ciata, sua eterna e querida parteira.

O repertório (na sua maioria, sambas potiguares) foi composto não só pelas obras presentes no álbum “Todos os Sambas”, que dá ensejo ao concerto, como também por algumas já previamente gravadas no primeiro trabalho da cantora, numa seqüência mista e cativante. Ao todo, Andiara organizou sua apresentação com 15 obras, fazendo pontuais intervenções espirituosas, onde relatava brevemente alguma curiosidade ou pertinência. Sua dinâmica proporcionou uma noite fluida e aconchegante, permeando as diversas composições com criativas alternâncias, algumas vezes recitando simplesmente a letra de determinadas obras, a capella, como em “Coragem” (Tico da Costa), Mal-me-quer (Diogo Guanabara e Ugo Leite) e Par ímpar (Cleudo Freire e João Salinas), todas presentes no primeiro álbum, enquanto que, em outro momento, convidando o músico João Henrique para interpretar, em duo, o “Desculpa Meu Bem” (Vinícius Lins). Desta forma, a apresentação manteve forte interesse do início ao fim.

Este álbum, um trabalho cuidadoso e autêntico, iniciado em 2015, gravado entre março e abril do ano seguinte, e lançado somente neste momento, em 2017, é sem dúvida um importante marco para o samba potiguar e a música do Rio Grande do Norte, laborado com esforço e dedicação, do qual nos devemos orgulhar e atribuir o devido valor.

(*)
Gabriel Gagliano é  formado em Música, mestre em Música e doutor em Ciências Sociais. Atualmente, é professor da Escola de Música da UFRN, onde atua como pesquisador, compositor e intérprete.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas