Ramon Ribeiro
Repórter
Livro conta a trajetória de projetos sociais e educativos em Natal e Serra do Mel
Os detalhes da criação de cada uma dessas iniciativas estão registrados no livro de memórias “Arriscar… Fomos todos nós!”, de Jean Raboud. A obra tem 544 páginas, farto material fotográfico e prefácio do jornalista Osair Vasconcelos. A obra também é a continuação da história começada no livro “Nossas Vidas! Arriscar”, publicado pelo autor em 2016, dois anos após o falecimento de Elisabeth. Os dois volumes, juntos, narram a trajetória do casal desde a origem de cada um – Jean na Suiça, e Elisabeth, na Indonésia –, até a chegada ao Brasil, em 1974, com ênfase no período em que viveram em Natal.
“Arriscar… Fomos todos nós” será lançado nesta terça-feira (30), em evento no Solar Bela Vista (Cidade Alta), entre às 18h e 21h. O segundo volume estará à venda por R$ 50 e o primeiro por R$ 30. Ambos os livros estão sendo publicados pela editora Bagaço, de Recife. Toda a renda obtida com a comercialização do livro será revertida para a ADIC, que atualmente atende 280 crianças no Passo da Pátria.
“O primeiro livro fala das nossas origens até chegar ao Brasil. Agora, nesse novo volume, que começa com o nosso desembarque em São Paulo e posterior chegada no Rio Grande do Norte para fundar a RARUS (Agroindústria de Produtos Aromáticos), está a nossa relação com o povo potiguar. Além da nossa experiência pessoal, está mostrado aqui como surgiram essas iniciativas que conseguimos com esforço e parceria realizar no Estado”, diz Jean em entrevista ao VIVER.
Serra do Mel
Depois do trabalho na RARUS, Jean partiu para uma nova empreitada no RN. Tentar de alguma forma mudar a realidade das famílias de Serra do Mel, no semiárido potiguar. Pisou pela primeira vez naquelas terras em 1982, a convite de Cortez Pereira, e encontrou uma região castigada pela seca. Mas encontrou também potencial. O resultado de seu trabalho pioneiro, como está bem descrito no livro, é a criação da AACC, iniciativa que apostando nos conceitos de economia solidária e agroecologia transformou a vida de inúmeras famílias locais.
Mãe Luiza
Durante o trabalho com a AACC, Jean mantinha um pequeno escritório em Mãe Luiza para cuidar dos assuntos da associação relativos à capital. Nesse tempo, ele e Elisabeth já mantinham uma amizade com o Padre Sabino, que atuava na comunidade. Foi por meio dele que Elisabeth, de forma voluntária, iniciou seu trabalho social.
“Em Mãe Luiza Elisabeth conseguiu se realizar sozinha. Conseguiu encontrar caminhos sem o marido. E isso foi muito importante pra ela. Essa é a minha concepção. Ele implementava as ideias delas, ideias que levavam em consideração o que a comunidade exigia. Eu ia apenas atrás para ajudar na contabilidade”, comenta Jean. “Ela tinha um trato muito direto com as mulheres dali, suscitava a parcela de responsabilidade de cada uma delas, mas abraçando a pessoa. Ali foi um embrião para o Passo da Pátria”.
Passo da Pátria
Entre a segunda metade dos anos 90 e o início dos anos 2000, Jean coordenou uma ação de cooperação do governo suíço na Bósnia pós-guerra. Após esse trabalho, ele e a esposa retornam à Natal. Foi quando Elisabeth se voltou para o Passo da Pátria, se aproximando da Pastoral da Paróquia São Pedro e fundando, em 2004, a ADIC. O foco eram as crianças, e a atuação por meio de ações socioeducativas multidisciplinares.
“Sempre acreditamos no potencial dessas crianças. Sou filho de camponês que precisou enfrentar dificuldades para criar os filhos. E Elisabeth viveu a guerra, passou dois anos de fome, e superou os problemas. Então temos motivos para acreditar nessas crianças. A vontade de vencer existe em qualquer ser humano”, explica Jean. “O menino pobre não é só capaz de jogar futebol. Ele tem talento para a informática, para às artes, tem potencial para todas as áreas humanas. O que a gente veio fazer aqui com a ADIC foi justamente isso. Complementar, e não substituir, a educação pública”.
Olhando para trás, revendo toda a sua trajetória, Jean comenta que vir morar no Rio Grande do Norte foi um exercício de sacrifício. Por isso o nome do livro: “Arriscar”. Mas, segundo o autor, o que ele sacrificou para vir viver no Rio Grande do Norte, ele ganhou em dobro. “Sem o que o Nordeste me deu, eu não teria condições de ter realizado o trabalho na Bósnia, por exemplo. Aprendi com todas essas pessoas que conheci, pessoas simples, humildes, que demonstram uma grande capacidade de aprender. Essas pessoas me influenciaram. Sem dúvida o Nordeste me fez uma pessoa melhor”, afirma esse semeador de boas iniciativas.
Serviço
Lançamento do livro “Arriscar… Fomos todos nós!”, de Jean Rabout.
Dia 30 de abril, das 18h às 21h
Solar Bela Vista (Av. Câmara Cascudo, 417 – Cidade Alta)
Preço do livro: R$ 50