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“O setor produtivo tem que se reinventar”

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Andrielle Mendes – Repórter

O novo presidente da Associação Comercial e Empresarial do Rio Grande do Norte, Itamar Manso Maciel, assumiu a entidade na semana passada elegendo como um dos desafios para a gestão, que termina em 2014, preparar as micro e pequenas empresas do Rio Grande do Norte para as oportunidades previstas com a realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ele fala sobre os desafios para alcançar o objetivo, analisa o momento atual e faz projeções para o comércio. Além de estar à frente da Associação Comercial, ele preside o Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos do RN e o Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos na Associação Comercial. Itamar foi convidado para participar da gestão da entidade há quatro anos e assumiu na época programas de peso como o Empreender, que capacita empresários e funcionários em 27 municípios potiguares e conta com 59 núcleos setoriais.
Entrevista - Itamar Manso Maciel - presidente da Associação Comercial e Empresarial do RN
O senhor acaba de assumir a presidência da Associação Comercial e Empresarial do RN. Qual a sua relação com o setor?
Tenho uma loja no ramo de autopeças e serviços. A minha militância patronal me levou à presidência do sindicato de autopeças e serviços. Estou no 2º ano do primeiro mandato. Somos um dos articuladores do Empreender, um dos programas da Associação Comercial e Empresarial do RN. Esta ação resultou na minha filiação à associação comercial. Tenho uma ligação umbilical com a associação. Meu tio avô, o coronel Felinto Manso Maciel, foi um dos sócios-fundadores ainda no século passado. Chegando ele à vice-presidência da associação. Foi ele que entregou aquele prédio e concluiu aquela obra (na Ribeira). O pai de Câmara Cascudo foi presidente da associação comercial. Essa minha militância me levou a associação como um sócio e há quatro anos entrei na gestão, na gestão do presidente Sérgio Freire, sendo vice-presidente dele. E nesse processo fomos maturando os projetos, como o Empreender.

É um projeto realizado apenas em Natal?
Não. Está presente em 27 municípios, através de 59 núcleos setoriais. Atendemos a mais de 700 empresários e temos 4 mil colaboradores assistidos no projeto. O projeto chegou no Brasil, em Santa Catarina, em 2002. Veio da Alemanha. De pronto o Sebrae capitaneou o projeto junto com as associações comerciais, que têm a maior capilaridade no país. Há associações comerciais em 2,4 mil municípios do país. Projeto chegou no RN em 2002. Foi o que me aproximou efetivamente da associação. Sou um militante da micro e pequena empresa. Considero a micro e pequena empresa de fundamental importância para o país. Fui a convidado a ser o diretor do Empreender. Hoje, temos outro projeto forte que é o Integra, capitaneado pela Confederação Nacional das Associações Comerciais e o Sebrae nacional, que será implementado nas 12 cidades-sede.

Qual é o desafio nas cidades-sede?
Valorizar a micro e pequena empresa e trazê-la para a formalidade. Nossa meta é formalizar 500 micro e pequenos empreendedores individuais em 12 meses, baseados no tripé: unir, capacitar e orientar. Essa relação de capacitação vamos oferecer cursos de gestão e até de línguas à distância. Os cursos serão oferecidos primeiro em Natal, Mossoró, Apodi, Caicó, Currais Novos, Cruzeta, e Parnamirim. O Integra vem com ações permanentes garantir a formalização e a capacitação. Os colaboradores das empresas que se inscreverem receberão uma senha de acesso e terão acesso aos cursos de média e longa duração. Essa capacitação é gratuita. Basta estar cadastrado. O lançamento foi na semana passada. Temos outros projetos como o Ribeira Competitiva, também em parceria com o Sebrae. Com o objetivo de valorizar o bairro, que é o centro da cidade. Tudo começou na Ribeira. Nossa intenção é discutir a revitalização do bairro. Mas não se consegue discutir revitalização sem que o poder público esteja presente. O Ribeira Competitiva pressupõe uma condição muito superior que revitalizar. O poder público tem que estar presente, mas a sociedade também precisa estar envolvida. Fizemos uma pesquisa com o Sebrae aonde apontou algumas ações. Há muitas edificações no entorno da Ribeira. Essas pessoas precisam consumir, precisam de farmácias, de supermercados. Ao longo do tempo, a Ribeira ficou abandonada. Queremos capacitar as pessoas que trabalham na Ribeira. Programa foi implementado no início do ano com palestras gerenciais. Os convites iam para os colaboradores e empresários de graça. O objetivo é fomentar a capacitação, porque não se pode pensar o empreendedor sem pensar em capacitação. O programa deu uma pausa, vamos voltar no início do ano. Pretendemos voltar antes do carnaval.

Com estas mesmas ações?
Sim. Acho que temos que reinventar usando a criatividade. A pausa é necessária.
 
Quantas empresas foram beneficiadas dentro desse Projeto?
Mais de 200 empresas e 600 colaboradores, em média.
Entrevista - Itamar Manso Maciel - presidente da Associação Comercial e Empresarial do RN
O senhor acredita no reflorescimento do comércio da Ribeira?
Sim. O reflorescimento do comércio da Ribeira é uma necessidade. Agora o poder público tem que ser parceiro nesse processo. Sem a participação do ente público não se vai para lugar nenhum. Acredito que exista algo em torno de 300 novos apartamentos na Ribeira. Suponhamos que morem entre três ou quatro pessoas por apartamento. Essas pessoas precisam de serviços próximos.

Mas na Ribeira não tem..
É por isso que essas pessoas se deslocam para outros bairros. A Ribeira está carente. E ela vem com o descaso com o bairro.

Agora o que o poder público pode fazer?
A Prefeitura poderia começar a pensar na redução de IPTU para incentivar a ocupação do bairro. O IPHAN também tem um papel importante. Há um pacto do desenvolvimento para os sítios históricos do Brasil. Há algo em torno de R$ 40 milhões. Que nós podemos fazer a diferença na Ribeira, se conseguirmos revitalizar o bairro. Não sei se vai sair do papel, mas já seria um primeiro passo.

Vamos falar sobre a Copa. Quais as oportunidades que a Copa pode trazer para os comerciantes do RN?
O setor produtivo tem que se reinventar. Ele tem que sair do discurso da Copa, da Copa, da Copa e começar a pensar o que é necessário. Temos primeiro uma necessidade de capacitar. É preciso capacitar do taxista ao atendente de farmácia. Todo o setor produtivo precisa se preparar para a Copa. É preciso discutir que legado a Copa vai deixar. O que vai ficar para o comércio? Será que os bonés produzidos no RN poderão ser comercializados com a logomarca da Copa? O comércio precisa se preparar para isso.

Mas não começou a se preparar ainda?
Está muito no discurso. Precisa de uma ação mais pró-ativa. Precisamos envolver as universidades, o setor produtivo. Passamos por um momento difícil na cidade. A partir de janeiro teremos um novo prefeito, que tem um papel importante neste processo.

Quando o senhor fala em oportunidades trazidas para o setor, se refere a novos negócios? As parcerias com empresas locais e estrangeiras? Na prática, como o comerciante vai se beneficiar deste evento?
Parcerias sempre. Parcerias são necessárias. Não sei até que ponto nós do comércio seremos beneficiados. Me parece que a Fifa estabelece uma série de critérios e limita a comercialização de produtos. Tem um debate relacionado a direitos autorais, que não domino bem, mas penso que poderá engessar até certo ponto algumas ações nossas. Por outro lado, temos os taxistas, as farmácias, os bares e restaurantes, que podem ser beneficiados.

O IBGE divulgou esta semana uma pesquisa que mostra que as vendas do varejo restrito no RN – que não inclui materiais de construção e veículos – subiram 10,2% em setembro, segundo maior crescimento no Nordeste. É um crescimento sustentável?
Nossa expectativa é sim que as vendas continuem subindo. O comércio é a mola mestra da economia. Tenho sensação de que cresceremos mais.

Dá para falar num percentual?
Acredito que o crescimento fique em torno de 10 ou 12%.

Há uma razão para o RN ter crescido mais que o país e até que Estados como a Bahia, por exemplo?
Temos uma realidade interessante, que é a nova classe média, que vem dos micro e pequenos empreendedores individuais. Esse acesso a bens duráveis e aumento do salário mínimo. Você tem o ganho real da população.

O crescimento da classe média ajuda a explicar o crescimento no Brasil. Mas e no Rio Grande do Norte?
O número do RN me assusta. Eu não consigo entender Pernambuco, por exemplo, recebe muito mais investimentos. Ceará está crescendo, Pernambuco está crescendo e o RN está estagnado. Esses números são bem curiosos. Não tenho dados para me contrapor. Mas os dados que tenho mostram Ceará e Pernambuco sempre na frente.

Apesar do crescimento nas vendas do varejo restrito e ampliado, há algo que amarra um maior crescimento no RN?
Isso é uma questão de governo. Falta uma ação mais contundente. Falta um governo que esteja preocupado com o RN. Precisamos de uma ação mais pró-ativa do governo, no sentido de grandes obras estruturais. Pensar a economia de forma mais ampla, fechar mais parcerias com o governo federal.

A assinatura de mais convênios com o Governo Federal e a execução de grandes obras poderiam desamarrar nosso crescimento?
Sim, mais do que isso. Natal é a cidade-sede da Copa mais atrasada. Não só a arena, mas as obras de mobilidade. Onde estão? Algumas estão com o governo e outras com o Município. Temos o aeroporto, mas sem acesso.

Os incentivos do Governo – queda nas taxas de juros, redução do IPI para alguns produtos, redução na energia elétrica a partir de 2013, já começaram a surtir efeito no mercado?
A redução da tarifa da energia elétrica é a grande questão, porque atinge não só o empresário, mas a toda a sociedade. Mas ainda não dá para mensurar os seus efeitos.

Que efeitos vai trazer para os empresários? Vai conseguir baixar preços? Aumentar vendas?
Com o setor de automóveis está acontecendo isso.

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